Um Fla-Flu sem gols, mas surpreendente do início ao fim

Esportes

Em clássico com placar zerado, o melhor Flamengo de Sampaoli encontrou o inédito (e perfeito) ferrolho de Fernando Diniz.

Pode parecer intenção de “esquentar” o evento ou tentar encontrar grandiosidade nas coisas mais modorrentas da vida, como os eleitos que enxergam mensagens divinas esculpidas no tronco das árvores, mas é imperioso dizer que o placar zerado no primeiro Fla-Flu das oitavas da Copa do Brasil mostrou-se surpreendente de várias maneiras. Do início ao fim.

No primeiro tempo, por exemplo, foi possível observar a melhor versão do Flamengo sob o comando de Jorge Sampaoli, justamente contra o adversário que tem sido seu maior algoz nos últimos anos. A equipe rubro-negra exerceu uma marcação avançada tão impiedosa que a impressão que passava era de que empurrava o Fluminense para dentro de um moedor de carne.

Como uma matilha orquestrada, os jogadores atacavam a saída de bola tricolor, sabidamente a raiz e a fundação do dinizismo. E as chances se acumularam, com Wesley, Gabriel e Arrascaeta alternando-se na imperícia de inaugurar o placar. Apenas depois dos trinta minutos os tricolores conseguiram se aventurar no campo de ataque, e ainda assim de forma tímida. Jamais esse Fluminense, digno do encanto que desperta, havia sido tão amassado.

Esperava-se que Fernando Diniz fosse usar o intervalo para tentar passar um rejunte nas brechas do time, mas o segundo tempo começou com a extensão do sofrimento. Com a expulsão de Felipe Melo, se anunciava uma tempestade perfeita vestida de vermelho e negro para cima do aparentemente inoxidável arqueiro Fábio. E de fato, como era de se esperar, o Flamengo alugou a metade tricolor do latifúndio do Maracanã.

Era impossível, no entanto, reviver o ímpeto daquela meia-hora inicial. E, mesmo com um jogador a menos, o Fluminense sentiu-se mais confortável do que na primeira etapa. O melhor Flamengo de Sampaoli encontrou-se com o inédito (e incorruptível) ferrolho de Fernando Diniz. Pois nesse momento se presenciou o dinizismo operando em modo copero y amorcegador, com o time tentando a duras penas manter seu estilo de jogo e não abdicando de atacar, mas sobretudo profundamente comprometido com as circunstâncias do jogo — mesmo Ganso parecia ter nascido com a camisa 5 tatuada nas costas.

O placar zerado nos privou de gols — e, no imaginário geral da nação, qualquer clássico carioca tem a obrigação de nos ofertá-los em profusão. Ao mesmo tempo trouxe, tanto para rubro-negros quanto para tricolores, algumas notas positivas e até mesmo surpreendentes. Se o Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada, este em específico vai terminar apenas daqui a duas semanas. E talvez, no retorno desse imenso intervalo, depois da maior palestra da história das narrativas orais, tudo suceda de forma diferente. É de circunstâncias inesperadas, afinal de contas, que se alimentam os clássicos.

Fonte: Ge