500 dias de guerra: Ucrânia tem apoio internacional, e Rússia enfrenta crise interna

Internacional

Volodimir Zelensky e Vladimir Putin seguem em disputa de narrativa e cessar-fogo está longe de ser uma realidade

as ofensivas têm reflexos distintos para cada um dos lados.

  • Compartilhe esta notícia no WhatsApp
  • Compartilhe esta notícia no Telegram

“Do ponto de vista da guerra, quem está fortalecido é a Rússia, que detém centenas de milhares de soldados que não vão abrir mão de suas posições”, afirma o professor de relações internacionais James Onnig, da Facamp (Faculdades de Campinas). “Porém, do ponto de vista da comunidade internacional, existe apoio à Ucrânia, o que passa a impressão de que o país tem respaldo.”

Desde o dia em que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a invasão do território ucraniano, há uma mobilização dos Estados Unidos e de países da União Europeia para enfraquecer Moscou e dar o apoio necessário a Kiev. O poder militar, político e econômico da Rússia é muito superior ao da Ucrânia, e é esse suporte do Ocidente que permite ao presidente Volodimir Zelensky seguir com seus homens resistindo no front.

Dados do relatório anual do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), divulgados em maio de 2023, revelam que, apesar de a Ucrânia ter aumentado em 640% seus gastos militares, o país não está nem entre as dez nações que mais investem em suas forças armadas. No ano em que a guerra começou, o país teve um investimento de 44 bilhões de dólares (R$ 220 bilhões) e subiu da 36ª para a 11ª posição da lista.

A Rússia, por sua vez, aumentou seus gastos em 9%, saltando para 86 bilhões de dólares (R$ 437 bilhões). O país está entre aqueles que mais investem na área militar, com outras potências, como os Estados Unidos e a China.

Popularidade de Zelensky X crise de imagem de Putin
O líder ucraniano e o líder russo tentam usar o conflito para divulgar a própria imagem e a versão de cada um sobre a guerra para o mundo.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, não só tem o apoio da comunidade internacional, como, ao longo de 500 dias de guerra, virou uma espécie de “popstar” na Europa.

O ex-comediante, que foi eleito presidente da Ucrânia, já discursou para as autoridades em diversos países da Europa e também para o Congresso dos Estados Unidos. Com uma boa oratória e falas que aproveitavam o contexto de cada público para dizer sobre os horrores da guerra, Zelensky ganhou enorme visibilidade.

A revista Time elegeu Zelensky a “Pessoa do Ano” em 2022. Em março do ano passado, ele e a primeira-dama, Olena Zelenska, estamparam as capas da Caras de Portugal e da revista portuguesa Nova Gente.

Putin, por sua vez, tem a imagem afetada negativamente pela guerra. Episódios como o massacre de civis em Bucha, os ataques contra hospitais e prédios residenciais e a tensão pelo risco de um desastre nuclear na usina de Zaporizhia contribuem para que o líder russo tenha uma imagem negativa diante do ocidente.

O recente motim do grupo paramilitar Wagner também afetou a imagem de Putin e causou uma crise interna no governo russo. Os soldados financiados por Moscou, que foram responsáveis por muitas das conquistas em território ucrâniano, se rebelaram contra a autoridade do ministro da defesa Serguei Shoigu, e deixaram explícita uma falta de unidade e uma dificuldade do governo russo de seguir com suas ofensivas.

Para o historiador Rodrigo Ianhez, o governo Putin tentou contornar a narrativa e atribuiu a falha do motim à “união do povo russo”. Apesar disso, é “inevitável” que a situação criada, “de grande incerteza e possibilidade de mercenários atacarem o país”, tenha gerado uma nova crise de imagem para Putin.

O professor Onnig declara que a tentativa de rebelião do grupo Wagner não enfraqueceu o governo Putin, mas certamente gerou um desgaste para a imagem do presidente russo. O ocorrido expôs as desavenças entre a estratégia do Exército e a de grupos mercenários, bem como questionamentos quanto ao alto-comando das Forças Armadas.

Quando acaba?

Os especialistas são enfáticos ao afirmar que a guerra na Ucrânia está longe de acabar. Enquanto o professor da Facamp, James Onnig, acredita que o conflito deve durar mais 500 dias, Ianhez diz que, “como historiador, não gosto de fazer previsões”. “Mas o fato é que nenhum dos dois tem demonstrado interesse concreto em fazer alguma negociação”, lamenta.

Fonte:R7