O Itamaraty confirmou nesta terça-feira (10/10) a morte do gaúcho Ranani Nidejelski Glazer, de 23 anos, e da carioca Bruna Valeanu, de 24.
Ambos estavam em uma festa rave no deserto, a 5 km da Faixa de Gaza, quando foram atacados pelo grupo militante palestino Hamas em Israel no sábado (7/10). Desde então, os dois estavam desaparecidos.
O governo brasileiro confirmou a morte dos dois brasileiros na tarde desta terça.
“O governo brasileiro tomou conhecimento, com profundo pesar, do falecimento do cidadão brasileiro Ranani Nidejelski Glazer, natural do Rio Grande do Sul, vítima dos atentados ocorridos no último dia 7 de outubro, em Israel”, diz o comunicado do Ministério das Relações Exteriores.
“Ao solidarizar-se com a família, amigas e amigos de Ranani, o Governo brasileiro reitera seu absoluto repúdio a todos os atos de violência, sobretudo contra civis”, acrescenta o órgão.
Bruna morava na cidade de Petah Tikva, em Israel. Ela tinha se mudado para o país em 2015 e estudava comunicação social e sociologia em uma universidade em Tel Aviv.
“Ao solidarizar-se com a família, amigas e amigos de Bruna, o governo brasileiro reitera seu total repúdio a todos os atos de violência contra a população civil”, informou o governo brasileiro por meio de nota.
No sábado, homens armados cercaram o local onde a festa acontecia, lançaram granadas e dispararam contra os frequentadores, segundo relatos dos sobreviventes e vídeos que circulam nas redes sociais.
Mais de 260 pessoas morreram ali, segundo autoridades israelenses.
Glazer estava junto com outros dois brasileiros — a namorada, Rafaela Treistman, e o amigo, Rafael Zimerman.
Treistman disse à emissora CNN Brasil que os três — ela, Glazer e Zimerman — fugiram e se esconderam em um bunker ao ouvir os primeiros disparos.
Porém, o abrigo foi alvo de bombas de gás do Hamas, e ela ficou desorientada. Nesse momento, ela e Zimerman se perderam de Glazer.
“A gente não tinha como sair (de dentro do bunker). Tentamos ligar para a polícia. Enfim, se defendendo literalmente com os corpos das pessoas que morreram pela situação. Em algum momento, eu não vi mais o meu namorado. Não sei se ele levantou, se chegou a sair. Eu não vi mais ele. Eu estava muito desorientada. Eu desmaiava muito, desmaiava e acordava por causa do gás”, contou.
Segundo Zimerman, “quando saí do abrigo, dei de cara com a polícia”, afirmou ele ao jornal Folha de S.Paulo.
“Estava com a Rafaela. Mas o Ranani infelizmente não saiu com a gente. Chorei demais. Agradeci. O que falei com Deus não está escrito. Quando vi a Rafaela, só pensava em cuidar dela. Sair sem o Ranani foi uma dor enorme para ela”, acrescentou ele.
Havia por volta de 4 mil pessoas na festa rave.
O festival de música eletrônica foi criado pelo pai do DJ brasileiro Alok, Juarez Petrillo, conhecido como DJ Swarup. A versão em Israel foi promovida e organizada por um produtor local.
Um brasileiro segue desaparecido desde a eclosão do conflito, segundo o Itamaraty, que não revelou sua identidade.
‘Massacre’
Em vídeos compartilhados pelas redes sociais, dezenas de pessoas correm no deserto em meio a carros buzinando. Ao fundo, é possível ouvir o som de tiros.
“Pessoas foram mortas em todos os lugares”, relata Gili Yoskovich, uma das participantes do festival.
“Esse é um festival para jovens, e muitos deles morreram na estrada.”
“Quem tentava fugir era atingido pelas balas. Eles [os combatentes do Hamas] atiravam de todos os lados”, diz ela.
Em imagens aéreas feitas após o ataque, é possível ver um dos palcos do evento. Ao fundo, em uma área de floresta, há uma fumaça.
Ao redor, há dezenas de carros abandonados. Alguns estão queimados ou danificados.
Yoskovich descreveu à BBC como se escondeu debaixo de uma árvore em um campo enquanto homens armados atiravam em qualquer pessoa que encontrassem.
“Eles estavam ao lado dos carros e começaram a atirar, mas percebi que era muito fácil morrer ali.”
“Algumas pessoas estavam atirando em mim. Saí do carro e comecei a correr, vi um lugar com muitos pomelos [uma fruta cítrica] e fui até lá.”
“Eu estava no meio [deste campo], deitada no chão. Eles foram de árvore em árvore e atiravam.”
“Vi gente morrendo por todo lado. Fiquei muito quieta. Não chorei, não fiz nada.”
“Eu pensava: ‘OK, vou morrer. Está tudo bem, apenas respire e feche os olhos’, porque ouvia tiros de todos os lados, e tudo acontecia muito perto de mim.”
“Então ouvi os terroristas abrirem uma grande van para pegar mais armas. Eles ficaram na área por cerca de três horas.”
“Eu tinha certeza que o Exército viria, até ouvi alguns helicópteros. Mas não havia ninguém, apenas os terroristas.”
“Eles estavam muito perto de mim, minha perna tremia.”
‘Fingi estar morta’
Esther Borochov disse à Reuters que estava dirigindo quando o veículo dela foi atingido.
Um jovem dirigindo outro veículo parou e disse a ela que entrasse. Ela entrou no carro, mas o carro foi alvejado por tiros. O motorista foi baleado à queima-roupa.
Esther disse que fingiu estar morta até ser finalmente ser resgatada pelo Exército israelense.
“Não conseguia mexer as pernas”, disse ela à Reuters, já no hospital.
Muitos participantes do festival se esconderam em arbustos e pomares próximos por horas, esperando que o Exército chegasse e os resgatasse.
“Coloquei o telefone no modo silencioso e comecei a rastejar por um pomar de laranjeiras”, relatou Ortel.
“Os tiros passavam por cima de mim.”