Atos terroristas: vídeos inéditos mostram recuo de policiais militares que facilitou acesso de invasores ao STF

Política

Imagens foram registradas pelo circuito interno de monitoramento do STF e divulgadas pela Corte nesta quarta-feira (25). Para especialistas, houve falhas na atuação da PM.

Vídeos inéditos registrados por câmeras do circuito interno do Supremo Tribunal Federal (STF) e drones mostram que policiais militares do Distrito Federal recuaram diante de bolsonaristas radicais, o que facilitou o acesso dos vândalos ao prédio da Suprema Corte.
As gravações são do dia 8 de janeiro, quando as três sedes dos Poderes em Brasília foram vandalizadas. As imagens inéditas foram divulgadas pelo STF à imprensa nesta quarta-feira (25). Investigadores da Polícia Federal já haviam tido acesso ao material logo após os atos. Segundo a Corte, mais de 10 horas foram encaminhadas à PF.
Uma das gravações mostra que, na via ao lado do Congresso Nacional, a PM fazia uma contenção com homens, grades e viaturas. Os invasores estavam nas proximidades do prédio que sedia o Legislativo.
Pouco tempo depois, os policiais entram nos carros e retiram as viaturas. Fica apenas um pequeno grupo de policiais. A gravação se encerra

Especialistas em segurança ouvidos pela TV Globo avaliam que houve uma falha de atuação da Polícia Militar do DF para evitar o avanço dos bolsonaristas radicais.
O g1 perguntou à PMDF o motivo do recuo, mas não havia obtido resposta até a última atualização desta reportagem.
Também foi divulgado vídeo que mostra policiais militares chegando ao STF e demorando a formar um cordão de proteção ao prédio.

Em outra gravação, é possível ver que o STF emprestou equipamentos para a PM, como capacetes e cassetetes.
O grupo radical se aproxima do STF. Segurança do Supremo jogam bombas. É possível ver vândalos bolsonaristas com máscaras e encapuzados derrubando grades de contenção

Os bolsonaristas também utilizaram, conforme mostram as imagens, grades de contenção e barras de ferro para quebrar vidros do STF e acessar o prédio

A retomada do STF só começa por volta das 16h30, com a chegada de uma equipe especial da Polícia Federal. A invasão começou por volta de 15h25.

A TV Globo apurou que os vidros do STF já tinham um sistema antivandalismo e a Corte estuda adquirir novos vidros com blindagem.
Segundo levantamentos feitos nos prédios vandalizados, o prejuízo para o STF é de, ao menos, R$ 5,9 milhões.

Ações na área interna do STF
As imagens divulgadas também mostram os vândalos entrando no edifício-sede do STF após quebrarem os vidros do Salão Branco, localizado próximo ao plenário. O local dá acesso ao corredor em que são guardadas as togas dos ministros.
O vídeo mostra os vândalos tentando arrancar uma das portas dos armários que guardam a vestimenta dos ministros. Um dos golpistas, ao perceber que estava sendo gravado, atira um objeto contra a câmera e a derruba.

Outro vídeo mostra integrantes da PMDF no interior da sala onde bustos históricos são expostos. O local fica em uma das entradas do edifício sede, de frente para a Praça dos Três Poderes. É possível ver manifestantes se aproximando ao fundo.

Bombas não-letais são disparadas do lado de fora. Quando bolsonaristas se aproximam da entrada, não encontram resistência. Os radicais derrubam os detectores de metal e um deles ergue um exemplar da Constituição. Outro golpista percebe a câmera de segurança e a derruba com uma maca hospitalar.
Gravação também divulgada pelo STF mostra golpistas saindo do plenário, que foi destruído, e se encontrando com outros que haviam entrado pela sala em que estavam expostos os bustos (veja no vídeo abaixo). Eles derrubam cadeiras e um painel. A água que inundou o plenário começa a escorrer para fora.

Um dos vândalos usa uma mangueira para atenuar os efeitos do que parecer ser gás lacrimogêneo, danifica uma obra de arte chamada do artista plástico Masanori Uragami e inunda o corredor de acesso ao plenário.
Ainda nas imagens, é possível ver um dos golpistas saindo com uma toga utilizada por ministros da Corte

vândalos quebrarem câmeras de transmissão da TV Justiça
um homem com luvas exibindo exemplar da Constituição de 1988
preocupação dos invasores em esconder o rosto e quebrar câmeras de monitoramento
um vândalo usando uma mangueira para danificar obra de arte do STF
bolsonaristas radicais filmando com aparelho de celular, tomando água, orando e comemorando os atos

Reações
No dia dos atos terroristas de 8 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou intervenção federal na Segurança Pública do DF, medida avalizada posteriormente pelo Congresso.
O Supremo Tribunal Federal afastou o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), por 90 dias.
O secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, foi exonerado e preso. O comandante da PM no dia dos ataques golpistas, coronel Fábio Augusto, foi preso e destituído da função.
Até o momento, cerca de mil pessoas suspostamente envolvidas nos atos golpistas estão presas.
A Justiça Federal já determinou o bloqueio de mais de R$ 18 milhões em bens de pessoas e empresas que teriam participado do ato. Os recursos seriam utilizado para reparar os danos aos prédios do Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e do Congresso.

Fonte: G1