Bolsonaro alvo da PF: entenda ponto a ponto a investigação sobre a falsificação de cartões de vacina

Política

Ex-presidente e outras 15 pessoas são investigadas pela Polícia Federal. Bolsonaro afirma que não foi vacinado e que não houve adulteração nos registros de saúde dele e da filha.

Mega-Sena
Cartão de vacina de Bolsonaro
Taxa de juros
‘Lovezinho’ fora do ar
Bolsonaro alvo da PF: entenda ponto a ponto a investigação sobre a falsificação de cartões de vacina
Ex-presidente e outras 15 pessoas são investigadas pela Polícia Federal. Bolsonaro afirma que não foi vacinado e que não houve adulteração nos registros de saúde dele e da filha.

Entenda pontos da investigação da PF que levou a buscas na casa de Bolsonaro

Entenda pontos da investigação da PF que levou a buscas na casa de Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 15 pessoas foram alvos de uma operação da Polícia Federal (PF), nesta quarta-feira (3), que investiga um suposto esquema de falsificação de cartões de vacina. Ao todo, seis pessoas foram presas. Bolsonaro não foi alvo de mandado de prisão.
Compartilhe no WhatsApp
Compartilhe no Telegram
Nesta reportagem você vai entender o ponto a ponto das investigações e um resumo do que aconteceu nesta quarta-feira.
▶️ Contexto: A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito das milícias digitais. A polícia investiga um grupo suspeito de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde.
Segundo as investigações, um grupo ligado a Bolsonaro inseriu informações falsas no ConecteSUS para obter vantagens ilícitas.
O objetivo do esquema era obter certificados de vacinação contra a Covid-19.
A PF identificou que as informações falsas foram colocadas nos sistemas do Ministério da Saúde poucos dias antes de Bolsonaro viajar para os Estados Unidos, em dezembro de 2022.
Os Estados Unidos exigem comprovante de vacinação contra a Covid-19 para que estrangeiros entrem no país.
Confira detalhes do suposto esquema mais abaixo.
▶️ Certificados de vacinação: De acordo com o inquérito, foram forjados dados de vacinação de pelo menos sete pessoas. São elas:

O ex-presidente Jair Bolsonaro;
A filha de 12 anos de Bolsonaro;
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
A mulher e as três filhas de Mauro Cid.
▶️ Resumo da operação: A PF cumpriu seis mandados de prisão e outros 16 mandados de busca e apreensão, em Brasília e no Rio de Janeiro.
Jair Bolsonaro foi alvo de um mandado de busca e apreensão e teve o celular apreendido.
O STF também determinou a apreensão do passaporte de Bolsonaro, mas a PF informou que o documento não foi apreendido.
Mauro Cid, que é ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e outras cinco pessoas foram presas.
Na casa de Cid, a PF encontrou notas de dólares, que somaram US$ 35 mil, além de R$ 16 mil em dinheiro vivo.
Após a operação, Bolsonaro disse que não tomou vacina e que não houve adulteração nos registros de saúde dele e da filha. Ele não compareceu a um depoimento agendado pela PF durante a manhã desta quarta.
A defesa de Mauro Cid afirmou que vai se manifestar quando tiver acesso aos autos do processo.

Como funcionou o suposto esquema
As investigações apontam que o grupo incluiu dados falsos sobre vacinação contra Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde, em dezembro do ano passado. Com isso, os suspeitos conseguiram emitir certificados de vacinação para burlar restrições sanitárias, de acordo com a PF.
▶️ Como tudo começou: A primeira tentativa de burlar o certificado de vacinação teria acontecido em novembro de 2021, segundo a PF. À época, o coronel Mauro Cid queria obter um documento para a esposa, Gabriela Cid, conforme o inquérito.
Cid teria pedido ajuda para Luís Marcos dos Reis, sargento do Exército que integrava a equipe do coronel. Reis, então, teria acionado o sobrinho Farley Vinicius Alcântara, que é médico, para conseguir o documento.
O sargento teria retornado para Cid um documento digitalizado de um cartão físico de vacinação, que possui o carimbo e assinatura de Farley. A dose teria sido aplicada em Cabeceiras (GO).
A PF verificou com o Ministério da Saúde que não há registros de aplicação de doses no nome da mulher de Cid na unidade de saúde de Cabeceiras.
Para inserir os dados no ConecteSUS, Cid teria pedido ajuda para o militar Eduardo Crespo Alves.
As investigações apontam que Crespo tentou fazer a operação no Rio de Janeiro, mas teve dificuldades, já que o lote que Farley havia informado no cartão de vacinação não havia sido distribuído ao estado, e o sistema do SUS entendeu como “fraude”.
Para contornar o problema, Cid e Reis teriam pedido a Farley um novo cartão de vacinação, em branco, para que eles conseguissem preencher com lotes de vacinas distribuídos no Rio de Janeiro.
Cid também teria acionado Ailton Gonçalves Moraes Barros para pedir ajuda e conseguir um cartão de vacinação emitido por Duque de Caxias (RJ).
Ailton teria feito uma conta na plataforma “GOV.BR” no nome da esposa de Cid. Depois, segundo a PF, os dados de vacinação foram inseridos no sistema com o intermédio do ex-vereador Marcello Moraes Siciliano.
Conforme as investigações, o sistema consta que os dados da esposa de Cid foram incluídos no sistema por Camila Paulino Alves Soares.
A PF descobriu também que os nomes de Mauro Cid e das três filhas dele aparecem como vacinadas em Duque de Caxias, o que causou estranheza, já que a família mora em Brasília.
Segundo a PF, os dados foram incluídos no sistema por João Carlos de Sousa Brecha, que era secretário municipal de Duque de Caxias, em dezembro de 2022.

▶️ Cartão de Bolsonaro, família e funcionários: A inclusão dos dados falsos sobre a vacinação do ex-presidente e pessoas ligadas a ele aconteceram em dezembro do ano passado, segundo a PF.
De acordo com a PF, os dados de vacinação do ex-presidente foram incluídos no sistema do Ministério da Saúde em Duque de Caxias, mesma cidade onde Cid teria conseguido o cartão de vacinação da esposa.
As investigações identificaram que os dados das doses do ex-presidente foram colocados no sistema por João Carlos de Sousa Brecha, secretário de Governo de Duque de Caxias.
Lembrando que Brecha foi identificado pela PF como responsável por preencher dados de vacinação de Cid e das filhas do coronel no sistema do SUS.
A PF descobriu que Brecha também fez a operação no nome da filha do ex-presidente.
As vacinas de Bolsonaro teriam sido aplicadas no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022.
Além disso, o inquérito identificou que Max Guilherme Machado de Moura e Sergio Rocha Cordeiro, nomeados seguranças de Bolsonaro em 26 de dezembro do ano passado, também apareciam no sistema do Ministério da Saúde como vacinados no mesmo local que Bolsonaro, em agosto e outubro de 2022.
Todos os dados teriam sido preenchidos por Brecha no dia 22 de dezembro de 2022, portanto, meses depois das supostas aplicações das vacinas.
No dia 27 de dezembro de 2022, a servidora Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva excluiu do sistema os dados de vacinação de Bolsonaro e da filha do ex-presidente, segundo o inquérito.

investigação
Além dos indícios no próprio sistema do Ministério da Saúde, a investigação obteve trocas de mensagens entre alguns dos envolvidos que confirmaram a fraude – a quebra do sigilo foi autorizada pela Justiça.
▶️ Apurações da PF contra Bolsonaro: A corporação suspeita que a fraude nos registros de vacina do ex-presidente e da filha tiveram como objetivo evitar problemas para Bolsonaro entrar nos Estados Unidos.
Bolsonaro deixou o Brasil no dia 30 de dezembro de 2022, dois dias antes do fim do mandato.
Quando deixou o país, Bolsonaro tinha passaporte diplomático.
O jornalista da TV Globo César Tralli apurou que fontes ligadas à investigação afirmaram que o ex-presidente estava receoso de usar o documento, porque não estava em viagem oficial de Estado.
As fontes dizem ainda que suspeitam que Bolsonaro queria uma garantia de que não seria barrado ao tentar entrar nos Estados Unidos por não estar vacinado contra a Covid-19, já que o país exige a imunização para estrangeiros.

▶️ Autorização para a operação: A operação da PF foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que afirmou ser “plausível” a linha de investigação de que Bolsonaro e seu grupo tenham inserido dados falsos sobre vacina para obter vantagens.
O ministro citou também a possibilidade de existir uma “organização criminosa” para adulterar os dados de vacinação.
De acordo com Moraes, os indícios de crime são “relevantes”, e a suposta organização criminosa buscou, além de benefícios pessoais, descredibilizar o sistema de vacinação no país.
De acordo com o ministro, não tem credibilidade a versão de que o ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, tenha inserido os dados falsos sem a autorização do ex-presidente.
Moraes afirmou que as prisões preventivas são necessárias para evitar que os investigados atrapalhem as apurações.
O ministro determinou que a PF ouça os investigados e os profissionais de saúde que seriam os supostos aplicadores de doses de vacina no ex-presidente.
Na decisão, Moraes também suspendeu a validade dos cartões de vacinação de todos os investigados.
▶️ Crimes investigados: Segundo a PF, os seguintes crimes são investigados:
infração de medida sanitária preventiva;
associação criminosa;
inserção de dados falsos em sistemas de informação;
corrupção de menores.

Confira abaixo a cronologia de acontecimentos que envolvem o suposto esquema, de acordo com as investigações.
Janeiro de 2021: O Palácio do Planalto decreta sigilo de até 100 anos ao cartão de vacinação de Jair Bolsonaro.
19 de julho de 2021: suposta aplicação de uma dose da vacina da Janssen em Jair Bolsonaro. O registro é de uma unidade de saúde de São Paulo.
13 de agosto de 2022: suposta aplicação da 1ª dose da Pfizer em Jair Bolsonaro. O registro consta em uma unidade de saúde de Duque de Caxias.
14 de outubro de 2022: suposta aplicação da 2ª dose da Pfizer em Bolsonaro. O registro também é de uma unidade de saúde de Duque de Caxias.
21 de dezembro de 2022: segundo a PF, foi nesta data que as informações sobre a vacinação de Bolsonaro foram incluídas no sistema do Ministério da Saúde. Os dados sobre as aplicações das doses foram incluídos com um minuto de diferença, às 18h59 e 19h.
22 de dezembro de 2022: certificado de vacinação é emitido pelo ConecteSUS na conta de Jair Bolsonaro. O acesso foi feito de uma conexão a partir do Palácio do Planalto.
27 de dezembro de 2022: um novo certificado de vacinação de Bolsonaro é emitido a partir do Planalto. No mesmo dia, as investigações apontam que uma servidora da prefeitura de Duque de Caxias excluiu as informações sobre a vacinação de Bolsonaro do sistema, sob alegação de erro.
30 de dezembro de 2022: certificado de vacinação sem as doses da Pfizer é emitido de um celular do tenente-coronel Mauro Cid. Mais tarde, Jair Bolsonaro embarcou com destino aos Estados Unidos com a esposa e a filha de 12 anos.
17 de fevereiro de 2023: Controladoria-Geral da União (CGU) afirma ter aberto uma investigação após denúncia de “adulteração” do cartão de vacinação de Bolsonaro, em relação à suposta aplicação da vacina da Janssen feita em julho de 2021.
13 de março de 2023: CGU retira sigilo sobre o cartão de vacinação de Bolsonaro.
3 de maio de 2023: PF faz operação, e Bolsonaro diz que não tomou a vacina.

que dizem os citados?
Jair Bolsonaro: o ex-presidente da República afirmou que não tomou vacina e que não houve adulteração nos registros de saúde dele e da filha. “Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum, não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso”, disse.
Mauro Cid e família: dizem que vão se manifestar quando tiverem acesso aos autos do processo.
Marcelo Siciliano, ex-vereador do Rio: o político disse que foi surpreendido por agentes da Polícia Federal em sua casa e teve o celular apreendido, mas não sabe o motivo da operação. Disse também que está à disposição para dar esclarecimentos.
Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva: disse que não vai se manifestar porque a investigação está sob sigilo.
João Carlos Brecha, secretário de Governo de Duque de Caxias: a TV Globo entrou em contato com a prefeitura da cidade, mas não teve retorno.

Fonte: G1