“É importante deixar claro que um sínodo não é um parlamento. Um sínodo não é uma pesquisa de opinião à esquerda e à direita. Não. O principal protagonista de um sínodo é o Espírito Santo. Se o Espírito Santo não está presente, não pode haver sínodo. Um sínodo é uma experiência eclesial cujo presidente e ator principal é o Espírito Santo. O Espírito trabalha de duas maneiras.”
O Concílio “rejuvenesce a Igreja. A Igreja é uma mãe que sempre avança. O Concílio abriu a porta para uma maior maturidade, mais em sintonia com os sinais dos tempos. A Lumen gentium, por exemplo, a Constituição Dogmática sobre a Igreja, é um dos documentos mais tradicionais e ao mesmo tempo mais modernos, porque na estrutura da Igreja, o tradicional – se bem compreendido – é sempre moderno. Isto porque a tradição continua a se desenvolver e a crescer.” (Papa Francisco)
No programa de hoje deste nosso espaço, Pe Gerson Schmidt* retoma a entrevista do Papa Francisco divulgada em 28 de fevereiro de 2023, onde falou sobre vários temas, entre os quais Concílio, Sínodo e sinodalidade:
“Por ocasião do décimo aniversário de seu pontificado, o Papa Francisco concordou em conceder uma entrevista a Emmanuel Van Lierde. Na primeira parte desta entrevista exclusiva ao semanário belga Tertio/CathoBel, Francisco falou sobre o Concílio Vaticano II.
Como já dizia o Papa Bento XVI não há ruptura, mas continuidade da Igreja milenar. Assim se expressou Papa Francisco: “O Concílio deu esse passo adiante, sem cortar a raiz, porque isso não é possível se queremos produzir frutos. O Concílio é a voz da Igreja para o nosso tempo, e neste momento, por um século, estamos colocando-o em prática. É uma imagem estranha: a Igreja é como uma mãe que não envelhece, mas fica cada vez mais jovem… Incrível, sim, mas assim é a Igreja: ela rejuvenesce sem perder sua sabedoria secular. A contínua implementação e realização do Concílio inclui o incentivo à sinodalidade. O que espera e o que imagina através do processo sinodal? O que isso realmente significa? É um estilo de governo e de liderança que deriva das ideias do Concílio? No final do Concílio, Paulo VI ficou muito chocado ao descobrir que a Igreja do Ocidente quase tinha perdido a sua dimensão sinodal” disse o Papa Francisco nessa entrevista. Não é por nada que o Papa Francisco em nossos dias está pedindo à toda a Igreja e outros segmentos para essa importante e atual caminhada sinodal.
Continua assim o nosso Papa: “Há um ponto que não devemos perder de vista. No final do Concílio, Paulo VI ficou muito chocado ao descobrir que a Igreja do Ocidente quase tinha perdido a sua dimensão sinodal, ao passo que as Igrejas Católicas Orientais souberam preservá-la. Ele anunciou, portanto, a criação do Secretariado do Sínodo dos Bispos, com o objetivo de promover novamente a sinodalidade na Igreja. Nos últimos 60 anos, isso se desenvolveu cada vez mais. Aos poucos as coisas ficaram mais claras. Por exemplo, a questão de saber se apenas os bispos tinham direito de voto. Às vezes não estava claro se as mulheres podiam votar… Durante o último Sínodo sobre a Amazônia, em outubro de 2019, houve um amadurecimento a este respeito. Um fato peculiar ocorreu então. Quando um sínodo termina, aqueles que participaram e todos os bispos do mundo são consultados sobre o tema que gostariam de ver na agenda do próximo sínodo. O primeiro tema mencionado foi o sacerdócio e depois a sinodalidade. Aparentemente, este foi um tema compartilhado por todos os bispos que sentiram que era hora de abordá-lo.
Por ocasião do 50º aniversário deste órgão permanente do Sínodo dos Bispos, os teólogos já haviam feito um balanço do mesmo em um documento. Percorremos um longo caminho, estamos aqui agora e devemos seguir em frente. É o que estamos fazendo através do atual processo sinodal. Os dois sínodos sobre a sinodalidade nos ajudarão a esclarecer o significado e o método da tomada de decisões na Igreja.
É importante deixar claro que um sínodo não é um parlamento. Um sínodo não é uma pesquisa de opinião à esquerda e à direita. Não. O principal protagonista de um sínodo é o Espírito Santo. Se o Espírito Santo não está presente, não pode haver sínodo. Um sínodo é uma experiência eclesial cujo presidente e ator principal é o Espírito Santo. O Espírito trabalha de duas maneiras.
Primeiro, Ele transforma o sínodo em um canteiro de obras. Pense na manhã de Pentecostes: que canteiro de obras! Com sua profusão de carismas, o Espírito parece criar a desordem e o caos. E, no entanto… Ele cria a ordem! Ou, ao contrário, é melhor dizer que Ele cria a harmonia: uma espécie de ordem superior. Não é por acaso que São Basílio de Cesareia [c. 330-379, nota do editor] escreve em seu tratado sobre o Espírito Santo, quando ele quer definir este Espírito: “Ipse harmonia est”, “Ele próprio é a harmonia”. E é precisamente isso que se experimenta em um sínodo. Considerar um sínodo como um parlamento é um erro. O sínodo é uma assembleia de crentes – disse o Papa Francisco nessa entrevista ao semanário Belga.
O Papa argentino concluiu assim a sua fala a respeito do Concílio: “Outra coisa interessante: em um sínodo, conversa-se muito. Cada participante, por sua vez, faz um discurso de quatro minutos. Depois de três intervenções, seguem-se agora sempre quatro minutos de silêncio, um tempo de oração, para que o Espírito nos ajude. Considerar um sínodo como um parlamento é um erro. O sínodo é uma assembleia de crentes. É uma assembleia de fé guiada pelo Espírito Santo, mas também tentada e seduzida pelo espírito maligno!”.”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Fonte: Vatican News