Minha Casa, Minha Vida: tamanho médio dos lançamentos de SP diminuiu 5 m² em cinco anos

Economia

Área útil média desses empreendimentos passou de 40,9 m² para 35,6 m², com encolhimento de lavanderias e corredores.

O tamanho médio dos lançamentos residenciais do Minha Casa, Minha Vida (ou do Casa Verde Amarela) na cidade de São Paulo diminuiu 5,3 m² em cinco anos, segundo o Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis da capital paulista. O levantamento foi feito a pedido do g1.

Em 2018, a área útil média desses empreendimentos era de 40,9 m². Em 2022, ela caiu para 35,6 m².

Metragem média dos lançamentos residenciais econômicos em SP
Tamanho médio diminuiu mais de 5m² na capital paulista

2018
2019
2020
2021
2022 (até nov.)
0
40
30
20
10
5
45
35
25
15
40.9
40.9
37.7
37.7
35.5
35.5
35.9
35.9
35.6
35.6

Na cidade, que tem boa parte dos bairros com o metro quadrado mais caro do Brasil, há apenas quatro incorporadoras que atendem o mercado de projetos econômicos: Cury, MRV, Plano & Plano e Tenda. Dentre elas, a que mais reduziu o tamanho dos lançamentos foi a Plano, que passou de 40,2 m² em 2017 para 33,3 m² em média em 2022.
Segundo a diretora de incorporação da empresa, Renée Garófalo Silveira, o principal motivo para a queda da metragem dos apartamentos lançados é a renda disponível das famílias. De acordo com ela, dois fatores explicam a questão:

O aumento do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) encareceu o valor da unidade;
A alta da taxa básica de juros e a deterioração da renda tornaram o financiamento mais caro.
Metro quadrado caro, famílias no limite
O custo agregado da construção subiu 35,37% entre 2020 e 2022. Mas, dentro desse índice, há componentes que tiveram aumentos mais expressivos, segundo a pesquisadora Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção na Fundação Getulio Vargas (FGV).
O preço dos materiais saltou quase 60% no período (57,97%). E, se desagregarmos ainda mais os dados do setor, é possível encontrar saltos maiores. É o caso, por exemplo, do preço do vergalhão (chapas de aço usadas na construção), que teve aumento de 80,7%.
No ano passado, contudo, o que puxou o aumento dos preços de construção foi a alta de preços da mão de obra. “Tudo isso repercute no orçamento das obras e desorganiza as empresas. Se pensarmos no programa, que tem valor do imóvel limitado, é uma questão mais complicada”, diz Castelo.
A especialista diz que os efeitos no mercado de imóveis de médio e alto padrão são menores, pois é mais fácil repassar os custos para o valor final do imóvel. No caso de exemplares do programa Minha Casa, Minha Vida, esse repasse não funciona, seja porque fura o teto permitido ou porque as famílias não têm dinheiro para pagar o custo mais alto.

Em março do ano passado, o g1 publicou uma reportagem que mostrava como o aumento da taxa básica de juros (que passou de 2% para quase 14%) corroeu o poder de compra das famílias de baixa renda. Na ocasião, o gerente comercial de uma construtora do Rio de Janeiro disse que qualquer aumento na taxa de juros já inviabilizava o financiamento porque os clientes de baixa renda têm acesso menor de crédito.
Empreendimentos do programa habitacional Casa Verde e Amarela (que substituiu o Minha Casa, Minha Vida no governo Jair Bolsonaro) perderam participação no mercado tanto nos lançamentos quanto nas vendas no último ano.

Os últimos dados divulgados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) são do terceiro trimestre de 2022. Em relação ao mesmo período de 2021, os lançamentos caíram 27,9%. E as vendas, 17,6%. Neste período, eles representaram só 34% das unidades lançadas. No primeiro trimestre de 2021, por exemplo, casas e apartamentos do programa chegaram a ser 56% do total lançado.
O fraco desempenho do setor também mexeu nas margens das empresas. Segundo o levantamento do TradeMap, três entre as quatro registraram diminuição do lucro líquido em 2022: Tenda, MRV e Plano. A Cury foi a única com lucro maior em 2022 do que em 2017.

Os 5m² a menos dos apartamentos do Minha Casa, Minha Vida resultaram no aperto das lavanderias e sumiço dos corredores nos imóveis da Plano.
Antes, as lavanderias eram uma área anexa às cozinhas. Nas novas plantas da incorporadora, elas invadem o espaço das cozinhas, ficando de frente para a bancada da pia e geladeira.
Já os corredores que costumavam ligar os grupos cozinha-lavanderia e sala-quarto-banheiros foram muito diminuídos. Nos apartamentos de apenas um dormitório, o banheiro fica dentro do quarto para também apresentar ganho de espaço.
Para tudo funcionar da melhor maneira, o comprador vai precisar planejar os móveis e a disposição do ambiente pra ganhar mais espaço. Mas móveis feitos sob medida costumam ter valor mais alto, que pesa no bolso de quem já suou para encaixar a parcela do imóvel no orçamento.

Fonte: G1