Campanha da Fraternidade

Igreja

Já há alguns anos que grupos de direita assediam a CNBB por conta de suposta “preocupação exagerada” com as questões sociais do país. Os ataques repetem o jargão de que a CNBB é da “esquerda materialista” cega aos problemas espirituais. Essa ala prega que a Campanha da Fraternidade, a cada ano, se debruçaria sobre mais um tema mundano, como se ignorasse o plano transcendente.

A situação traz à mente crítica feita por Leão XIII na Rerum Novarum: “um certo número de homens que, fiéis ecos dos pagãos de outrora, chegam a fazer, mesmo dessa caridade tão maravilhosa, uma arma para atacar a Igreja”. Faz parecer, ainda, que haveria um problema de excesso de caridade no Brasil, que prejudicaria a contemplação e a ascese cristã. De fato, esses dois elementos estão debilitados no nosso país, mas a caridade não é a causa da debilidade, uma vez que é parte fundamental do cristianismo.

O tema da Campanha da Fraternidade de 2023 é a fome. O Brasil, em 2022, tinha mais de 30 milhões de pessoas passando fome. Na Quaresma, período de chamado mais intenso à conversão, o católico deveria tratar a solidariedade com os famintos como um apetrecho dispensável? Chamar a atenção para mazelas sociais, que ferem a destinação universal dos bens, num país tão sofrido como o nosso, seria atrapalhar o esforço de jejum, esmola e oração? Achamos que não.

A pobreza e o sofrimento estavam lá sempre “atrapalhando” a caminhada de Cristo. Os doentes o cercavam, o tocavam, gritavam nas estradas, despencavam do teto de onde Ele estava, e o povo o seguia por toda parte. Não se vê, porém, Jesus reclamando da inconveniência do aparecimento deles. É depois de atendê-los que Jesus os ensina a buscar mais do que saciedade de pão e exorta os curados a não pecarem mais.

São João Paulo II afirma, na Centesimus Annus, que se deve “superar a mentalidade individualista hoje difundida” através de “um concreto empenho de solidariedade e caridade”. Que a Campanha da Fraternidade nos importune, sim, no nosso jejum, com seus cartazes e denúncias da fome do pobre. Assim, sairemos mais fortalecidos quando nossa abstinência e oração for complementada de partilha e solidariedade com quem precisa.