O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, morreu em um acidente de helicóptero no domingo (19/5), informou a imprensa estatal iraniana.
A aeronave em que ele estava caiu em uma região montanhosa do noroeste do país em meio à forte neblina.
Ele viajava acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, e de várias outras pessoas.
Após uma grande operação de busca e resgate lançada no próprio domingo, o Crescente Vermelho iraniano confirmou nesta segunda-feira (20/5) que os corpos do presidente e de outras pessoas que morreram no acidente foram resgatados.
“Estamos no processo de transferência dos corpos dos mártires para Tabriz [no noroeste do Irã]”, disse o chefe da organização à televisão estatal iraniana.
Inicialmente, foi noticiado que o helicóptero que transportava Raisi e o ministro das Relações Exteriores havia feito um pouso forçado devido a um nevoeiro.
Raisi, de 63 anos, era um clérigo radical próximo do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, de 85 anos — e era visto por alguns como seu potencial sucessor.
Em comunicado divulgado após sua morte, o governo iraniano disse que continuaria a operar “sem interrupções”.
O acidente
O helicóptero — um dos três que viajavam em um comboio — caiu em uma área remota no noroeste do Irã depois de enfrentar dificuldades em meio a uma forte neblina.
Raisi estava voltando do Azerbaijão, onde havia se encontrado com o presidente do país, Ilham Aliyev.
De acordo com a imprensa local, ele esteve lá para inaugurar as barragens de Qiz Qalasi e Khodaafarin, na fronteira com o país.
Vários países ofereceram ajuda na operação de busca e resgate, incluindo a Rússia, o Azerbaijão e a Armênia. A Turquia também enviou uma equipe de resgate para a região montanhosa do Irã.
Antes de a imprensa estatal iraniana confirmar a morte do mandatário, vigílias já estavam sendo realizadas na capital, Teerã — fotos mostram pessoas ajoelhadas em oração.
Repercussão internacional
Vários países prestaram suas condolências.
No Paquistão, o primeiro-ministro, Shehbaz Sharif, decretou um dia de luto nacional. Ele descreveu Raisi e Amir-Abdollahian como “bons amigos do Irã”.
Em postagem nas redes sociais, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, disse que estava “profundamente triste e chocado” com a notícia .
Já o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que seu governo está “em pleno contato e coordenação com as autoridades iranianas” — pronto para “fornecer qualquer apoio necessário”.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, também prestou suas condolências. Segundo ele, o presidente e o ministro das Relações Exteriores eram “amigos verdadeiros e confiáveis de nosso país”.
O presidente da Síria, Bashar al-Assad, manifestou a “solidariedade da Síria com a República Islâmica do Irã e com as famílias e camaradas dos mortos”.
O Irã tem sido um forte apoiador do regime de Assad durante a guerra civil na Síria.
Um comunicado divulgado no site oficial do Hamas diz que o grupo palestino “compartilhava da tristeza e da dor do fraterno povo iraniano” e prestava “nossa total solidariedade” ao Irã.
O Irã — inimigo de Israel desde a Revolução Islâmica de 1979 — passou anos investindo na formação de forças que agem “por procuração” no Oriente Médio, incluindo o Hamas, oferecendo financiamento, armamento e treinamento ao grupo militante palestino.
Outra força “por procuração” do Irã — o Hezbollah, baseado no sul do Líbano — também divulgou um comunicado.
“O Hezbollah no Líbano apresenta suas mais profundas condolências”, diz o texto, acrescentando que o grupo conhecia Raisi “de perto há muito tempo”, e que ele era “um forte apoiador” e “firme defensor das nossas questões… um protetor dos movimentos de resistência”.
O que acontece agora?
A constituição da República Islâmica tem uma solução simples para os casos em que um presidente é incapaz de executar suas funções devido a doença, morte ou impeachment e destituição pelo Parlamento.
Cabe ao vice-presidente — neste caso, Mohammad Mokhber — conduzir a nação e, em conjunto com os chefes do Parlamento e do Poder Judiciário, supervisionar a eleição de um novo presidente no prazo máximo de 50 dias.
Isto só aconteceria com a confirmação do líder supremo, que tem a palavra final em todos os assuntos de Estado no Irã.
Com a confirmação da morte de Raisi, o regime do Irã vai avançar para a realização de tais eleições — uma eleição que provavelmente não suscitará mais interesse entre a população do que a última.
Da última vez, todos os grandes adversários de Raisi foram impedidos de concorrer, abrindo caminho para que ele assumisse o cargo — e a participação eleitoral foi a mais baixa de todos os tempos para uma eleição presidencial.
O governo do Irã nomeou o vice-ministro das Relações Exteriores, Ali Bagheri Kani, como titular interino da pasta, após a morte do ministro Hossein Amir-Abdollahian, que também estava no helicóptero, segundo informou a agência de notícias Reuters.
O anúncio foi feito após uma reunião entre representantes dos Três Poderes do país — Executivo, Legislativo e Judiciário.
Quem foi Ebrahim Raisi?
Ebrahim Raisi era um clérigo radical próximo do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Eleito presidente em 2021, ele era visto como um potencial sucessor de Khamenei, líder supremo do país desde 1989.
O ex-chefe do Judiciário chegou ao poder depois de uma vitória esmagadora nas urnas, em uma eleição na qual muitos candidatos moderados e reformistas proeminentes foram barrados, e a maioria dos eleitores se absteve de votar.
O mandato de Raisi foi marcado por protestos contra o governo que tomaram conta do Irã em 2022.
Ele era considerado um dos presidentes mais conservadores da história recente do Irã.
Quem foi Hossein Amir-Abdollahian?
O principal diplomata do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, também estava no helicóptero que se envolveu no acidente.
Nos últimos meses, à medida que a diplomacia se intensificava em torno da guerra Israel-Hamas, Amir-Abdollahian era a principal voz ao telefone, o rosto na reunião, em contato constante com os aliados do Irã, mas também com os ministros de várias partes do mundo.
Ele ocupava um posto-chave num sistema onde o poder final reside no líder supremo e onde o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) detém o domínio sobre a política externa.
Durante as décadas em altos cargos no Ministério de Negócios Estrangeiros do Irã, Amir-Abdollahian sempre foi conhecido por ter desenvolvido laços estreitos com o IRGC, incluindo com o antigo comandante do grupo, Qasem Soleimani.
Desde que Ebrahim Raisi assumiu a presidência em 2021, Amir-Abdollahian era um viajante frequente, ao visitar capitais de todo o mundo nos esforços para resistir aos movimentos que tentam isolar o Irã.
Ele também buscava encontrar formas de aliviar o impacto das sanções internacionais sobre o país.
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