Crônica: Chegou a hora, mas a hora não chega para ser, Fluminense

Esportes

A eternidade que se passou entre a classificação no 4 de outubro para a decisão deste 4 de novembro só não é maior do que a glória da final, tenha o resultado que tiver

Enquanto a hora não chega, o coração acelera, os tricolores ficam loucos e relembram tudo que passaram até aqui. Das unhas brigando com os dentes ao alívio dos gols de John Kennedy e Cano no Beira-Rio, tendo como um dos ápices da campanha o recital no Maracanã contra o maior rival do adversário desta final. “Ser Fluminense é entender esporte como bom gosto”.

Enquanto a hora não chega, mil cenários são montados no imaginário. A preocupação soma-se à apreensão e angústia de quem sabe tudo que aconteceu na outra final, e não há tricolor que desconheça. É consumir tudo para ver se o tempo passa um pouco mais depressa, como essa crônica, assistir aos vídeos e ler as reportagens. Alternar entre cabeça e coração ao mesmo momento. “Ser Fluminense é saber pensar ao lado de sentir e emocionar-se com dignidade e discrição”.

Enquanto a hora não chega, você prevê, projeta e sonha com esse dia. Com esse momento. Talvez houvesse instantes de maior confiança e menos questionamentos. Afinal, o time já jogou melhor e já esteve pior. Hoje, é quando você sabe que não tem problema se forem mal desde que a missão seja cumprida. “Ser Fluminense não é ser melhor mas ser certo”.

Enquanto a hora não chega, até quem não acredita em uma força maior pede a benção. Duvido que haja um ateu na arquibancada depois do primeiro apito. Se deu certo outra vez, por que não daria agora? Mas, claro, sem esquecer que também foram cabeças pensando um método e pés executando-o que levaram o time até esse lugar. Talvez esteja aí a tal conexão que Fernando Diniz gosta de relembrar entre a torcida e o estilo de jogo pouco usual. “Ser Fluminense é gostar de talento”.

Enquanto a hora não chega, vem a preparação. Cuecas, calcinhas e camisas estão prontas. Músicas, ensaiadas. Baterias, conjuntas. Tudo para evitar que qualquer excesso afete aqueles 11 que correspondem às expectativas de milhões. “Ser Fluminense é rejeitar abuso”.

Enquanto a hora não chega, pode-se dizer que a fé e o sonho do torcedor tricolor nunca estiveram tão juntos quanto neste 4 de novembro. A alma tricolor sabe o tamanho do significado de reencontrar o clube numa final de Conmebol Libertadores 15 anos depois do que aconteceu. “Ser Fluminense é unir caráter com decisão”.

Enquanto a hora não chega, é reconhecer o caminho até aqui. Lembrar do percurso faz pensar que todas as vitórias e derrotas dos anos passados valeram a pena. Por mais que o resultado registre o vencedor, há de se lembrar quem tem a melhor história. O Fluminense de 2023 escancara o que se colhe quando acredita em um trabalho de longo prazo e com o potencial de se perpetuar. “Ser Fluminense, enfim, é descobrir o melhor de cada um”.

Enquanto a hora não chegava, eu lia, relia e lia de novo a crônica “Ser Fluminense”. Meu avô, Artur da Távola era jornalista, político e tricolor e escreveu um texto para cada um dos quatro grandes do Rio. Por dois meses ele não viu a final de 2008. Há 15 anos ele não está mais aqui. E se ele resumiu o que é ser Fluminense, os tricolores condensam a história na Conmebol Libertadores com a primeira pessoa do plural do verbo “ser”. Chegou a hora.

Fonte: Ge