JOVEM AUTISTA MORADOR DE PADRE MIGUEL VENCE AS DIFICULDADES E SE TORNA UMA GRANDE PROMESSA DO BASQUETE BRASILEIRO

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O ano era 2021, quando Charlison de Sá decidiu arriscar. Sonhando com uma vida melhor, o garoto introspectivo com mais de 1,90m inscreveu-se numa peneira das divisões de base do basquete do Botafogo. O porte físico e o talento agradaram aos olheiros num primeiro momento. Contudo, o menino apresentava rompantes de apatia e desconcentração durante as partidas e demais atividades. Foi aí que entrou a figura do diretor de basquete do Botafogo, Carlos Salomão, que resolveu bancar a aprovação do atleta. Charlison é um dentre os mais de 2 milhões de brasileiros diagnosticados com autismo.

  • Ele tinha um tamanho diferenciado, cara alto, forte, mas que apresentava limitações cognitivas. Ele não conseguia reproduzir o pedido dos treinadores. Eles não o aprovaram. O Charlison percebeu, com certeza, e, num dado momento, eu vi aquele menino tímido se aproximando de mim. Ele me olhou e falou baixinho que precisava de ajuda para ser aprovado. Perguntei por que ele queria jogar no Botafogo. Ele respondeu: “Me deixa tentar ser bom em alguma coisa na minha vida”. Aquilo mexeu comigo – contou o dirigente.

A aprovação na peneira foi o salto na vida de Charlison. Hoje, aos 15 anos, o adolescente morador de Padre Miguel é um dos destaques das divisões de base do Botafogo. Ele também já integra as seleções brasileiras da sua idade, possuindo um vasto currículo de conquistas em apenas dois anos no alto rendimento.

  • O basquete mudou muito a minha vida. Antes do basquete eu não fazia nada. Pô, eu fui a Santa Catarina, Espírito Santo, São Paulo… Vários lugares que eu nunca podia imaginar. Eu acho que eu posso chegar lá. Quero ser jogador profissional de basquete. Quero me destacar e fazer muito sucesso. A minha família tem muito orgulho de mim, de estar honrando ela, de estar trazendo muita felicidade aos meus pais, à minha avó… Quero ajudar todos quando puder. E eu vou conseguir – disse Charlison.

Não bastasse a evolução em quadra, o esporte proporcionou a Charlison uma grande melhoria em seus quadros cognitivos. De super calado, fechado e desconcentrado, o adolescente tornou-se mais expansivo, o que faz a psicóloga do Botafogo, Luiza Salatino, acreditar que o grau de autismo do atleta evoluiu de moderado para leve desde a chegada a General Severiano há dois anos.

Charlison mora com a mãe, irmã, sobrinho e avó num pequeno apartamento no Conjunto Residencial Dom Jaime Câmara, que atravessa os bairros de Bangu e Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. Separada do pai, a mãe, Angélica, de 37 anos, também é ligada ao esporte. Ex-atleta de basquete, ela joga vôlei num time local quando não está trabalhando como cuidadora de idosos.

Enquanto não chega aos profissionais, Charlison se desdobra para conciliar o basquete com a vida escolar. Deslocando-se sempre de transporte público – às vezes sozinho, outrora acompanhado da mãe -, o adolescente está matriculado numa escola particular no Méier graças a uma bolsa de estudos conseguida pelo Botafogo.