O Patriarcado da Igreja Católica Greco-Melquita fica localizada em Damasco, na Síria. Apesar de sua ligação histórica com Antioquia, os melquitas não mais é de tradição siríaca como se poderia supor. Ou seja, seu Rito não é mais o Rito Antioqueno, mas sim o Rito Bizantino.
O Rito Bizantino (também chamado Rito Grego ou Rito Constantinopolitano) é um dos tradicionais ritos da Igreja, reconhecido pela Santa Sé de Roma. Proveniente da região de Bizâncio, posteriormente Constantinopla (hoje Istambul – Turquia), irradiou-se dali para regiões longínquas de todo o mundo, sendo o rito mais utilizado para a celebração dos Sacramentos após o Rito Romano: além de ser o rito oficial das igrejas que compõem a chamada Igreja Ortodoxa, é também o Rito de 14 das 24 Igrejas Católicas “sui iuris” (de direito próprio), as quais juntas formam A IGREJA CATÓLICA. O nome do rito – Bizantino – é devido ao seu desenvolvimento, que se deu em Bizâncio.
Sua versão mais antiga encontra-se na Divina Liturgia de São Basílio, composta pelo metropolita de Cesareia, ainda no século IV. A Liturgia de São Basílio, por sua vez, é baseada na Divina Liturgia de São Tiago e nas Constituições Apostólicas que, como vimos têm suas origens em Jerusalém-Antioquia, assim como em costumes da Capadócia. No Rito Greco-Melquita é plenamente possível que seus Sacerdotes sejam casados, mas um padre solteiro já ordenado não pode se casar e permanecer canonicamente sacerdote. Os bispos sempre são celibatários.
Vale lembrar que em 2014, o Papa Francisco permitiu que padres orientais casados (não só melquitas, mas de outros ritos) pudessem exercer o sacerdócio nas diásporas, ou seja, em territórios canônicos latinos, o que dantes era proibido pela Santa Sé. É o que agora ocorre tanto no Brasil quanto no mundo, onde se podem presenciar sacerdotes católicos orientais casados. Com a procura cada vez maior da paróquia melquita do Rio de Janeiro por fiéis brasileiros (e não apenas pela comunidade original árabe), a paróquia realiza hoje um trabalho biritual, tanto no rito romano a que os brasileiros estão acostumados, como o rito oriental bizantino. A acolhida a todos, brasileiros e árabes é feita sem distinção pelo Bispo sírio Dom George Khoury, naturalizado brasileiro.
Mas este rito melquita tem, ao longo dos séculos, sofrido algumas influências latinas. Por exemplo, durante as cruzadas foram introduzidos prelados latinos nas sedes Apostólicas do Oriente. Além disso, a Quarta Cruzada viu o saque de Constantinopla e seu domínio pelos cruzados por cinquenta e sete anos. Para se ter uma ideia, ao longo do século XVII, jesuítas, capuchinhos e carmelitas restabeleceram missões não apenas entre os Melquitas do Patriarcado de Antioquia, mas também noutros domínios orientais. A partir de 1342, os frades católicos latinos abriram missões no Mediterrâneo Oriental, particularmente em Damasco, onde desenvolveram ótimas relações, de modo que seus ensinamentos tiveram uma influência importante sobre o clero e o povo melquita. Além da forte presença franciscana, na tradição melquita, foram os jesuítas, fundados apenas em 1534, que foram realmente decisivos na formação do “partido católico romano” dentro do Patriarcado de Antioquia, o que aproximava ainda mais a relação deste Patriarcado com a Sé Apostólica de Roma. Os jesuítas não eram frades, mas algo como os padres altamente instruídos da Chancelaria Patriarcal, o que os tornava mais aceitáveis.
Todavia, após o Concílio Vaticano II, os Melquitas passaram a restaurar o seu culto tradicional, eliminando as latinizações acumuladas nos últimos séculos. Vale mencionar que tais processos não se deram sem conflitos, tanto da parte de algumas igrejas melquitas que não concordavam com a total e radical “deslatinização”, assim como por parte de alguns melquitas dos EUA que se opuseram à celebração da Divina Liturgia bizantina em língua vernácula, algo estranho no Rito Romano (até então em latim), mas que era visto com maior naturalidade entre os cristãos de tradição bizantina. Um dos líderes do movimento pela Divina Liturgia em vernáculo era o então Padre Joseph Raya, que posteriormente foi sagrado Arcebispo de Nazaré, e a seu pedido, o Venerável Bispo Fulton Sheen, tão famoso por sua evangelização no rádio e na TV, celebrou a Divina Liturgia, de rito bizantino, em inglês na convenção nacional melquita, em Birmingham (Alabama).
A Divina Liturgia (Santa Missa) Bizantina possui três liturgias para a Celebração Eucarística: a de São Basílio; a de São João Crisóstomo, que é uma versão abreviada ou simplificada da de São Basílio (hoje em dia é a que se celebra ordinariamente); a de São Gregório Nazianzeno, que é antes um ofício de Comunhão solene, celebrada às quartas e sextas-feiras da Quaresma, utilizada para os dons pré-santificados.
Ainda no Rito Bizantino, o sinal da cruz é feito dezenas de vezes (inclusive muito mais vezes que no Rito Romano Tradicional). Normalmente inclina-se reverentemente, quase que a tocar o chão com a mão e, em seguida, a eleva traçando o sinal da cruz da direita para a esquerda, ao contrário do Rito Romano).
A Missa é celebrada de costas para o fiéis, ou melhor dizendo, Versus Deum, tal qual o Rito Romano Tradicional e praticamente TODOS os Rito Tradicionais, Orientais ou Ocidentais (apenas o Rito Siríaco Antioquino celebrado pelos Maronitas que, após o Vaticano II, também passou a ser celebrado na maioria das vezes “de frente para o povo”).
Nesta sagrada Liturgia, assim como em outros ritos orientais, o pão da Eucaristia – chamado Prósphora – é fermentado, ao contrário da hóstia sem fermento do Rito Romano (e de alguns ritos orientais como o Armênio). Existe um ritual para se repartir o pão em vários pedaços. Para cada pedaço se reza uma oração diferente.
É usada uma colher para dar a Sagrada Comunhão quando é administrada em duas espécies (o Pão-Corpo é mergulhado no Vinho-Sangue). Conforme a Tradição da Igreja, (com exceção do Rito Romano em sua versão moderna – Novus Ordo – onde há “ministro extraordinário da eucaristia”), somente o sacerdote distribui a Comunhão aos fiéis. A Assembleia Eucarística recebe o nome de Sinaxe (Synaxis).
Outra característica extremamente marcante do Rito Bizantino é sua riqueza visual-estética: Os templos bizantinos, em geral, são extremamente decorados em todos os seus aspectos. Ricamente adornados, trazem pinturas em quase todas as suas partes, normalmente ícones, além da Iconóstase, (espécie de parede ou divisória entre o presbitério e a assembléia, elemento quase que indispensável numa igreja de Rito Bizantino.
Também as vestes e paramentos litúrgicos destacam-se por sua beleza e suntuosidade: por exemplo, a mitra do Bispo em formato de Coroa, os tecidos que compõem as vestes litúrgicas etc., tudo isso faz menção tanto às origens do rito (Bizâncio-Constantinopla era a sede do Império Romano Oriental e posteriormente, do Império Bizantino) quanto – e principalmente – aos Santos Mistérios (Sacramentos) que se realizam na cerimônia litúrgica.