Ação da Rússia, que começou em 24 de fevereiro de 2022, causou milhares de mortes e obrigou milhões de ucranianos a deixarem suas casas no pior confronto dentro da Europa desde a 2ª Guerra Mundial.
A guerra na Ucrânia, que começou há exatamente um ano e não deve acabar tão cedo, matou milhares, reduziu cidades inteiras a escombros, fez milhões de refugiados e alimentou temores de uma nova guerra mundial envolvendo armas nucleares da Rússia e dos Estados Unidos.
A invasão, que começou com bombardeios constantes e rápido avanço de tropas russas, passou por um período de estagnação, uma contraofensiva das tropas da Ucrânia e ataques a infraestrutura energética.
Veja abaixo as quatro diferentes fases da guerra:
1ª fase – início da invasão russa
24/02/22 – 07/06/22
Invasão russa começa por várias frentes de batalha
Em poucos dias, parte considerável do território da Ucrânia é dominado
Prédios militares e civis são alvos de bombardeio por todo o país
Kiev não é tomada, apesar de centenas de tropas russas ao redor da capital
Bucha, cidade próxima a Kiev, é palco de uma matança de civis realizada pelos russos
Mariupol fica cercada por 3 meses, sem abastecimento de água e comida, até ser dominada
pela Rússia
2ª fase – impasse no leste
08/06/22 – 28/08/222
Exército russo se retira dos arredores de Kiev
Batalhas se concentram na região de Donbass
Ucrânia demonstra grande capacidade defensiva
Não há grandes avanços territoriais, mas bombardeios continuam
Usina nuclear de Zaporizhzhia foi alvo de disputas e houve risco de desastre nuclear
3ª fase – contraofensiva da Ucrânia
29/08/2022 – 11/11/22
Após período de impasse, tropas ucranianas reagem
Grande parte do território próximo a Kharkiv é reconquistado
Tropas russas deixam a cidade de Kherson, no Sul
Nesse período, a Rússia conduz referendos ilegais para anexar 4 regiões: Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson
4ª fase – ataque a usinas
12/11/22 – hoje
Rússia direciona ataque à infraestrutura de energia
Metade de Ucrânia passa a sofrer com falta de luz
Aquecimento e abastecimento de água também são afetados
Situação é agravada pelo intenso inverno ucraniano
Próxima fase? – possível ofensiva da Ucrânia
EUA e Alemanha oferecem tanques de batalha modernos para a Ucrânia
Especialistas acreditam que a Ucrânia pode deixar posição defensiva, para ser mais ofensiva
No entanto, isso depende da chegada dos tanques e do treinamento das tropas ucranianas
Ajuda financeira – como a Ucrânia vai pagar por isso?
Apesar de a Ucrânia não fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), os países membros estão entre os principais apoiadores na luta do país contra a Rússia.
Liderados pelos Estados Unidos, os países da Otan possuem um acordo de que “o ataque contra um é um ataque contra todos”. No caso da Guerra na Ucrânia, a ajuda é de forma indireta, fornecendo armamentos, munição, informação e apoio humanitário, já que o país não é membro.
Parte da ajuda foi oferecida como doação, mas a maioria é na forma de empréstimos e financiamentos, que deverão ser pagos pela Ucrânia no futuro.
Por exemplo, um pacote de apoio da Comissão Europeia de €18 bilhões deverá ser pago em 35 anos, a começar em 2033. Só que o principal objetivo desse fundo é que a Ucrânia consiga continuar pagando empréstimos já existentes, como a dívida que ela tem com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Seria uma forma de adiar e diluir o pagamento da dívida.
O dinheiro oferecido pelos Estados Unidos também terá que ser pago após a guerra, mas isso pode ser feito ao contratar empresas americanas para reconstruir a Ucrânia. Inclusive esse é o método preferido pelo governo americano, semelhante a acordos que foram feitos com países europeus após a 2ª Guerra Mundial.
Refugiados – uma Ucrânia vazia e destruída
Como consequência da guerra, cerca de 35% dos ucranianos tiveram que deixar suas casas, sendo que 20% estão fora do país. Segundo a ONU, esse é um dos maiores deslocamentos humanitários do mundo hoje.
Apenas 13% dos 8 milhões de refugiados disseram que pretendem voltar para a Ucrânia nos próximos 3 meses, segundo uma pesquisa da ONU. Sendo que 33% pretendem fixar moradia nos países que os receberam.
Somam-se a esses números os deslocados internos. São aquelas pessoas que tiveram que sair de suas casas, mas não deixaram o país. Os ‘refugiados’ ucranianos que continuaram dentro da Ucrânia. A ONU registrou 6,8 milhões de deslocados na sua mais recente contagem.
A ONU fez uma pesquisa com os deslocados internos perguntando como estava a situação de suas moradias quando as deixaram. É uma pesquisa de percepção pessoal, mas serve como panorama do tamanho da destruição do país:
O Alto Comissário da Agência da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, fez no final de janeiro uma visita de seis dias pelos locais mais afetados da Ucrânia:
“Fiquei chocado com o nível de destruição que vi como resultado dos mísseis e bombardeios russos.”
“A infraestrutura civil, como usinas de energia, sistemas de água, jardins de infância e prédios de apartamentos foram danificados ou destruídos. Civis, incluindo crianças e idosos, foram mortos ou fugiram de suas casas, tendo suas vidas inteiras arrancadas por esses ataques sem sentido”, disse Grandi.
A seguinte notícia:
Região ucraniana pró-Rússia é alvo de disputa entre Kiev e Moscou. Putin autorizou ação militar; Ocidente pede recuo e impõe sanções.
Parece ser de fevereiro de 2022, não é? Mas na verdade o texto é parte de uma reportagem publicada em 2014 no g1, quase 10 anos antes da atual invasão, quando a Rússia anexou a região da Crimeia.
As publicações de 2014 e 2022 possuem muitas semelhanças. Veja abaixo alguns exemplos:
Em 2014, o estopim para a crise foi o presidente ucraniano na época, Viktor Yanukovich, desistir de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações comerciais com a Rússia. Isso gerou revolta dentro da Ucrânia, onde grande parte da população queria se aproximar do Ocidente. A maior consequência dessa crise foi a separação da região da Crimeia, que tinha forte ligação com a Rússia.
Após a adesão da Crimeia ao governo de Moscou, outras áreas do leste da Ucrânia, de maioria russa, também começaram a sofrer com tensões separatistas. Grupos separatistas das regiões de Donetsk e de Luhansk lutaram contra as tropas ucranianas. A Rússia apoiou esses grupos. Mais de 14 mil pessoas morreram e em 2015 foi assinado um acordo de paz.
Só que foram as mesmas regiões separatistas que serviram de estopim para a invasão da Ucrânia em 2022, quando a Rússia decidiu reconhecê-las como repúblicas independentes no dia 21 de fevereiro.
Essa disputa tem um fundo histórico, pois a Ucrânia, assim como a Rússia, fez parte da União Soviética, mas também tem muito interesse comercial.
A Crimeia é um ponto estratégico importante de acesso ao Mar Negro. O Donbass, onde ficam Donetsk e Luhansk, é uma grande fonte de carvão e é uma área industrializada, com destaque para a metalurgia.
Além disso, grande parte do gás exportado da Rússia para a Europa passa pela região de Donbass. E o governo russo pagava para a Ucrânia pelo uso de seu território.
Quando o atual presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, começou a se aproximar do ocidente, Putin mobilizou seu exército para a invasão, no que ele chama até hoje de “operação especial” com o objetivo de “desnazificar e desmilitarizar” a Ucrânia.
Putin também declarou preocupação com o avanço da fronteira dos países ocidentais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que está cada vez mais próxima da Rússia.
Se é realmente uma preocupação militar ou uma decisão mais econômica, fica difícil saber. Assim como não é possível afirmar quando a guerra vai acabar.
Especialistas ouvidos pela BBC dizem que podemos esperar que o conflito continue ao longe de 2023. Como o inverno é intenso, eles acreditam que as tropas estejam se guardando para as investidas da primavera, que tem início em março. O que acontecer nesse período será fundamental para decidir o futuro da guerra.
A Rússia ainda não tem total controle sobre as áreas que ela anexou no referendo ilegal e pode tentar consolidar esse espaço.
A Ucrânia, por outro lado, está na expectativa de receber tanques de batalha modernos da Alemanha e dos EUA e podem decidir por uma ofensiva e consequente retomada dos territórios.
A terceira possibilidade é um acordo de paz ou cessar-fogo. Pode parecer improvável, já que os dois países disseram que pretendem continuar lutando. No entanto, o custo da guerra é alto e isso pode pesar para o lado russo do conflito, considerando que os países ocidentais continuam demonstrando interesse em seguir com apoio militar à Ucrânia.
Fonte: G1