Valmir Maurici Júnior é acusado de violência física, sexual e psicológica contra a mulher. Ministério Público investiga o caso, e defesa do juiz nega ‘veementemente todas as acusações’.
A sogra do juiz Valmir Maurici Júnior, que está sendo acusado pela própria esposa de violência física, sexual e psicológica, afirmou que foi ameaçada pelo genro. Assim como a filha, a mulher também obteve uma medida protetiva na Justiça. O g1 revelou o caso com exclusividade nesta segunda-feira (27).
Maurici Júnior é juiz da 5ª Vara Cível de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele e a mulher, casados em 2021, estão em processo de separação. A defesa dela afirma que as agressões começaram depois dos seis primeiros meses de relação. O Ministério Público de São Paulo abriu investigação sobre o caso.
Tanto a mulher quanto a sogra do juiz conseguiram a medida protetiva com base na Lei Maria da Penha, em janeiro deste ano. A medida impede que Maurici Júnior se aproxime ou mantenha contato com a família da esposa.
Em entrevista ao repórter Giovani Grizotti no dia 27 de dezembro, a sogra do juiz contou que a primeira impressão que teve do genro foi a de um homem encantador, muito educado.
“Ele veio, ficou na nossa casa. Sempre brincando, interagindo com toda a família, levava a minha mãe quando estava em São Paulo até para o fórum”, contou.
A sogra relatou ainda que assistiu aos vídeos que mostram as agressões que a filha sofreu. O g1 teve acesso a imagens das agressões, ocorridas na casa em que os dois moravam em Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo.
“Está sendo difícil. Eu tive que assistir aqueles vídeos e ouvir aqueles áudios mais de 20 vezes porque eu não consegui acreditar”, disse.
A defesa de Maurici Júnior diz que o juiz nega veementemente todas as acusações. Leia a nota mais abaixo.
Ameaças
A mulher do juiz saiu de casa em 23 de novembro de 2022. Quando foi embora, levou consigo um cofre que guardava diversos arquivos, incluindo um vídeo de uma aparente relação sexual em que a vítima aparece com os pés e mãos amarrados.
A esposa de Maurici Júnior também conseguiu gravar com um celular um tapa que levou do juiz, além de xingamentos e empurrões.
A mãe da vítima conta que, depois que a filha saiu de casa com os registros, o juiz passou a fazer ameaças à família.
“Ele me ligou. Ele me disse assim: ‘eu sei onde você mora, eu sei onde seus filhos moram’. E muito xingamento, muita coisa horrível”, relatou.
Após passar a receber ameaças, a mãe da vítima procurou a polícia. Em depoimento, ela afirmou que foi xingada de “desgraçada, vadia e ratazana”.
Ainda à polícia, a mulher contou que estava com medo, que sofreu pressão psicológica e que chegou a tentar suicídio. Durante o depoimento, ela solicitou medidas protetivas.
Em entrevista ao repórter Giovani Grizotti, a sogra do juiz contou que continua com medo e que nunca imaginou que isso poderia acontecer.
“A gente tem muito medo, muito medo mesmo. Meus filhos se afastaram, porque minha filha tem um bebê.”
“Ele procurou várias pessoas da família, procurou amigos, sempre tentando denegrir a imagem dela [esposa], mas, ao mesmo tempo, passando a mensagem: ‘eu tô no controle, eu sei onde vocês estão’.”, relatou.
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O caso
A vítima, de 30 anos, conta que conheceu o juiz em outubro de 2020. Os dois se casaram no ano seguinte. A defesa dela afirma que as agressões começaram depois dos seis primeiros meses da relação.
O g1 obteve vídeos que mostram as agressões, ocorridas na casa em que os dois moravam em Caraguatatuba. Em um dos vídeos, o juiz dá um tapa na cabeça da esposa.
Já em outra gravação, ele dá empurrões, um chute e xinga a esposa, enquanto ela cai no chão. Os vídeos foram gravados com um celular da vítima, em outubro de 2022, segundo ela.
Em um terceiro vídeo, de abril de 2022, aparentemente gravado pelo próprio juiz, ele a submete a uma relação sexual — segundo ela, não consentida por não ter tido opção de escolha.
“Eu sofri todo tipo de violência com ele. Violência sexual, moral, física, psicológica. Ele usava de vários mecanismos para me deixar confusa”, contou.
Depois de sair de casa, em novembro de 2022, a mulher levou consigo um cofre. Segundo ela, Maurici Júnior mantinha o objeto no escritório da casa.
O fato de a vítima ter levado consigo o cofre fez com que o juiz acusasse a esposa de furto qualificado, resultando em um inquérito instaurado pela delegacia de Caraguatatuba.
O material do cofre foi encaminhado para perícia pelo Ministério Público, que investiga o caso.
O g1 apurou que o MP trata “os fatos noticiados” como “gravíssimos” e que o juiz “demonstrou comportamento violento, manipulador, desviado, e que potencialmente colocaria em risco” a integridade da vítima e dos seus parentes.
No mesmo parecer, o MP trata a mulher como “vítima” e o juiz, como “investigado”.
O que dizem os citados
Valmir Maurici Júnior, juiz
“A defesa técnica do magistrado, por seus advogados Marcelo Knopfelmacher e Felipe Locke Cavalcanti, nega veementemente os fatos que lhe são imputados e repudia com a mesma veemência vazamentos ilegais de processos que correm em segredo de Justiça.”
Tribunal de Justiça de São Paulo
“A assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, em relação à solicitação de informações, esclarece se tratar de Procedimento Investigativo Criminal que, dada a natureza do feito, tramita em segredo de Justiça.
O desembargador relator — sorteado dentre os integrantes do Órgão Especial — responsável pela condução do procedimento, já determinou a extração de cópias e remessa à Corregedoria Geral da Justiça, para adoção das providências administrativo-disciplinares que se entenderem cabíveis.”
Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, sobre o inquérito aberto em que juiz acusa a esposa de furto qualificado
“O caso segue em investigação pela Delegacia de Polícia de Caraguatatuba. A autoridade policial realiza a oitivas de testemunhas e diligências para esclarecer todas as circunstâncias dos fatos.”
Fonte: G1