Bárbara Maciel largou emprego e faculdade de Arquitetura para desenvolver peças manuais. Atualmente, produz 300 joias por mês e soma 110 mil seguidores nas redes sociais.
Quem observa a experiência com que Bárbara Maciel, em meio a ferramentas e mãos sujas de metais, produz, manualmente, 300 joias em prata e ouro por mês, pode claramente pressupor que ali há uma longa caminhada no ramo, mas a narrativa não é tão linear assim. O ateliê, que teve as paredes levantadas pela jovem de 28 anos dentro da garagem da própria casa, guarda uma história de mudança repentina de vida e de carreira para concretizar o sonho de se tornar uma design artesanal.
De origem humilde, Bárbara, que mora em Campinas (SP), se encantou com o primeiro contato que teve com a produção de joias artesanais em 2020 e renunciou à várias zonas de conforto para descobrir a nova profissão. A artesã largou a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, o emprego de projetista em uma rede de materiais de construção e vendeu o Fiat Uno 89 que tinha para construir com as próprias mãos o seu novo espaço de trabalho.
O resultado disso? O ofício dos sonhos, centenas de pedidos, 110 mil seguidores na redes sociais e faturamento de R$ 1 milhão em menos de dois anos. “Eu não consigo nem descrever a alegria que é, porque eu sempre dei o meu melhor e eu nunca fui uma pessoa que esperou muito das coisas, e tudo foi surgindo de uma forma tão grande e impactando as pessoas de uma forma tão bonita, que eu sinto que eu estou vivendo um sonho nos últimos meses”, afirmou a jovem.
O ímpeto de aprender mais sobre a profissão de design de joias veio em um contato com um cliente joalheiro na loja em que trabalhava e, além disso, quando encomendou um presente e teve as expectativas frustradas. A partir daí, ela percebeu uma falta de bons profissionais na área, pesquisou sobre o ramo na internet e se identificou. Pouco tempo depois, procurou um curso para se especializar.
“Eu me encantei com a joalheria artesanal logo no primeiro contato que eu tive, por vídeos na internet mesmo. Eu sentia que eu precisava mudar os ares, faltava alguma coisa. Eu me encontrei totalmente nessa área”, lembrou. À época da mudança de carreira, a pretensão da jovem era apenas equiparar o salário que recebia no antigo emprego, de R$ 1,6 mil
A artesã iniciou o curso pouco antes do início da pandemia da Covid-19, em 2020, e aproveitou o período mais agudo de quarentena para fazer um intensivo com o professor. Durante o período, todas as joias produzidas foram vendidas para seus amigos no Instagram e, com o dinheiro, ela comprava mais prata para fazer outras peças. Depois de 15 dias, decidiu que pediria demissão.
“Acabei tirando uma grana bem legal de encomendas para amigos mesmo e foi nesse momento que eu parei e pensei ‘cara, acho que é isso que eu quero fazer da minha vida’, porque esses foram os melhores 15 dias que eu já tive. “Peguei todo o dinheiro da minha rescisão, vendi carro e acabei comprando a oficina completa daquele cliente joalheiro que foi o meu primeiro contato. Com a ajuda de um tio, comecei a construir meu ateliê na garagem. Gastei ao todo R$ 11 mil”, revelou.
Atualmente, Bárbara produz todas as peças no ateliê, vende pela internet e envia para o todo o Brasil e exterior. Confiante no contato direto com o cliente, a joalheira não pensa em contratar ninguém para ajudá-la.
“Sou eu que faço tudo. As joias, os posts na rede social, eu que atendo todo mundo e tento entender a necessidade de cada um. Prezo muito pelo atendimento e acho que isso é o grande diferencial e uma das coisas que explicam o crescimento do ateliê”, disse.
Joias únicas
Devido ao processo artesanal, as peças produzidas por Bárbara são únicas e tudo é feito manualmente do começo ao fim. Atualmente, o prazo para a entrega das joias é de 65 dias úteis, sem pronta-entrega.
“Cada um é um indivíduo único e particular e eu acredito que a joalheria tem que representar isso também. Não é um molde replicado, é feita pra você”, contou.
Entusiasta de histórias de amor e até conselheira dos clientes, a joalheira cuida da produção com muito carinho e atenção. Uma das características do trabalho é, inclusive, utilizar a matéria-prima dos outros clientes ao invés de ouro de mineiração para dar mais personalidade aos itens e também contribuir com o meio ambiente.
“Além de ser melhor para o meio ambiente e também mais barato, é muito bacana utilizar peças que foram feitas para os seus avós, por exemplo, e personalizá-las pra você, na sua história”, pontuou.
Contato com a arte e pés no chão
Desde pequena, a artesã sempre foi apaixonada pela arte. Atualmente, é nela que encontra inspirações para novas coleções.
“Cada obra de arte é única, assim como o olhar de cada um e é isso que me faz ser tão apaixonada. E trabalhar com a arte me proporciona isso, me trazendo novos olhares e perspectivas todos os dias”, detalhou.
Apesar de ter faturado o primeiro milhão, Bárbara decidiu não fazer nada com o dinheiro por enquanto. “Continuarei tratando números como números e pessoas como pessoas. Quero que continue sendo algo acessível, de forma que continue contemplando todo mundo que me ajudou nesse caminho, que fez o ateliê crescer”, finalizou.
Fonte: G1