Time não faz grande jogo, mas espaços concedidos são importantes para Arrascaeta, Bruno Henrique e Ribeiro arriscarem e dão segurança a Sampaoli para usar garotos.
Depois de ser melhor contra Internacional, Botafogo e Athletico-PR e perder, o Flamengo fez uma partida longe de ser vistosa, mas venceu o Goiás por 2 a 0. Foi irregular, irritou seu torcedor, mas conseguiu o que era urgente. Vitória fundamental e tipo de jogo ideal para distribuir confiança a todos tipo os de jogadores do elenco. Desde aos mais jovens, que têm pedido passagem, até a alguns medalhões que precisavam de espaço para arriscar seus melhores movimentos.
Houve, porém, uma notícia negativa. Pedro, artilheiro do time com 22 gols em 23 jogos na temporada, pediu para ser substituído aos 12 minutos após sentir um incômodo no adutor direito e virou preocupação para os próximos jogos. Tal desconfiguração provocada pela prematura saída do 9 é importante para entender por que o Flamengo oscilou durante o jogo.
Com cinco minutos, o lado esquerdo todo do Flamengo encheu-se de confiança. Por aquele corredor, somente Ayrton Lucas estava em alta antes de a bola rolar. Everton Cebolinha precisava repetir o bom jogo que fizera contra o Athletico-PR, enquanto Arrascaeta e Victor Hugo, ambos titulares pela primeira vez com Sampaoli, tinham de exibir um bom cartão de visitas ao novo chefe.
É óbvio que o uruguaio dispensa apresentações, mas, com um minuto, já arriscaria chute de fora da área em jogada iniciada pela afinada dupla Ayrton e Cebolinha. Vale destacar que as investidas por ali vinham nascendo sempre dos pés de Victor Hugo, este sim uma figura mais desconhecida aos olhos de Sampaoli.
Aos dois minutos, os três conectaram uma boa triangulação, com penteada de Everton e toque de calcanhar de Ayrton, mas não concluíram bem o cruzamento. Na trama seguinte, execução perfeita e pênalti para o Flamengo, mas com a participação especial de outro atleta em franco crescimento: Erick Pulgar.
Numa jogada que estava muito mais para o Goiás, o camisa 10 Palacios recebeu de costas, e Pulgar se atirou na bola. Ainda no chão, tocou para Fabrício Bruno. Victor Hugo abriu o campo com um lindo corte em Zé Ricardo e entregou a Cebolinha. O camisa 11 tocou no ponto futuro, Ayrton surgiu como uma flecha e acabou derrubado por Edu
A facilidade extrema encontrada nos 10 minutos iniciais, somadas à saída do principal jogador do Flamengo na temporada, causaram afobação desnecessária e desorganização. Os rubro-negros começaram a acelerar o jogo, algo que o próprio Jorge Sampaoli reclamou em entrevista coletiva.
A pressa em chegar ao terço final associada ao desentrosamento do ataque com um Bruno Henrique ainda em readaptação causaram impaciência, e a torcida chiou bastante nos minutos finais.
Uma desatenção permitiu a outro jovem mostrar que está apto para defender o gol do Flamengo. Fabrício Bruno cometeu erro simples de passe, Palacios conectou a Matheus Peixoto, que obrigou o xará rubro-negro voar no canto direito e fazer boa defesa. Ainda no primeiro tempo, o goleiro mostraria uma característica que carrega desde a base e que já havia demonstrado nos poucos jogos como profissional: o bom jogo com os pés.
Pedido de calma a Wesley extensivo ao grupo
Lateral-direito promissor da base e atleta que recebeu proposta do Barcelona, Wesley fez um primeiro tempo bastante irregular e marcado por afobação. Uma tomada de decisão errada, aos 33 minutos, exemplificou o que foi o Flamengo na primeira etapa.
Ayrton Lucas cruzou errado, e Wesley pegou a sobra com muita liberdade. Tinha quatro opções de passe: Bruno Henrique e Everton Ribeiro mais próximos, além de Victor Hugo e Cebolinha na linha da área. Optou pelo chute em cima da defesa.
A bola saiu pela lateral, e Sampaoli levou o dedo à cabeça e pediu calma ao jovem. Após o jogo, o próprio treinador explicou.
- Falei para que ele se tranquilizasse, que acelerasse para atacar, mas que se acalme quando tenha que jogar. Faz tudo muito rápido. O Wesley tem muita condição, está evoluindo, crescendo. É normal.
A chamada à beira do campo surtiu efeito, e o camisa 43 fez uma partida muito melhor no segundo tempo. Botou a bola no chão, arriscou arrancadas e soube a hora de forçar o cruzamento ou de arriscar um passe no comando do ataque.
Segundo tempo: início de paciência é premiado
O pedido extensivo ao time por menos afobação foi premiado logo de cara. O gol de Everton Ribeiro, marcado aos três minutos, é fruto de muita paciência. Em 35 segundos, nove jogadores tocaram na bola até Ribeiro completar com uma linda finalização de letra – só Fabrício Bruno e Matheus Cunha não participaram.
É importante destacar que houve pelos menos duas mudanças de direção que enfatizaram essa tranquilidade para tomar decisões. A primeira foi de Pulgar, que deu um drible de corpo num adversário e recuou para Léo Pereira. A outra foi de Bruno Henrique, que poderia investir num progressão rumo à pequena área, mas preferiu se virar, atrasar para Victor Hugo, que girou e deixou Cebolinha no posicionamento perfeito para o cruzamento. Belo gol.
Os medalhões tinham o que precisavam. Everton Ribeiro conseguia atuação segura e um golaço de letra. Bruno Henrique mostrava mobilidade e era participativo, com direito a pivôs, disputas aéreas ganhas e até dribles em direção a linha de fundo. Num desses avanços, BH tirou Sidimar com corte que fez lembrar seu auge, e Arrascaeta, que voltou a dar dribles curtos, a jogar 90 minutos e a finalizar bastante, quase fez o terceiro gol. O uruguaio esteve próximo de marcar por três vezes.
Anote aí: medalhões executando jogadas com desenvoltura, e jovens participando com protagonismo. O que faltaria? Confiança aos reservas. Sampaoli também conseguiu. Matheus França entrou com explosão impressionante, chegando ao fundo pela direita com muito perigo por várias vezes. Matheus Gonçalves deu dribles, toques de primeira e até aplicou elástico. Vidal pouco errou passes, cabeceou duas bolas – uma delas perto do gol – e teve atuação sem sustos, algo que David Luiz também conseguiu.
No fim, Matheus Cunha cumpriu sua jornada com ótima defesa com o joelho direito e uma reação de veterano. Fechou o ângulo de Diego Gonçalves, cortou para escanteio e levantou-se calmamente pedindo atenção aos companheiros
Sampaoli, sem uma atuação de rebuscamento técnico ou jogadas refinadas, conseguiu vitória que revigorou de forma democrática diferentes alas do elenco, e o Flamengo, depois de cinco jogos sendo vazado consecutivamente, deixou o campo com sua meta invicta.
Fonte: Ge