Prefeito do Rio garante aliança com líderes religiosos após romper com Republicanos, que cogita nomes como Daciolo
Após desfazer a aliança com o Republicanos, partido historicamente ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), trabalha para manter o apoio da denominação evangélica à campanha pela reeleição neste ano. A igreja perdeu espaço no partido para o grupo político do deputado federal Chiquinho Brazão, que chegou a assumir uma secretaria na prefeitura antes de ser preso sob acusação de ter mandado matar a vereadora Marielle Franco. Nesse meio tempo, Paes passou a cultivar relação amistosa com lideranças políticas egressas da Universal, incluindo o ex-prefeito Marcelo Crivella, e abrigou no PSD um dos articuladores políticos da igreja.
No núcleo duro de Paes, a avaliação é de que houve uma espécie de inversão no que até poucos meses atrás era a relação do prefeito com o Republicanos. Antes, ele tinha o apreço da ala política, representada por Brazão, pelo prefeito de Belford Roxo e presidente estadual do partido, Waguinho, e pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que participa de articulações da legenda. Agora, o prefeito do Rio estreitou a relação com a igreja, acenando com mais estrutura partidária do que a ala religiosa vinha tendo no Republicanos.
Para assegurar esse apoio, Paes filiou ao PSD o pastor Deangeles Percy, um dos coordenadores do Grupo Arimatéia, espécie de núcleo político da Universal. Aposta da igreja para se eleger vereador no Rio em outubro, Deangeles chegou a se filiar ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, por detectar um espaço reduzido no Republicanos. Ele afirma que optou pelo PSD, no limite do fim da janela partidária de abril, após um apelo de Paes, que buscava sinalizar uma aliança com a igreja.
— Estamos caminhando para um lado, e o Republicanos, que hoje é autônomo, para outro. Com certeza o prefeito entendeu que nossa chegada (ao PSD) seria interessante para sinalizar que governa para todos, inclusive para os evangélicos — avalia o pastor.
Aliados do postulante à reeleição ainda não têm a dimensão exata do grau de apoio que líderes da agremiação devem dar ao prefeito, mas acreditam que, no mínimo, ele não será alvo de críticas nos templos. Durante o embate eleitoral de 2020 com o então prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), bispo da Universal, o pano de fundo religioso foi marcante, e Paes chegou a classificar o adversário como “pai da mentira” — referência à figura do diabo na Bíblia.
Após o rompimento com Paes, a direção do Republicanos tem soprado nos bastidores a possibilidade de lançar candidatura própria à prefeitura. O próprio Crivella, hoje deputado federal e um dos ventilados, afirma que está à disposição, mas acena com uma espécie de pacto de não agressão.
— O que o partido decidir… eis-me aqui. Mas sem qualquer sentimento de revanchismo contra o prefeito, por quem oro pedindo a Deus que ajude — diz Crivella.
Ao longo da semana, Paes chegou a conversar não só com Crivella, mas também com o presidente do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira, também bispo licenciado da Universal, a fim de evitar arestas depois de romper com o partido.
Atrás do voto evangélico
Outro nome cogitado pelo Republicanos à prefeitura do Rio é o do ex-deputado e presidenciável Cabo Daciolo, que se filiou ao partido neste ano. Um dos entraves, porém, é que a sigla avalia uma aliança com a candidatura de Alexandre Ramagem (PL).
Em busca de um eleitorado muito presente nas camadas mais populares do Rio, Paes tem conquistado o apoio de outros segmentos evangélicos. Entre os mais conhecidos, um exemplo é o da família Ferreira, da Assembleia de Deus em Madureira, que já protagonizou agendas com o prefeito nos últimos meses. Apesar de ligado ao bolsonarismo, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, outro nome relevante no segmento, considera-se “amigo” do prefeito e não deve fazer ataques a ele durante a campanha.
A campanha de Ramagem, por sua vez, aposta na associação ao ex-presidente Jair Bolsonaro para atrair o apoio evangélico e mitigar o efeito de alianças de Paes com pastores. O segmento votou majoritariamente no então titular do Palácio do Planalto em 2022.
Fonte: O Globo