Conversas entre procuradores e autoridades envolvidas em diversas fases da Operação Lava Jato indicam que os responsáveis pela investigação atuavam informalmente em conjunto com supostos agentes infiltrados para obtenção de provas contra determinados alvos.
Os diálogos aos quais a CNN obteve acesso com exclusividade estão presentes no inquérito da Operação Spoofing, que tramita sob segredo de justiça e investiga a interceptação de mensagens de autoridades, entre elas o ex-juiz da Lava Jato e atual senador pelo União Brasil do Paraná Sergio Moro.
Câmara dos Deputados. De acordo com o ex-parlamentar, ele foi incitado pelo ex-procurador a continuar obtendo provas mesmo depois de já ter cumprido o acordo que o favorecia.
“Depois que meu acordo já tinha sido todo cumprido, o Deltan chegou a suprimir depoimento de gente que levei para revelar algumas coisas que aconteciam aqui. Ele queria continuar comigo com a faca no pescoço. Eles foram fazendo isso e começaram a escalar isso em 2014, quando veio a Lava Jato”, explica.
O que vem à tona
As novas mensagens vazadas que decorrem da Operação Spoofing e que foram validadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que o método de utilizar agentes infiltrados acontece pelo menos desde 2005, com o mesmo personagem, Tony Garcia, que foi usado como exemplo de sucesso por procuradores do Ministério Público Federal (MPF).
De acordo com os diálogos de 4 de agosto de 2015 e que resultaram na prisão de José Antunes Sobrinho, na 19ª fase da Operação Lava Jato, sócio da empreiteira Engevix, o procurador Athayde Ribeiro Costa se mostra preocupado.
Mensagem enviada às 19:48:04: “O colaborador vai ligar para o investigado e perguntar sobre documentos q [sic] seriam produzidos para lastrear contrato fictício. A gravação da ligação seria autorizada judicialmente e operada na sede da PF. Seria flagrante preparado/esperado? Teríamos problemas com essa prova?”
O procurador Januário Paludo, destinatário da mensagem, tranquiliza o colega e diz que já faz isso desde 2005.
Mensagem enviada às 20:17:40: “Em 2005 fizemos várias escutas ambientais a partir do escritório do colaborador (operação tnt). O colaborador marcava reunião e a conversa fluía sem provocação direta. Não anularam. Teria que recuperar a jurisprudência. O colaborador era o Tony Garcia.”
Depois de ser tranquilizado pelo colega, Athayde comemora prevendo o que iria acontecer.
Mensagem enviada às 21:08:20: “A medida já foi deferida… Heheh”.
De acordo com documentos, apesar de se utilizar de a figura do agente infiltrado e se valer desse método para atingir alvos, o MPF não anexou as provas no processo em um primeiro momento, o que indica a ilegalidade do cenário.
“No entanto, quando do encaminhamento do feito a este Juízo, parte dos registros audiovisuais da diligência de monitoramento não foi apensada aos autos, tendo sido expedido ofício ao Juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR solicitando tal encaminhamento”, diz o documento.
Outro Lado
A CNN procurou a assessoria de imprensa do MPF para comentar a suposta associação e, até o momento, não obteve respostas.
A assessoria de Deltan Dallagnol optou por não comentar o caso.
Os procuradores Athayde Ribeiro Costa e Januário Paludo não retornaram os contatos feitos pela reportagem.
Fonte: CNN