Pedro volta a ser utilizado no time principal após episódio com Pablo Fernández, e Luiz Araújo muda a cara da equipe no segundo tempo
O Flamengo continua nas cordas desde o episódio em que Pablo Fernández deu um soco no rosto de Pedro, ocorrido após vitória sobre o Atlético-MG em Belo Horizonte, no último dia 29. Na sequência, venceu o Olimpia jogando mal e deu vexames contra Cuiabá e o próprio Olimpia, desta vez no Paraguai. Neste domingo, diante dos reservas do São Paulo, mais uma decepção: um insosso empate por 1 a 1 e várias posturas que reforçam a preocupação de sua torcida. A reação tardia deu alguma esperança, porém o tropeço só trouxe mais frustração.
O gol do São Paulo, o único lance interessante do primeiro tempo, reflete bem algo que vem sendo citado constantemente: o quanto compete pouco esse Flamengo nas últimas semanas. Lucas Moura recebeu na intermediária, e Thiago Maia, embora tivesse perto, observou o adversário pedalar no vazio, avançar e, em cinco segundos, finalizar no canto direito de Matheus Cunha.
Antes de o camisa 7 são-paulino chutar, Wesley tentou a aproximação, mas, ciente de que tinha cartão amarelo (tomou no início do jogo em lance de afobação), evitou o bote. Tremenda facilidade para Lucas entrar e bater.
Mas não apenas a descrição detalhada do lance que retrata o primeiro tempo merece destaque. Se houve desatenção ou falta de poder de reação de Maia no gol, ele não foi o único que esteve mal. Os laterais Wesley, já citado, e Ayrton Lucas estiveram muito abaixo. Ayrton, que recentemente esteve na Seleção, parece ter perdido a confiança.
Bruno Henrique consegui dar um tapa na frente, mas errou tomada de decisão e o cruzamento que erradamente decidiu fazer na direção de Gabigol. O camisa 10, por sua vez, novamente saiu demais da área e não conseguiu ser efetivo na armação.
O Flamengo era um deserto de ideias, e a falta de comunicação entre os setores obrigava os zagueiros – ambos com atuações seguras – a subirem para o campo de defesa adversário e participar frequentemente da construção.
Arrascaeta era quem tentava fazer algo de diferente, com lançamentos e a busca pelos atacantes com arrancadas e passes verticais. Num destes, deixou Gabigol na boa, mas o camisa 10 parou em grande defesa de Jandrei. Talvez com o apoio de outra peça criativa, como Gerson, Luiz Araújo ou Everton Ribeiro, Arrasca poderia municiar BH e Gabigol de melhor forma. Poderia…
Saída de Arrascaeta gera revolta; Luiz Araújo e Pedro evitam nova derrota
O “poderia” colocado acima se dá pela questionável substituição de Arrascaeta, meia mais criativo do elenco e um dos poucos que tentava acelerar o jogo. O anúncio da mexida nos telões e no sistema de som do Maracanã provocou reação imediata com os gritos de “burro”. Além dele, Thiago Maia saiu. Entraram Gerson e Everton Ribeiro.
O Coringa levou o Flamengo para frente, participou da maioria das construções ofensivas pelo lado esquerdo e bateu em gol. Em dois lances, porém, dribles a mais por cálculo equivocado das jogadas o impediram de ser decisivo. Everton Ribeiro não conseguiu fazer o mesmo e foi mais discreto.
Pedro entrou aos 17 minutos, no lugar de Gabigol. Também sofreu com um sistema de jogo que prejudica centroavantes. Coube a ele brigar por bolas aéreas e, com o bom domínio de bola que tem, ganhar disputas. Mas o camisa 9 pôde participar ainda mais diante da entrada de Luiz Araújo, aos 31.
Luiz Araújo mudou a cara da equipe com muita movimentação e dribles em alta velocidade sempre na direção do gol. O bom entendimento com Pedro veio num lance característico do centroavante. Fabrício Bruno deu uma espanada para frente, e o 9 fez o pivô dominando bola difícil, deu dois dribles e deixou para Ribeiro passar a bola no ponto futuro. Luiz recebeu, cortou e chutou com perigo.
De tanto tentar pela direita, Luiz Araújo conseguiu pênalti nos acréscimos. Recebeu na ponta, cortou dois adversários e foi tocado. Pedro, em seu primeiro jogo com o time principal desde o episódio em que foi agredido no vestiário (iniciou contra o Cuiabá numa partida em que Sampaoli começou com apenas dois titulares absolutos), pegou a bola. Bateu forte e evitou a derrota do Flamengo.
Allan faz seu melhor jogo
Após partidas marcadas por irregularidade, Allan foi bem. Os lançamentos longos apareceram, e o jogador se apresentou como elemento surpresa para bater em gol. Errou alguns passes bobos, mas fez cinco desarmes. No fim, Léo Pereira ia entregando o ouro no meio-campo, e o volante apareceu de forma providencial.
Luiz Araújo mostrou merecer mais minutos e ter capacidade para mudar a característica de um time. O jogo também deixou claro que Pedro precisa voltar a ter tratamento condizente com sua qualidade técnica. Não se trata de ser titular absoluto, mas não cabe virar um reserva que entra no fim das partidas ou que às vezes nem tampouco é utilizado. A torcida vibrou quando foi chamado do aquecimento.
Parte do segundo tempo mostrou um Flamengo pontualmente mais lutador, algo que não vinha acontecendo desde a crise explodida pela agressão em Belo Horizonte, porém faltou repertório. É necessário destacar que, apesar do peso da camisa, o São Paulo veio ao Maracanã com um time reserva e precisou de apenas um chute no primeiro tempo para sair com o empate. Em contra-ataques na etapa final por pouco não matou o jogo.
Portanto essa sutil reação é pouco. Muito pouco diante de um Flamengo que sonhava com temporada de muitos títulos e que atualmente aparenta ter condições de conquistar apenas um. Isso se conseguir conquistar diante de um momento tão conturbado e de desconfiança.
Fonte: Ge