Número de assassinatos de mulheres por causa do gênero bateu recorde em 2022. Casos mostram repetição de agressões, falta de proteção do Estado e desestruturação familiar após os crimes.
Francielle Guimarães Alcântara, de 36 anos; Camilla Figueiredo Alves, de 29; e Darlene Araújo, de 38. Essas são algumas das mulheres que perderam a vida em casos de feminicídio no Brasil em 2022. O número de vítimas desse crime aumentou 5% no ano passado e chegou ao recorde de 1,4 mil.
Os casos mostram a repetição de agressões, falta de proteção do Estado mesmo quando há medidas protetivas e a desestruturação familiar após os crimes. Feminicídios são cometidos geralmente por companheiros ou ex-companheiros, alguns pais dos filhos das vítimas.
Francielle foi torturada com choques elétricos e pauladas em frente ao filho, de 1 ano, pelo marido, Adailton Freixeira da Silva. Ele também arrancou os dentes da mulher com alicate de unha e a esfaqueou nas costas e na costela. O corpo foi encontrado em 26 de janeiro em Campo Grande (MS).
Após ser preso, Adailton confessou que punia a mulher quando se sentia “inseguro” no relacionamento, mas negou que a tenha torturado. Para o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MP-MS), além de impedir que Francielle saísse de casa e torturá-la, Adailton a matou por motivo torpe.
“Em mais de 10 anos de polícia, nunca vi um caso tão forte como este”, disse o delegado que recebeu o caso, Camilo Kettenhuber.
Já Camilla foi assassinada pelo ex-companheiro, Rogério Martins de Araújo, após o homem descobrir que Camila, com quem já não estava em um relacionamento, estaria grávida de outra pessoa. O crime ocorreu na frente do filho, de apenas quatro anos, em Diadema (SP).
Durante as investigações, os policiais descobriram que a moça já havia registrado Boletim de Ocorrência (B.O.) contra o ex-companheiro por violência doméstica.
Darlene, por sua vez, foi atacada com quatro facadas na frente dos filhos pelo companheiro em Laranjal do Jari (AP). Ela já tinha histórico de ser vítima de violência doméstica e chegou a ser ameaçada de morte pelo homem. O marido, inclusive, já havia sido preso três vezes em flagrante por crimes contra Darlene.
Segundo a polícia, o ataque ocorreu durante uma crise de ciúmes do marido, que estava com uma faca na cintura. Ele passou a questioná-la sobre traições e, descontrolado, deu as facadas. O homem afirma que agiu em legítima defesa.
Outro caso investigado como crime de feminicídio ocorreu no Rio Grande do Sul, onde um homem de 42 anos é suspeito de assassinar a ex-companheira, de 28 anos, com um tiro na cabeça na frente do filho e abandoná-lo em um posto de combustíveis. Além da criança abandonada, a mulher tinha outros três filhos.
Segundo o delegado que investiga o assassinato, o homem “alegou que ele sabia que estava sendo traído e que havia um plano para acabar com ele”. Os dois estavam em processo de separação, e o ex-marido já era alvo de uma medida protetiva.
Duas mulheres estranguladas no mesmo dia
No Distrito Federal, duas mulheres foram encontradas no mesmo dia mortas por estrangulamento. Os dois casos são investigados como feminicídio.
No primeiro caso, a vítima foi identificada como Luciana Gomes, de 35 anos. Segundo a Polícia Civil, ela foi morta pelo namorado, Eduardo Regis da Cruz, de 38 anos, preso em flagrante. Ela era mãe de gêmeos, de dois anos de idade, que conforme as testemunhas “estavam com sinais de que passaram a noite com frio e com fome”.
No outro caso, além do estrangulamento a mulher tinha sinais de violência sexual. O corpo de Adriana dos Santos Leite, de 49 anos, foi encontrado embaixo das árvores em uma área verde, perto de uma rodovia.
Na maior cidade do país, São Paulo (SP), Jenifer Cristina dos Santos Moreira foi assassinada com cinco tiros enquanto esperava o transporte da empresa para qual trabalhava. Alessandre Garcia da Silva, de 35 anos, confessou ter cometido o crime contra a ex-companheira.
Ao g1, o primo de Jenifer contou que ela e Alessandre terminaram o relacionamento havia três meses, e Jenifer tinha medida protetiva contra ele. Os dois se relacionaram por dois anos, e têm uma filha de 9 meses. Para a família, o relacionamento era conturbado.
“Ela vivia embaixo de ameaça. Ele ameaçava minha avó, minha tia, a filha mais velha dela, que era de outro relacionamento, e por conta das ameaças ela acabava cedendo e voltava. Chegou a deixar ela trancada na casa e ameaçava na frente da minha tia que ia matar ela. Ele sempre foi assim. Foram dois anos passando por esse pesadelo”, diz o primo Clayton Martins.
Outros casos em 2022
Elivânia Aparecida da Silva de 36 anos foi morta a tiros em Iúna (ES) na varanda da casa da mãe em setembro. Segundo a polícia e familiares, o suspeito do crime é o ex-marido da vítima, Evaldo dos Santos de 38 anos.
Já Mariana Almeida, de 23 anos, foi assassinada em março por um homem que se matou em seguida, em Terezópolis de Goiás (GO). Na época do crime, o delegado informou que a jovem e o homem não tinham qualquer relacionamento, mas ele estaria dando presentes e a perseguindo nos últimos dias, como se quisesse conquistá-la.
Fonte: G1