Apóstolo dos órfãos, e com um profundo amor pelo Senegal, seus contemporâneos assim o definiam: “Se abrissem o seu coração, aí encontrariam um órfão e a Catedral de Dacar”
Daniel Brottier nasceu no dia 7 setembro de 1876, em Ferté-Saint-Cyr na diocese de Blois, norte da França. Muito cedo ele se mostrou atraído pela fé católica. Ainda criança disse para sua mãe que queria ser Papa e ela lhe respondeu que antes ele precisaria ser um padre. Não surpreende o fato de ter entrado no seminário e sido ordenado padre aos 23 anos.
Mas, não satisfeito de trabalhar para os católicos franceses, decidiu dedicar sua vida para levar o Evangelho aos não crentes. Com isso em mente, entrou na Congregação do Padres do Espírito Santo. Foi enviado como missionário para o Senegal, na África Ocidental, onde trabalhou com grande empenho e compromisso na paróquia de St. Louis, apesar de desejar ir para o campo e não ficar na cidade.
Devido aos problemas de saúde, foi chamado de volta à França em 1911, mas continuou a sua missão e envolveu-se no levantamento de fundos para a construção da catedral de Dacar, capital do Senegal. Entretanto, eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Brottier foi alistado nas forças francesas como capelão militar nas linhas de frente. Por quatros anos, assistiu os moribundos, cuidou dos feridos, deu assistência espiritual a seus compatriotas. No fim da Guerra foi condecorado com a Cruz da Guerra e com a Legião de Honra. Foi nessa qualidade que tomou parte nas batalhas da Lorrena, do Somme, Verdun e Flandres. Tendo sido um dos poucos afortunados que sobreviveram à guerra, reconhecia que tinha sobrevivido pela intercessão de Tereza de Lisieux, de quem era devoto.
Em 1923, o Arcebispo de Paris, Cardeal Dubois, pediu à Congregação do Espírito Santo para se ocupar dos Órfãos de Auteuil, uma obra que acolhia crianças desfavorecidas, muitas das quais viviam nas ruas de Paris. Prover amparo e educação para as crianças sempre foi, desde cedo, uma opção da Congregação do Espírito Santo que, frequentemente, criava orfanatos ao lado dos seminários e das escolas.
O Padre Daniel Brottier assumiu esse trabalho, junto com o Padre Pichon. Durante 13 anos viveu ao serviço dessas crianças e jovens. Acolheu-as, escutou-as e com elas experimentou a miséria de que padeciam.
Sobre este orfanato, o Padre Brottier escreveu: “Assim, elas chegavam cheias de confiança a Auteuil. Ouviam dizer que nesta casa, desde que houvesse espaço disponível, crianças como elas iriam ter alguma coisa para comer, beber e ainda um canto para dormir. Ainda mais, ouviam dizer que em Auteuil se podia aprender a trabalhar e a preparar-se para o futuro, de modo que não haveria mais motivo para falar de misérias vividas no passado. E que mais tarde elas poderiam formar suas próprias famílias, cheias de alegria e amor”.
Sem pensar em si mesmo, o Padre Brottier tentou dar a estas crianças um mínimo de conforto e formação para que pudessem ter uma vida normal viver como toda a gente:
“Acreditem em mim, tem de haver um mínimo de bem-estar e conforto para que esses jovens cresçam sem mágoas. Caso contrário, mais tarde eles irão lançar as sementes de revolta e anarquia na sociedade”.
Daniel Brottier encontrou uma aliada e amiga na sua vida e obra – Santa Teresa de Lisieux. Em Auteuil, projetou com a intercessão dela muitos caminhos da “tentadora Providência” para a realização e desenvolvimento do trabalho com os órfãos. Embora preponderantemente um homem de ação, o seu trabalho fluía de uma união prática e interior com Deus.
“Se a Providência Divina existe, se Deus se preocupa com os órfãos e as crianças abandonadas, se os pássaros dos campos e os lírios dos vales Lhe são caros, se os méritos de alguns podem servir para ajudar a outros, …então, nesse caso, devemos agir com essa fé. Não podemos duvidar da Providência. Devemos orar e agir… e com esse projeto podemos aplainar montanhas. Ir avante com total confiança em Deus. Ou temos fé ou não temos.”
O Padre Brottier faleceu no dia 28 de fevereiro de 1936, no Hospital de Saint Joseph, em Paris. Foi sepultado na Capela de Santa Teresa de Lisieux em Auteuil, no dia 5 de abril do mesmo ano. Foi declarado Venerável em 1983 e beatificado em 25 de novembro de 1984, pelo Papa João Paulo II.