ESCRAVIDÃO NAS VINÍCOLAS

Brasil Destaque

207 trabalhadores resgatados de trabalho análogo à escravidão. Essa é a manchete nos últimos dias, mais de 130 anos depois da abolição da escravidão no Brasil. Segundo os relatos, os trabalhadores são originários da Bahia e foram contratados com a promessa de um salário de cerca de R$ 4 mil para trabalharem nas vinícolas de Bento Gonçalves-RS.

A realidade foi bem diferente do prometido. Ao chegarem, foram informados que o alojamento seria descontado na folha de pagamento e que a falta a um dia de trabalho provocaria a perda da passagem de volta para casa, fazendo com que trabalhassem sob qualquer circunstância, inclusive doentes. Além disso, foi concedido um vale de R$ 400 (também descontado do salário) para despesas no mercado próximo, que pertence ao dono da empresa contratante e vendia produtos superfaturados. Soma-se ainda um dormitório insalubre, sem ventilação, marmitas estragadas, jornadas de trabalho extenuantes, ameaças e agressões físicas, que incluíam socos, mordidas, choque elétrico e spray de pimenta.

Como cereja desse bolo podre, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves, entidade representativa das empresas da região, emitiu uma nota absurda em que alega falta de mão de obra devido aos programas assistencialistas que mantém inativa “uma larga parcela da população com plenas condições produtivas”.

Nenhum empecilho econômico justifica tratamento desumano. Essa inadmissível correlação envolvendo programas de assistência social é mais um exemplo de que a “corda sempre arrebenta para o lado mais fraco”. Os trabalhadores continuam pagando o preço por problemas que não lhes compete resolver.

Não se trata de exigir “hotel 5 estrelas”, como disse um vereador de Caxias do Sul, mas de garantir o pleno acesso aos direitos trabalhistas, a um salário justo e a condições dignas. Para isso, é necessário superar a mentalidade escravocrata, que considera a dignidade do trabalhador como luxo, e dar pleno cumprimento ao disposto na encíclica Rerum Novarum: “quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do Cristão.”

Fonte: Comunhão Popular