Confira os detalhes do nó tático de Luxa na classificação épica do Corinthians

Esportes

Treinador mudou o esquema para o 3-4-1-2, alterou o jeito do Corinthans defender e posicionou Renato e Róger Guedes para explorar as lacunas do Galo

O Corinthians nunca está morto. É assim que Vanderlei Luxemburgo resume o espírito do torcedor após a vitória por 2 a 0 no tempo normal e depois nos pênaltis que fez o Timão conseguir uma classificação épica na Copa do Brasil.

Luxa, que completa um mês de trabalho exatamente no dia 1º de junho, surpreendeu com uma escalação inédita, com três zagueiros e Renato Augusto de volta ao time.

O que aconteceu em campo foi um nó tático de Luxa em Coudet na melhor atuação da equipe no ano. As mudanças deram certo e conseguiram bloquear totalmente o Galo de Eduardo Coudet. Vamos aos detalhes abaixo:

Três zagueiros e Bidu como ala
O Corinthians jogou com Bruno Mendéz, Gil e Murillo lá atrás. Fágner foi o ala direito, e Luxa colocou Matheus Bidu como um ala do lado esquerdo. Ele voltava para marcar no campo de defesa (como você vê na imagem) no mesmo setor de Fágner. Vera e Maycon foram os volantes e protegiam a entrada da área para Renato Augusto não precisar se desgastar e voltar tanto.
Corinthians com três zagueiros: formação inédita com Luxa — Foto: Reprodução
Corinthians com três zagueiros: formação inédita com Luxa — Foto: Reprodução
Bloco médio de marcação e saída do Galo travada
Luxa colocou o Corinthians para marcar num bloco médio. O time não ficava lá atrás, mas também não avançava para pressionar o goleiro, com todo mundo em cima. Com isso, Renato ficava mais próximo de Yuri e Roger e ajudava a abafar a saída de Otávio e Zaracho no time do Galo.

A imagem abaixo mostra essa tática acontecendo. Yuri e Roger abafam (a marcação começa sempre no ataque) e Renato meio que “descansa”, fica mais à frente. Com isso, Otávio não tem ninguém do seu time aparecendo para receber numa condição mais confortável. Não adianta ter 60% a 65% de posse de bola sem chegar com perigo no ataque.
Saída do Galo foi travada pelo ataque do Corinthians — Foto: Reprodução
Saída do Galo foi travada pelo ataque do Corinthians — Foto: Reprodução
Encaixes de marcação com zagueiros “caçando” no meio
Luxa tinha um plano se essa marcação na saída de bola não desse certo. Foram os tradicionais “encaixes por setor”, método sem a bola que Luxemburgo leva para todas as suas equipes e é muito comum no futebol brasileiro antes dos anos 2010.

Como funciona? Sem a bola, todo mundo tem um alvo. Escolhe um adversário e acompanha ele para não deixar jogar. Pode tanto fazer falta como tentar roubar a bola, a ideia é que ninguém do outro lado apareça livre. Aqui na imagem, Fágner sobe para marcar seu alvo, o lateral Patrick. Perceba que Maycon também escolhe outro alvo.
Fágner sobe e escolhe o alvo — Foto: Reprodução
Fágner sobe e escolhe o alvo — Foto: Reprodução
O Galo troca passes e as movimentações acontecem. O que o Timão faz? Marca essas movimentações de perto! Veja que Fágner acompanhou Patrick até o meio. Ele não está mal posicionado, não tem que fechar o lado sendo ala? Não, pois os encaixes permitem que os jogadores saiam de suas “casinhas” desde que acompanhem o outro lado.
Veja que Gil saiu lá de trás para acompanhar seu alvo. E quando Bruno Mendéz vê que Igor Gomes está livre, ele sai de trás também e acompanha. Olhe para a imagem e se pergunte: quem do Galo consegue receber a bola no gol? Ninguém, até porque Maycpn está cobrindo o setor vazio.
Encaixes do Corinthians deixaram Galo sem eficiência na partida — Foto: Reprodução
Encaixes do Corinthians deixaram Galo sem eficiência na partida — Foto: Reprodução
Renato Augusto pensando o jogo no meio
Sem a bola, Renato ajudava na marcação e tinha a cobertura de Yuri Alberto. Com a bola, ele circulava mais por trás, recebendo a bola de Maycon e pensando para os alas. Renato atuou como típico camisa 8 e não precisava se movimentar por todo o campo: ele ficava numa faixa central, entre o círculo e o ataque.

Quando o time perdia a bola, Renato não tinha obrigação de ir o tempo todo para frente. Retornava até o próprio campo só quando toda a equipe se defendia. Dessa forma, Luxa conseguiu que ele não percorresse tantos metros, o que preservou a forma física do jogador.
Mobilidade de Roger Guedes, nas costas dos volantes
O Corinthians atacou com Bidu e Fagner avançados e Renato mais por trás. Roger Guedes e Yuri Alberto tinham muita liberdade para buscar os espaços “entrelinhas” do Galo, sem guardar posição o tempo todo. No primeiro gol, Roger aparece por dentro. No segundo, ele joga mais pelo lado esquerdo.
Apesar de ter chamado Roger de ponta em entrevistas recentes, Luxa já entendia que o camisa 10 corintiano é um segundo atacante que gosta de jogar nesses espaços vazios. A novidade é que o Timão jogou quase com dois extremos de movimentação, já que Yuri fazia esses movimentos. A defesa do Galo não conseguiu acompanhar em nenhum momento.
Roger Guedes busca o espaço “entrelinha” do Galo — Foto: Reprodução
Roger Guedes busca o espaço “entrelinha” do Galo — Foto: Reprodução
O Corinthians renasceu na temporada.
Está fora da zona de rebaixamento do Brasileirão, depende apenas de si para classificar na Libertadores e está a seis jogos do título da Copa do Brasil.
E o começo de tudo é um nó tático de Vanderlei Luxemburgo numa noite épica em Itaquera.

Fonte: GE