Neta de Flordelis é ouvida

Brasil

A terceira a ser ouvida foi Rayane. Por cerca de 1 hora, a neta da pastora e filha de Simone afirmou que sofreu episódios de abuso sexual por parte do pastor Anderson do Carmo. Ao responder perguntas da defesa, ela disse, quando estava em Brasília, ter acordado com o avô no quarto.

— Eu estava em Brasília porque ele me deu essa oportunidade. Tinha medo de contar, esse assunto vazar e eu perder essa oportunidade.  Depois da morte, contei para minha mãe, para a Flor, para a Lorrane. Já não estava mais aqui, então falei: ‘agora posso falar’. Minha mãe (Simone) nunca tocou no assunto. Sempre falou que não tinha o que fazer.
Ela disse ter presenciado situações na casa da família, em Niterói, no Rio de Janeiro.
— Presenciei essas situações que até já foram ditas aqui sobre a minha mãe (Simone), de desespero dela, de estar em casa e meu telefone tocar, e ser ela (mãe). Sempre passando a mão nas pernas, tudo que foi dito aqui, infelizmente, é verdade. E da Kelly.

Nesta semana durante o julgamento, o nome de Kelly foi citado por outras testemunhas, como Daiane Freires,que disse saber que a irmã era  abusada por Anderson do Carmo. Kelly teria contato para a mãe e ouvido: “Se a mulher está ciente que o marido procura outra, não é pecado”. Hoje, Rayane disse que Kelly contou a ela, uma semana antes de casar, que sofria abusos. A neta afirmou ter contado para a avó e ela não acreditar. Isso contradiz o que foi ditos, minutos antes por Flordelis durante o interrogatório, de que teria tomado conhecimento apenas após a morte de Anderson.
Rayane nega duas acusações contra ela: a de que teria pedido para Erica dos Santos de Souza o contato de um bandido e também de que teria contratado um matador para executar Anderson, em um plano anterior para assassinar a vítima.

De acordo com o advogado Rodrigo Faucz, que defende Flordelis e outros três réus, os acusados só responderão às perguntas feitas pela própria defesa e pelos jurados. Os membros do Ministério Público e o assistente de acusação não poderão fazer questionamentos aos acusados.
Primeiro a ser ouvido, às 10h27, em seu interrogatório, questionado pela advogada Janira Rocha, André Luiz narrou que chegou à casa de Flordelis quando a ex-deputada ainda morava na favela do Jacarezinho, nos anos 90. Na época, ele era adolescente e se tornou filho afetivo da pastora. André se casou com Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, com quem teve três filhos biológicos — Lorrane, Rafaela e Ramon. Eles ainda têm uma filha afetiva, Rayane dos Santos de Oliveira, e um adotivo, Moisés. Rayane e Simone também são rés pela morte de Anderson do Carmo.

Apesar de ter apenas um ano a menos do que Anderson, André se refere ao pastor como pai. Ele afirma que desde o início, ao chegar à casa de Flordelis, a vítima já tinha uma posição de liderança na família.
André negou a existência de rituais na casa, inclusive envolvendo sexo, e também que tenha passado por uma “lavagem cerebral”. Ele também negou que Flordelis impedisse que ele tivesse contato com sua família biológica.
— Pelo contrário. Ela incentivava. Pedia que eu fosse ver minha família — afirma.

A advogada continuou com perguntas sobre a relação de Anderson e de Flordelis dentro e fora de casa. Uma delas sobre se André presenciou, alguma vez, agressões do pastor à ex-deputada.
— Agressão física não, mas meu pai era rígido na palavra, no falar. Minha mãe estava falando algo e ele interrompia. Sempre foi nesse tom. Houve momento dele afastar ela de situações quando eles estavam discutindo alguma coisa — respondeu André.
 
Ao ser perguntado se Flordelis tinha autonomia sobre o dinheiro da casa, o filho afetivo negou e disse que até mesmo a verba vinda da arrecadação das igrejas, que tinham o nome da ex-deputada, era controlada. segundo André, era arrecadado R$ 170 mil por mês com os espaços religiosos.

— Não. Quem comandava a igreja era meu pai e Misael. Eles que comandavam o dinheiro. Gastos, o que comprava, o que não comprava. O que pagava, o que não pagava. Eu era tesoureiro, mas minha função era fazer o que eles pediam.
Em seu interrogatório durante as audiências de instrução e julgamento do processo respondido por ele, André ficou em silêncio e não deu qualquer declaração.

Fonte: Jornal Extra