Maria na História Salvífica

Igreja

“Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. “

O Papa São João Paulo II dedicou a sua catequese na Audiência Geral da quarta-feira, 2 de maio de 1979, ao tema: “Confio a Maria as vocações sacerdotais”, explicando que “a Igreja de todos os tempos, começando no Cenáculo do Pentecostes, rodeia sempre Maria de veneração especial e dirige-se a Ela com especial confiança.”

O Pontífice polonês recordou ainda que “a Igreja dos nossos tempos, mediante o Concílio Vaticano II, fez uma síntese de tudo o que se foi desenvolvendo durante as gerações”. Nesse sentido – explicou – o “capítulo oitavo da Constituição dogmática Lumen Gentium é, em certo sentido, uma “magna carta” da mariologia para a nossa época: Maria presente de modo especial no mistério de Cristo e no mistério da Igreja, Maria «Mãe da Igreja», segundo começou a chamar-Lhe Paulo VI (no Credo do Povo de Deus) dedicando-Lhe em seguida um documento à parte («Marialis cultus»).

Esta presença de Maria no mistério da Igreja, na vida quotidiana do Povo de Deus em todo e mundo destacou Wojtyla – “é sobretudo presença maternal. Maria, por assim dizer, dá à obra salvífica do Filho e à missão da Igreja uma forma singular: a forma maternal. Tudo o que se pode enunciar na linguagem humana sobre o tema do «gênio» próprio da mulher-mãe — o gênio do coração — tudo isso se refere a Ela.”

Pe. Gerson Schmidt*, aprofundando o tema de Maria na Lumen Gentium, nos traz a reflexão “Maria na história da salvação”:

“A LG, como conclusão da Constituição, apresenta as verdades teológicas sobre Maria. Não se trata de expor toda a doutrina sobre Nossa Senhora. Não é essa intenção do Concilio. Mas de inserir Maria no seu papel fundamental dentro da Igreja, na história da salvação dos homens. Por isso no número 54, lemos o seguinte: “Por isso, o sagrado Concílio, ao expor a doutrina acerca da Igreja, na qual o divino Redentor realiza a salvação, pretende esclarecer cuidadosamente não só o papel da Virgem Santíssima no mistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, mas também os deveres dos homens resgatados para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis. Não tem, contudo, intenção de propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos. Conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós”(LG, 54).

A Parte segunda desse capítulo mariano dentro da Lumen Gentium, nos aponta como título: “A VIRGEM SANTÍSSIMA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO”. Percorre a figura de Maria, a Mãe do Redentor no AT, na Anunciação, na infância de Jesus, na vida pública de Cristo, na sua paixão, após a ascensão, seu papel na Igreja primitiva, como cristã e discípula.

Vamos dissecando cada momento em que Maria participa na História da Salvação. Primeiramente como “A mãe do Redentor no Antigo Testamento”. Se você tem a Lumen Gentium você pode ir acompanhando nossos programas a partir do número 55 da Constituição. Diz assim esse artigo: “A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modo progressivamente mais claro e como que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente (cf. Gn.3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel (cfr. Is. 7,14; cf. Miq. 5, 2-3; Mt 1, 22-23). É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus. Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena”(LG, 55).

Aqui vemos os trechos do AT que falam desta mulher que será a Mãe do Redentor. A Revelação do AT vai pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente, em Gênesis, feita aos primeiros pais caídos no pecado. Diz assim a profecia bíblica de Gênesis, quando Deus diz à serpente, símbolo do diabo: “Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”(Gn 3,15). A Bíblia de Jerusalém, a mais fidedigna, apresenta ao pé da página uma nota, explicando esse versículo de Gênesis. Dizem assim os estudiosos e biblistas da Bíblia de Jerusalém: “O texto hebraico, anunciando uma hostilidade entre a raça da serpente e a da mulher, opõe o homem ao diabo e à sua “raça” e deixa entrever a vitória final do homem: é o primeiro vislumbre da salvação, o Proto-evangelho. A tradução grega, começando a última frase por um pronome masculino, atribui essa vitória não a linguagem da mulher em geral, mas a um dos filhos dessa mulher. Assim fica esboçada a interpretação messiânica que muitos Padres explicitarão (- entenda o ouvinte os Santos Padres da Igreja). Com o Messias fica implicada sua mãe, e a interpretação mariológica da tradução latina Ipsa conteret tornou-se tradicional na Igreja”.

O Concílio também lembra os profetas que apontam que de uma Virgem nascerá o salvação como apresentam claramente Isaias, Miqueias…Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Miq. 5, 2-3; Mt. 1, 22-23). Em Maria se cumprem as promessas dos antigos pais, dos profetas e das escrituras.”