Como é difícil avaliar as distâncias em plena escuridão! Tanto pode haver uns quilômetros até o lugar do nosso destino, como apenas umas centenas de metros. Era essa a situação em que se encontravam os Profetas quando olhavam para o futuro, à espera da redenção do seu povo. Não podiam dizer, nem com uma aproximação de cem anos ou mesmo de quinhentos, quando é que o Messias chegaria. Só sabiam que um dia a estirpe de Davi voltaria a florescer, que um dia encontrariam a chave que abriria as portas da prisão; que a luz, que avistavam apenas como um ponto nebuloso no horizonte, haveria de ampliar-se por fim, até se transformar num dia perfeito. O Povo de Deus devia permanecer à espera.
Esta mesma atitude de expectativa é a que a Igreja deseja para os seus filhos em todos os momentos da sua vida. Considera como parte essencial da sua missão fazer com que continuemos a olhar para o futuro, ainda que estejamos há mais de 2000 anos daquele Natal que hoje a liturgia nos apresenta como iminente. E anima-nos a caminhar com os pastores, em plena noite, vigilantes, dirigindo o nosso olhar para a luz que jorra da gruta de Belém.
Quando o Messias chegou, poucos o esperavam realmente. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Muitos daqueles homens haviam adormecido para o mais essencial das suas vidas e da vida do mundo. Estai vigilantes, diz-nos o Senhor no Evangelho da Missa. Despertai, repetir-nos-á São Paulo. Porque também nós podemos esquecer-nos do mais fundamental da nossa existência.
Convocai todo o mundo, anunciai a todas as nações e dizei: Olhai para Deus, nosso Salvador, que chega. Anunciai-o e que se ouça; proclamai-o com voz forte. A Igreja nos põe de sobreaviso com quatro semanas de antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de novo o Natal e, ao mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de Deus feito homem ao mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor: no fim da vida de cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é tempo de preparação e de esperança.
Vinde, Senhor, não tardeis. Preparemos o caminho para o Senhor que chegará em breve; e se notarmos que a nossa visão está embaçada e não distinguimos com clareza essa luz que procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós.
“Irmãos – diz-nos São Bernardo –, a vós, como às crianças, Deus revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos caminhos da salvação. Meditai neles com suma atenção. Aprofundai no sentido deste Advento. E, sobretudo, observai quem é Aquele que vem, de onde vem e para onde vem; para quê, quando e por onde vem. É uma curiosidade boa. A Igreja universal não celebraria com tanta devoção este Advento se não contivesse algum grande mistério”.
Santa Maria, que é a nossa Esperança, ajudar-nos-á a melhorar neste tempo do Advento. Ela espera com grande recolhimento interior o nascimento do seu Filho, que é o Messias. Todos os seus pensamentos se dirigem para Jesus, que nascerá em Belém. Junto dEla, ser-nos-á fácil preparar a nossa alma para que a chegada do Senhor não nos encontre absorvidos em coisas que têm pouca ou nenhuma importância diante de Deus.
“Ó DEUS TODO-PODEROSO, avivai nos vossos fiéis, ao começar o Advento, o desejo de acorrerem ao encontro com Cristo, acompanhados pelas boas obras”.