11 de FevereiroNossa Senhora de Lourdes.Quatro anos depois de ter sido proclamado o dogma da Imaculada Conceição, a Santíssima Virgem apareceu a uma menina de catorze anos, Bernadette Soubirous, numa gruta perto de Lourdes. A Virgem era de tal beleza que se tornava impossível descrevê-la, conta a Santa. Quando, tempos mais tarde, o escultor da gruta perguntou a Bernadette se a sua obra, que representava a Virgem, se assemelhava à aparição, ela respondeu com grande candura e simplicidade: “Oh, não, senhor, de maneira nenhuma! Não se parece nada!” A Virgem é sempre mais bela.

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As aparições sucederam-se durante mais dezessete dias. A menina perguntava à Senhora qual o seu nome, e ela “sorria docemente”. Finalmente, Nossa Senhora revelou-lhe que era a “Imaculada Conceição”.

Ocorreram em Lourdes muitos prodígios nos corpos e muitos mais nas almas. Foram incontáveis as curas, e muitos mais os que regressaram curados das diferentes doenças de que a alma pode sofrer: recuperaram a fé, abriram-se a uma piedade mais profunda e enérgica ou passaram a aceitar amorosamente a vontade divina.

A primeira Leitura da Missa propõe à nossa consideração as palavras com que o profeta Isaías consolava o Povo eleito no desterro, animando-o com a esperança do retorno à Cidade Santa, onde encontrariam o consolo que um filho pequeno encontra em sua mãe. Porque isto é o que diz o Senhor: Eis que eu farei correr a paz sobre ela como um rio, e a opulência das nações como uma torrente que transborda. Sugareis o seu leite, sereis levados ao seu regaço e acariciados no seu colo. Como uma mãe acaricia o seu filhinho, assim Eu vos consolarei…

Ao meditarmos na festa de hoje, vemos como o Senhor quis colocar nas mãos de Maria todas as verdadeiras riquezas que nós, os homens, devemos implorar, e como nos deixou nEla o consolo de que estamos tão necessitados. As dezoito aparições à pequena Bernadette são uma mensagem que nos recorda a misericórdia de Deus, exercida por meio de Santa Maria.

A Virgem mostra-se sempre como Saúde dos enfermos e Consoladora dos aflitos. Ao fazermos hoje a nossa oração, expomos-lhe todas as nossas necessidades, que são muitas. Ela conhece-as bem, escuta-nos sem termos de sair do lugar em que nos encontramos e quer que recorramos à sua proteção. E isto cumula-nos de alegria e de consolo, especialmente na festa que celebramos hoje. Recorremos a Maria como filhos pequenos que não querem afastar-se de sua mãe: “Mãe, minha Mãe…”, dizemos-lhe na intimidade da nossa oração, pedindo-lhe ajuda para todas as necessidades que nos afligem ou nos preocupam.

A Santíssima Virgem também quis pôr de relevo que a humanidade foi redimida na Cruz, e que é atual o valor redentor da dor, do sofrimento e da mortificação voluntária.

Aquilo que, com uma visão puramente humana, os homens consideram um grande mal pode ser, com olhos de bons cristãos, um grande bem: a doença, a pobreza, a dor, o fracasso, a difamação, a perda do emprego… Em momentos humanamente muito difíceis, podemos descobrir, com a ajuda da graça, que essas situações de desamparo são um grande caminho para uma sincera humildade, abrindo-nos os olhos para a absoluta dependência de Deus em que o homem se encontra. A doença, ou qualquer desgraça, pode ajudar-nos muito a desapegar-nos um pouco mais das coisas da terra, a que talvez estejamos demasiado presos, quase sem o percebermos. Sentimos então a necessidade de olhar para o Céu e de fortalecer a esperança sobrenatural, ao verificarmos a fragilidade das esperanças humanas.

A grande prova de amor que podemos dar é aceitar a doença – e a própria morte – entregando a vida como oblação e sacrifício por Cristo, para o bem de todo o seu Corpo Místico, a Igreja. As nossas penas e dores perdem a sua carga de amargura quando se elevam ao Céu. Poenae sunt pennae, “as penas são asas”, diz uma antiga expressão latina. Uma doença pode converter-se em asas que nos elevam até Deus. Como é diferente uma doença que acolhemos com fé, abandono, docilidade e humildade de uma outra que, pelo contrário, recebemos com pouca fé, mal-humorados, magoados ou tristes!

Referindo-se à festa de hoje, o Papa João Paulo II perguntava-se por que pessoas tão diversas se dirigem à gruta onde ocorreram as aparições, e respondia: “Porque sabem que ali, como em Caná, «está a mãe de Jesus»: e onde Ela está não pode faltar o seu Filho. Esta é a certeza que arrasta as multidões que todos os anos – como uma avalanche – se dirigem a Lourdes à procura de um alívio, de um consolo, de uma esperança […].

“A cura milagrosa, no entanto, é, apesar de tudo, um acontecimento excepcional. A potência salvífica de Cristo, obtida por intercessão de sua Mãe, revela-se em Lourdes sobretudo no âmbito espiritual. Nos corações dos doentes, Ela faz ouvir a voz do Filho que dissolve prodigiosamente os tumores da acritude e da rebelião, e restitui a vista aos olhos da alma para que possam ver sob uma luz nova o mundo, os outros, o seu próprio destino”.

O Senhor, a quem a sua Mãe sempre nos conduz, amava os doentes. São Pedro resume a sua vida nestas poucas palavras: Jesus de Nazaré… passou fazendo o bem e curando.

Ele é compassivo e espera da nossa parte que empreguemos os meios ao nosso alcance para sairmos de uma doença ou de uma situação difícil; e nunca permitirá provas que estejam acima das nossas forças. Dar-nos-á em todos os instantes as graças suficientes para que essas circunstâncias dolorosas não nos afastem dEle. Podemos pedir-lhe a cura ou que se resolvam os problemas que pesam sobre nós, mas devemos sobretudo pedir-lhe docilidade à graça, para que nessas circunstâncias – nessas e não em outras – saibamos crescer na fé, na esperança e na caridade.

Recorramos em tudo a Maria. Ela sempre nos atenderá. Alcançar-nos-á o que lhe pedimos, ou conseguir-nos-á graças ainda maiores e mais abundantes para que dos males saibamos tirar bens; e dos grandes males, grandes bens. Seja qual for a nossa situação, experimentaremos sempre o seu consolo. Consoladora dos aflitos, Saúde dos enfermos, Auxílio dos cristãos, rogai por nós…

Vinde em auxílio da nossa fraqueza, ó Deus de misericórdia, e fazei que, ao recordarmos hoje a Imaculada Mãe do vosso Filho, nos vejamos livres das nossas dores por sua intercessão.
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Trechos da meditação diária de Falar com Deus de Francisco Fernandez Carvajal