Foto de grávida que morreu em Mariupol, na Ucrânia, vence World Press Photo 2023

Internacional

Fotografia, de jornalista ucraniano da agência Associated Press, retratou momento em que uma mulher prestes a dar à luz é retirada às pressas de uma maternidade bombardeada na cidade do sul da Ucrânia, que foi tomada pela Rússia. Grávida e bebê morreram depois.

Uma mulher prestes a dar à luz com uma ferida no quadril, a mão sobre a barriga e um olhar distante é carregada às pressas em uma maca improvisada.

Ela está deitada sobre uma manta vermelha, que constrata com o cinza do entorno – destroços da maternidade que acabava de ser bombardeada.

Resquícios de fogo e fumaça, árvores sem folhas, janelas sem vidro e aparelhos de ar-condicionado pendurados por fios completam o cenário.

A mulher é transferida para outro hospital. Ela vê seu bebê nascer morto e morre em seguida.

A imagem, uma das mais fortes em um ano de guerra da Ucrânia, foi a vencedora do World Press Photo, um dos principais prêmios de fotojornalismo do mundo. O prêmio foi anunciado nesta quinta-feira (20).

A foto, de autoria do jornalista ucraniano Evgeniy Maloletka, da agência de notícias norte-americana Associated Press, foi tirada em Mariupol, a cidade no sul da Ucrânia que sofreu a invasão mais agressiva e veloz por parte das tropas russas. A cidade foi tomada em dias, ficou sitiada e ainda está sob controle russo.

Maloletk, o produtor de vídeo Mystyslav Chernov e a produtora Vasilisa Stepanenko foram a única equipe de jornalistas que permaneceu em Mariupol após a Rússia fechar todos os acessos de entrada e saída.

Em 9 de março de 2022, 15 dias depois de tropas russas entrarem na Ucrânia, autoridades locais afirmaram que uma maternidade havia sido bombardeada. A Rússia afirmava se tratar de uma base onde se escondiam extremistas ucranianos – no início da invasão, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmava estar “libertando” o país vizinho do nazismo.

Mas Mariupol sempre foi estratégia para a Rússia – a cidade tem saída para o mar e seria uma ligação por terra entre a Rússia e a Crimeia, península ucraniana anexada por Putin em 2014.

A equipe de jornalistas mostrou mulheres em pleno trabalho de parto atingidas e correndo pelas escadas da maternidade. A foto que levou o prêmio retratou Iryna Kalinina, uma ucraniana de 32 anos que foi uma das feridas com mais gravidade.

Maloletk e seus dois colegas acompanharam a vítima até o hospital para onde ela foi levada e presenciaram os médicos noticiando que ela viu seu bebê, chamado Miron, nascer já morto em consequência dos ferimentos que Iryna sofreu na barriga.

Ela morreu em seguida.

“Para mim, é um momento que o tempo todo quero esquecer, mas não consigo. A história sempre ficará comigo”, disse Maloletka. “É importante que todas as fotos que fizemos em Mariupol se tornem evidências de um crime de guerra contra os ucranianos.”

Após o prêmio, a vice-presidente da Associated Press, Julie Pace, disse que o fotógrafo “capturou uma das imagens mais marcantes da guerra Rússia-Ucrânia em meio a circunstâncias incrivelmente desafiadoras”.

“Sem sua coragem inabalável, pouco se saberia sobre um dos ataques mais brutais da Rússia”, declarou.

Fonte: G1