Aos 74 anos, Rei Charles III é coroado no Reino Unido

Internacional

Casada com Charles, a rainha consorte Camilla também foi coroada no evento. O evento de coroação ocorreu quase oito meses após a morte da rainha Elizabeth II e foi menos luxuoso que o de sua mãe, em 1953.

O rei Charles III do Reino Unido foi coroado neste sábado (6) com a coroa de St. Edward, na Abadia de Westminster, em Londres – acompanhe o evento. Aos 74 anos, Charles assume a função em um momento delicado, com a economia britânica à beira de uma recessão e a família envolvida em uma série de polêmicas (veja abaixo como foi a cerimônia).
Casada com Charles, a rainha consorte Camilla também foi coroada no evento — ela tem o título de rainha consorte, que é dado à esposa do rei vigente. Em tese, uma rainha consorte tem a mesma posição social e o status do cônjuge. Historicamente, no entanto, não possui os mesmos poderes políticos.

No momento da coroação do rei, uma saudação de 62 tiros foi disparada na Torre de Londres, com uma salva de seis tiros no Horse Guards Parade. Outros 21 tiros foram disparados em 13 locais em todo o Reino Unido, incluindo Edimburgo, Cardiff e Belfast, e em navios da Marinha Real.

Essa é a primeira vez que uma cerimônia de coroação incluiu bispas, bem como hinos e orações cantadas em galês, gaélico escocês e gaélico irlandês, além de inglês. Esta também foi a estreia de representantes de outras religiões (que não os da Igreja da Inglaterra) – veja fotos do cortejo e da coroação.
Durante o evento, serão apresentadas doze novas composições, incluindo músicas de Judith Weir, Andrew Lloyd Webber e Patrick Doyle. Os artistas do serviço incluem a Orquestra da Coroação, o harpista real Alis Huws, o Coro da Abadia de Westminster e o Coro da Ascensão.
Ao fim da Procissão de Coroação, o rei e a rainha farão uma aparição na varanda do Palácio de Buckingham. Em seguida, a Força Aérea Real fará uma apresentação nos céus de Londres.
Juramento de Charles III
Sentado na Caidera do Estado, Charles realizou o Juramento de Coroação, comprometendo-se a defender a lei e a Igreja da Inglaterra, e o Juramento da Declaração de Adesão, declarando-se um “fiel protestante”.

“Eu, Charles, solene e sinceramente na presença de Deus, professo, testifico e declaro que sou um fiel protestante e que irei, de acordo com a verdadeira intenção das leis que garantem a sucessão protestante ao trono, defender e manter as referidas promulgações com o melhor de meus poderes de acordo com a lei”, afirmou o rei.
Uma nova Bíblia foi criada especialmente para a coroação. Com capa de pele de cabra tingida com escrita em folha de ouro, o item foi aprovado pelo arcebispo de Canterbury, que conduz a cerimônia.
Três cópias idênticas foram feitas: uma será dada ao rei e as outras duas serão colocadas nos arquivos da Abadia de Westminster e da Universidade de Oxford.

Unção: a parte mais sagrada da cerimônia
A unção é considerada a etapa mais sagrada da cerimônia de coroação. O arcebispo de Canterbury derramou um óleo e ungiu as mãos, peito e cabeça do rei.
O óleo utilizado na unção vem da Grécia, mais especificamente de dois olivais no Monte das Oliveiras, no Mosteiro de Maria Madalena e no Mosteiro da Ascensão. O primeiro é o local do enterro da avó paterna do rei Charles, a princesa Alice da Grécia. As azeitonas foram prensadas em Belém e perfumadas com gergelim, jasmim, canela, neroli, benjoim, âmbar e flor de laranjeira.
Uma nova tela foi utilizada para garantir a privacidade de Charles III. O tecido tem 2,6 metros de altura e 2,2 metros de largura e é sustentado com pilares de madeira que têm esculturas de águias no topo.
O design da tela foi inspirado em um vitral da Capela Real do Palácio de St. James, que foi presenteado à falecida rainha Elizabeth II para marcar seu Jubileu de Ouro em 2002.

A cerimônia também contou com uma cruz de prata que contêm, segundo o Vaticano, fragmentos da “Verdadeira Cruz”, que foi usada para crucificar Jesus Cristo. Um dos pedaços doados tem 1 centímetro, e o outro, 5 milímetros. Esses dois pedaços de madeira foram moldados em uma gema de cristal que foi incorporada no centro de uma peça de prata.

Convidados para a coroação
Os principais integrantes da família real britânica estiveram presentes na coroação de Charles III e Camilla. Entre eles está o príncipe Andrew, irmão do rei. Andrew perdeu seu título honorífico da realeza em 2022, após ser processado por abusar sexualmente de uma menor de idade por meio de uma rede de tráfico sexual.

O príncipe Harry, filho do rei, também foi ao evento. No entanto, sua esposa, Meghan Markle, e seus filhos, Archie e Lilibet, não comparecerão à cerimônia.
A presença do casal era uma incógnita, pois eles se desvincularam dos deveres oficiais da realeza em 2020 e, desde então, estão no centro de diversas polêmicas envolvendo a família real.
Príncipe Harry na cerimônia de coroação do rei Charles III e da rainha Camilla, na Abadia de Westminster, em Londres, em 6 de maio de 2023 — Foto: Andy Stenning/Pool via Reuters
Príncipe Harry na cerimônia de coroação do rei Charles III e da rainha Camilla, na Abadia de Westminster, em Londres, em 6 de maio de 2023 — Foto: Andy Stenning/Pool via Reuters
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja estiveram entre os convidados confirmados e representam o Brasil na celebração. Outros chefes de Estado, como Emmanuel Macron, presidente da França também estão presentes – veja fotos de famosos e autoridades que foram para a coroação do rei Charles III.

Neste ano, cerca de 2,3 mil pessoas foram convidadas na Abadia de Westminster – bem abaixo dos 8 mil que assistiram à cerimônia de 1953, quando aconteceu da rainha Elizabeth II.
Público assiste de fora
Dezenas de fãs reais acamparam no centro de Londres antes da coroação do rei Charles no sábado. O público será convidado a se juntar a um “coro de milhões” para jurar lealdade ao rei e a seus herdeiros, disseram os organizadores à BBC.
Súditos aguardam cerimônia — Foto: Piroschka van de Wouw / Pool / via Reuters
Súditos aguardam cerimônia — Foto: Piroschka van de Wouw / Pool / via Reuters
A coroação, cujas origens remontam a 1.000 anos, é o maior evento cerimonial desde a encenada para a mãe de Charles, a rainha Elizabeth, em 1953, com uma exibição de pompa e uma enorme procissão militar.

Para alguns britânicos, é um evento único na vida. Para outros, é uma ocasião bem-vinda apenas porque proporciona um dia de folga com um feriado extra na segunda-feira.
Uma pesquisa do YouGov no mês passado descobriu que apenas 33% dos entrevistados se importam com a cerimônia. Outra pesquisa na semana passada descobriu que 48% provavelmente assistiriam na televisão, em comparação com 46% que disseram o contrário.
Isso contrasta com 1953, quando milhões lotaram as ruas de Londres e cerca de 27 milhões de pessoas assistiram à cerimônia televisionada de Elizabeth, que foi para muitos a primeira vez que assistiram a qualquer evento na televisão.
Organização do evento
Mais de 11 mil membros das forças armadas estiveram envolvidos nas cerimônias, de acordo com as últimas informações até a publicação desta reportagem. Destes, mais de 4 mil devem participar da procissão entre a Abadia de Westminster e o palácio de Buckingham, segundo a agência Reuters.
Os integrantes das forças armadas britânicas que participaram dos cortejos foram acompanhados de soldados de mais de 30 países da Comunidade Britânia das Nações (Commonwealth), formando uma das maiores procissões militares do Reino Unido em décadas.

A polícia local informou que a tolerância para qualquer distúrbio ou manifestação será baixa, e que essa é uma das maiores e mais importantes operações na história.
A monarquia britânica respondeu a reclamações sobre o custo da operação de segurança: houve relatos de que a organização custará US$ 125 mil (R$ 624 mil), mas, segundo o palácio de Buckingham, vai ser esse valor.
No entanto, eles não falam qual é o custo do evento e respondem a perguntas sobre os valores com respostas como a seguinte, de um porta-voz da monarquia: “Uma ocasião como esta, uma grande ocasião de Estado, atrai um enorme interesse global que mais do que compensa as despesas que a acompanham”.
Cerimônia mais ‘econômica’
O evento ocorre quase oito meses após a morte da rainha Elizabeth II e foi menos luxuoso que o de sua mãe, em 1953. À época, havia sido a mais cara da história, tendo custado 1,57 milhão de libras, de acordo com dados do jornal norte-americano “New York Times”, citados pela revista. Ainda segundo a Time, esse valor é equivalente a 56 milhões de libras atualmente.
Segundo a imprensa britânica, o que motiva a realização de uma cerimônia mais comedida são a pauta ambiental, defendida há anos por Charles, e a ameaça de recessão econômica vivida pelos britânicos. Além disso, as mudanças da sociedade (e de como ela enxerga a monarquia) também parecem ter influenciado a cerimônia.

As festividades devem custar cerca de 100 milhões de libras (aproximadamente R$ 624 milhões) aos contribuintes britânicos, segundo a revista norte-americana Time.
Os custos da coroação são bancados, portanto, pelos cofres públicos do país – o que tem desagradado a população britânica. Soma-se à insatisfação um agravante: o país ainda se recupera de uma crise de custo de vida, em meio à inflação que persiste por lá e pelas grandes economias do planeta.
Rainha Elizabeth II foi coroada em 1953: relembre a cerimônia
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Rainha Elizabeth II foi coroada em 1953: relembre a cerimônia
Manifestações contra o evento
A polícia britânica prendeu Graham Smith, líder do grupo antimonarquista Republic, antes da coroação do rei Charles, disse um porta-voz do grupo à Reuters.

A polícia não confirmou a prisão. Porém, a mídia local também apontou a prisão de Smith e de cinco outros organizadores de um protesto antimonarquista.
Uma foto postada no Twitter mostrou Smith sentado no chão cercado por um grupo de policiais.
Harry Stratton, diretor do movimento Republic – que chegou ao local quando Smith e os outros foram detidos – disse ao jornal The Guardian: “Eles estavam recolhendo os cartazes e trazendo-os quando a polícia os deteve. Os caras perguntaram por que e eles disseram: ‘Nós diremos a você assim que revistarmos o veículo.’ Foi quando prenderam os seis organizadores”.

Jovens são contra governo financiar coroação
Questionados se acham que a coroação do rei Charles III deve ou não ser financiada pelo governo – o que inclui o dinheiro vindo da arrecadação de impostos, por exemplo –, 50% dos britânicos maiores de 18 anos disseram que não. Outros 32% disseram que sim, enquanto 18% não souberam responder.
Os dados reforçam a desaprovação dos mais jovens. Na faixa etária entre 18 a 24 anos, 62% são contra a realização das cerimônias com dinheiro público. Percentual que vai caindo conforme o avanço da idade:
de 25 a 49 anos, 55% são contra;
de 50 a 64 anos, 46% são contra;
maiores de 65 anos, 44% são contra.
O caminho inverso vale para a parcela que considera que o contribuinte deve, sim, arcar com os custos da cerimônia. Entre os maiores de 65 anos, 43% são favoráveis ao uso do dinheiro público. Percentual que, nesse caso, vai caindo junto com a idade:
de 50 a 64 anos, 39% são a favor;
de 25 a 49 anos, 25% são a favor;
de 18 a 24 anos, 15% são a favor.
A comemoração continua
A celebração continua nos dias seguintes à coroação:
Domingo (7): a noite contará com shows de diversos artistas, a maior parte internacionais. Entre eles estão Kary Perry, Lionel Richie e Andrea Bocelli.
Segunda-feira (8): o dia será feriado nacional. Na data, a família real incentiva os britânicos a realizarem atos de caridade e a partilharem refeições com a comunidade.

Fonte: G1