Francisco recebeu em audiência Baselios Marthoma Mathews III, Catholicos da Igreja Ortodoxa Siro-Malankar, pela primeira vez no Vaticano desde a sua eleição em 2021. Em seu discurso, o Pontífice enalteceu o trabalho do “ecumenismo pastoral” traduzido em acordos e decisões comuns. Recordou que um delegado da Igreja Ortodoxa Siro-Malankar participará da próxima Assembleia do Sínodo dos Bispos.
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (11/09), no Vaticano, Sua Santidade Baselios Marthoma Mathews III, Catholicos do Oriente e Metropolita da Igreja Ortodoxa Siro-Malankar, e sua comitiva.
Francisco agradeceu a Deus “pelos laços criados nas últimas décadas”. “A aproximação de nossas Igrejas, após séculos de separação, começou com o Concílio Vaticano II, ao qual a Igreja Ortodoxa Siro-Malankar enviou alguns observadores. Naquele mesmo período, São Paulo VI se encontrou com o Catholicos Baselios Augen I, em Bombaim, em 1964. Agora, sua vinda aqui ocorre no quadragésimo aniversário da primeira visita a Roma de um Catholicos de sua querida Igreja, realizada, em 1983, por Sua Santidade Baselios Marthoma Mathews I, a quem três anos depois São João Paulo II visitou na Catedral de Mar Elias, em Kottayam”, disse ainda o Papa. “Este ano também marca o 10º aniversário do abraço fraterno com seu predecessor imediato, Sua Santidade Baselios Marthoma Paulose II, de abençoada memória, que tive a alegria de receber no início do meu pontificado, em setembro de 2013”, sublinhou Francisco.
Caminhar juntos
A seguir, o Santo Padre saudou “fraternalmente os bispos, o clero e os fiéis da Igreja Ortodoxa Siro-Malankar, cujas origens remontam à pregação do Apóstolo Tomé”. Francisco deseja que as duas Igrejas celebrem juntas o aniversário de 1700 anos do primeiro Concílio Ecumênico, o de Nicéia.
“Agora, as divisões que ocorreram ao longo da história entre nós, cristãos, são lacerações dolorosas infligidas ao Corpo de Cristo, que é a Igreja. Ainda sentimos as consequências. Mas, se juntos colocarmos a mão nessas feridas, se juntos, como o Apóstolo, proclamarmos que Jesus é nosso Senhor e nosso Deus, se com um coração humilde nos confiarmos à sua graça, poderemos apressar o tão esperado dia em que, com sua ajuda, celebraremos o mistério pascal no mesmo altar. E que chegue logo!”
“Enquanto isso, querido irmão, caminhemos juntos na oração que nos purifica, na caridade que nos une, no diálogo que nos aproxima”, disse ainda o Papa. “Penso de modo especial na criação da Comissão Mista Internacional para o diálogo entre nossas Igrejas, que levou a um acordo cristológico histórico, publicado no Pentecostes de 1990”, sublinhou o Papa. Segundo Francisco, “trata-se de uma Declaração Conjunta, que afirma que o conteúdo de nossa fé no mistério do Verbo Encarnado é o mesmo, embora tenham surgido diferenças de terminologia e ênfase na formulação ao longo da história. De forma admirável, o documento declara que «essas diferenças são tais que podem coexistir na mesma comunhão e, portanto, não nos dividem nem devem nos dividir, especialmente quando anunciamos Cristo aos nossos irmãos e irmãs em todo o mundo em termos que podem ser facilmente compreendidos». Anunciar Cristo une, não divide; o anúncio comum de nosso Senhor evangeliza o próprio caminho ecumênico”.
Ecumenismo pastoral
Segundo o Papa, “a partir da Declaração Conjunta, a Comissão reuniu-se quase todos os anos em Kerala e deu frutos, promovendo a colaboração pastoral para o bem espiritual do Povo de Deus”. Francisco recordou “com gratidão os acordos de 2010 sobre o uso comum de locais de culto e cemitérios, bem como sobre a possibilidade de os fiéis receberem a unção dos enfermos, em determinadas circunstâncias, numa ou noutra Igreja. Este é um bom acordo”.
“Louvo a Deus pelo trabalho desta Comissão, focado sobretudo na vida pastoral, porque o ecumenismo pastoral é o caminho natural para a plena unidade. Como tive oportunidade de dizer à Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais, da qual a sua Igreja também é membro desde o início, desde 2003, «o ecumenismo tem sempre um caráter pastoral».”
De fato, é avançando fraternalmente no anúncio do Evangelho e no cuidado concreto dos fiéis que nos reconhecemos como um único rebanho de Cristo a caminho. Nesse sentido, espero que os acordos pastorais entre nossas Igrejas, que compartilham a mesma herança apostólica, possam se estender e aumentar, especialmente em contextos em que os fiéis se encontram em situação de minoria ou diáspora. Alegro-me também pela sua participação ativa nas visitas de estudo para jovens sacerdotes e monges, organizadas anualmente pelo Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, visitas que contribuem para uma melhor compreensão entre os pastores. E isso é muito importante.
Sinodalidade e ecumenismo
“Em nosso caminho para a unidade plena, outro caminho importante é o da sinodalidade”, disse o Papa, manifestando satisfação com o fato de que um delegado fraterno da Igreja Ortodoxa Siro-Malankar participará da próxima sessão da Assembleia do Sínodo dos Bispos. “Estou convencido de que podemos aprender muito com a experiência sinodal secular de sua Igreja. De certa forma, o movimento ecumênico está contribuindo para o processo sinodal em andamento da Igreja Católica, e espero que o processo sinodal possa, por sua vez, contribuir ao movimento ecumênico. Sinodalidade e ecumenismo são, de fato, dois caminhos que seguem juntos, partilhando o mesmo objetivo, o da comunhão, que significa um melhor testemunho dos cristãos «para que o mundo creia». E não nos esqueçamos – e digo isso aos católicos – que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo, não nós”, sublinhou o Papa
“Que a contemplação comum do Senhor crucificado e ressuscitado favoreça a cura completa das nossas feridas passadas, para que diante dos nossos olhos, além de toda distância e incompreensão, Ele se destaque, “nosso Senhor e nosso Deus”, Senhor e Deus, que nos chama a reconhecê-lo e adorá-lo em torno de um único altar eucarístico. Que isso aconteça logo”, concluiu Francisco.