Os bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles devem se reunir com representantes dos credores da Americanas na próxima semana. Segundo o jornal Valor Econômico, Sicupira e Telles já estariam no Brasil. Já Lemann, que mora na Suíça, chegaria ao país nos próximos dias. Se confirmada a visita, será a primeira negociação direta entre os acionistas de referência, que detém 31% das ações da Americanas, e os detentores das dívidas de R$ 47 bilhões da varejista. Fontes dizem que a primeira decisão do trio, quando o rombo de R$ 20 bilhões no balanço veio à tona, ainda em meados de janeiro, foi a de incumbir Sicupira pelas negociações. Nas últimas duas décadas, o Telles e Lemann teriam deixado as decisões estratégicas relacionadas à Americanas nas mãos do sócio. Com a escalada das disputas judiciais entre os bancos e a varejista, Telles e Lemann decidiram também tomar frente das negociações. Parte dessa decisão se deve ao perfil “linha dura” de Sicupira, considerado um obstáculo para que as negociações caminhassem para um campo mais ameno.
Os bancos, principais interessados na reunião que deve ocorrer nos próximos dias, têm dívidas de mais de R$ 25 bilhões com a Americanas. O Bradesco, maior credor, a quem a varejista deve R$ 4,7 bilhões, trava uma batalha na Justiça para instaurar uma investigação independente dentro da Americanas. O objetivo é apurar quem foram os responsáveis pela maquiagem contábil no balanço. Capitalização e empréstimo ponte A primeira oferta do trio de sócios deve ser o aporte, por meio de um empréstimo-ponte, de US$ 1 bilhão (ou R$ 5 bilhões) para garantir que a Americanas tenha condições de continuar operando. Nos termos técnicos, tal empréstimo é chamado de DIP (sigla para o termo em inglês debtor in possession). No Brasil, o mecanismo já foi usado pela OGX e pela Oi, empresas que também passaram por um litigioso processo de recuperação judicial.
Se aceitarem a proposta dos sócios da Americanas, os bancos dividirão o posto de credores com o trio de bilionários. De acionistas, Lemann, Sicupira e Telles também passariam a ter algo a receber da Americanas. O dinheiro seria usado para fazer a roda da empresa girar, uma vez que, sem caixa e com os fornecedores exigindo pagamentos à vista, a Americanas corre o risco de não conseguir comprar mercadorias novas, o que inviabilizaria sua operação. A questão é que, pela lei, todo crédito que é tomado depois de um pedido de recuperação judicial deve ser pago antes das dívidas feitas em datas anteriores à do pedido de reestruturação. Essa estrutura vale ainda mais para o DIP, pois o crédito é concedido sabendo-se que a situação da empresa é muito delicada. Falência Ou seja: se colocarem os bilhões na Americanas no formato de um crédito-ponte, Lemann, Sicupira e Telles terão prioridade para receber esses recursos de volta, passando na frente dos bancos, caso a varejista vá à falência. O que os bancos querem mesmo é que o trio de acionistas coloque dinheiro na Americanas no formato de uma capitalização. Lemann, Sicupira e Telles comprariam novas ações da empresa, ficariam com uma participação maior no negócio, e o dinheiro arrecadado iria para o caixa, para manter a operação da empresa. Os bancos teriam exigido cerca de R$ 15 bilhões, enquanto os sócios, em uma proposta feita logo no início, antes de toda batalha judicial com os credores, teriam ofertado algo como R$ 6 bilhões. O que se diz agora é que não dá para saber nem se os R$ 6 bilhões estão na mesa mais, e as negociações estão praticamente paradas. Espera-se que o encontro desta semana mude a situação.
Fonte: Portal Marcos Santos