Os prelados de Cerao, Cebn e Nigéria denunciam o risco de que depois do golpe o país possa se tornar uma “segunda Líbia”. Uma vez que o ultimato expirou, agora se caminha para uma prorrogação. Na quinta-feira, a reunião da CEDEAO. O alerta de Burkina Faso, Mali e Guiné: um ataque seria uma declaração de guerra para todos nós.
Não ao uso da força no Níger, que corre o risco de se tornar uma “segunda Líbia”. As Conferências Episcopais Regionais da África Ocidental (Cerao) e dom Lauren Debiré, presidente da Conferência Episcopal de Burkina Faso e Níger (Cebn), manifestam preocupação pelas consequências do golpe de estado no Níger em 26 de julho e, ao mesmo tempo, a solidariedade eclesial e a proximidade espiritual ao país africano. Numa mensagem assinada por dom Alexis Touably Youlo, presidente do Cerao, os bispos da África Ocidental asseguram o seu apoio aos seus irmãos do Níger, garantindo que não estão “indiferentes ao sofrimento” que o país tem vivido nas últimas semanas. Além disso, Cerao sublinha o papel que os prelados nigerianos devem desempenhar para manter a paz em seu país, “começando pelo mais importante, o ministério da oração”. Os bispos da África Ocidental, portanto, se comprometem a rezar “por uma resolução pacífica e definitiva da crise atual”.
Os bispos do Níger e de Burkina Faso: não à intervenção armada
Dom Dabiré, por sua vez, manifesta “grande preocupação e inquietação” pelos prelados destes dois países do Sahel. É extremamente alarmante, escreve, saber que “o espectro da guerra” está entre as soluções previstas para pôr fim à crise, que faz pensar na possibilidade de uma “segunda Líbia”, enquanto as consequências desastrosas da desestabilização continuam causando “terríveis sofrimentos às populações do Sahel”. Os bispos da Cebn declaram, portanto, que não acreditam na “solução da força” ao dizer “claramente não” à intervenção armada proposta pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). A Cebn então expressa seu “apoio fraterno” e sua “solidariedade eclesial” com os bispos do Níger, comprometendo-se a rezar por uma paz duradoura e por uma resolução pacífica da crise naquele país e no Sahel.
Os bispos da Nigéria: não desperdiçar vidas preciosas
A Conferência Episcopal da Nigéria também expressa sua oposição à guerra. Com uma declaração de seu presidente, dom Lucius Iwejuru Ugorji, arcebispo de Owerri, os bispos pedem ao presidente nigeriano, Bola Ahmed Tinubu, que dissuada os chefes de Estado da CEDEAO da tentação de guerrear contra os golpistas “para evitar o derramamento de sangue que se seguiria com a intervenção militar”. “Desperdiçamos muitas vidas na África – lê-se – também desperdiçamos vidas preciosas na Nigéria e não podemos continuar desta maneira horrível, seja qual for o motivo”.
Não à solução militar, sim à opção diplomática
A União Europeia (UE), por seu lado, fala de um possível espaço de mediação, pelo menos até quinta-feira, dia em que se realiza uma reunião da CEDEAO, à qual a UE garante total apoio, uma vez que “esta é a instituição responsável por enfrentar a situação no Níger. Em 26 de julho de 2023, as Forças de Defesa e Segurança do Níger (FDS) anunciaram que tinham derrubado o presidente Mohammed Bazoum, eleito em 2021, criando um órgão denominado Conselho Nacional para a Proteção da Pátria (CNSP), liderado pelo general Abdourahamane Tiani, ex-chefe da guarda presidencial. Vários países e organizações, incluindo a ONU e a União Europeia, condenaram o golpe de estado e apelaram ao retorno à ordem constitucional. Três dias depois, a União Africana pediu, no prazo de quinze dias, a restauração da “autoridade constitucional”. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), ao exigir a libertação do presidente Bazoum e a devolução do poder ao legítimo governo civil, impôs sanções financeiras, levando em consideração a intervenção armada, dando um ultimato que expirou a 6 de agosto e convocando uma reunião de emergência para amanhã, quinta-feira (09/08), em Abuja.
O ultimato dos países vizinhos
Burkina Faso e Mali, vizinhos do Níger, assim como Guiné, também governados pelo Exército e em parte que lutam contra a violência jihadista, enviaram mensagens de apoio ao CNSP e alertaram que uma intervenção armada seria “uma declaração de guerra” aos seus países. O presidente argelino Abdelmajid Tebboune também rejeitou qualquer intervenção militar no Níger, pois seria “uma ameaça direta à Argélia”. Muitos outros países apoiam a opção diplomática por uma solução pacífica para a crise.