A vida cotidiana não é um conjunto de mesquinharias, em que um dia passa após o outro e nós apenas os assistimos enquanto caminhamos — indiferentes, apáticos — à deriva.
Não foi para isso que fomos criados. Se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, quão grande não deve ser essa imagem?
Nosso propósito é a grandeza celeste, ainda que por meio da nossa miséria presente, pois nossa existência reflete a grandeza daquela luz que vem de uma fonte que não se esgota.
E, sim, nós podemos refleti-la nos deveres diários, nas obrigações cotidianas, na simplicidade corriqueira.
Mas não o faremos na apatia ou na indiferença.
As coisas só ganham esse sentido se nós assim decidirmos — se cada acordar, cada respirar, fazer e sofrer forem entregues a Deus.
Aquele “eu trabalho, e isso basta” e o “eu não tenho tempo, mas o trabalho é a minha oração” não são suficientes e não darão testemunho em nosso favor na hora derradeira.
Cristo nos busca em nossa realidade, no lugar onde estamos, para fazermos parte do seu Reino. Mas o encontro com Ele só acontecerá se também nós estivermos à Sua procura.
Ele mesmo nos avisou, afinal:
“Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos digo: ele há de cingir-se, dar-lhes à mesa e os servirá. Se vier na segunda ou se vier na terceira vigília e os achar vigilantes, felizes daqueles servos!” (Lc 12, 37-38)
O que o tão mal-compreendido santo do cotidiano nos aponta não é que a glória pode ser alcançada através da mediocridade ou da apatia.
Mas que é na atividade diária, quando constantemente exercida com os olhos para o Alto, que o caráter do cristão se desenvolve em disciplina e em verdade.
Aí sim, o menor ato, feito com a mente em Deus, pode tornar-se grandioso.
E o menor aborrecimento, suportado com o coração em Deus, tornar-se divino.
Como São Josemaría mesmo dizia, nós não podemos ser indiferentes quando um homem morreu para nos livrar da morte.