Alan Niven, ex-empresário do Guns N’ Roses de 1986-1991, foi o responsável por manter a banda em atividade mesmo com todo o caos interno vivido naquele período. Niven trabalhou muito para ajudá-los a chegar até o seu auge criativo e não é por menos que de tudo isso saíram os clássicos “Appetite For Destruction” e “Use Your Illusions”.
Em uma entrevista para a Classic Rock, Alan compartilhou algumas memórias da época em que trabalhou com o Guns N’ Roses.
Questionado se ele percebia que Slash era um guitarrista especial e o que havia de diferente nele que fazia com que ele se destacasse dos demais guitarristas, Niven respondeu:
“Quando conheci e ouvi Slash pela primeira vez, havia a impetuosidade da juventude – muita energia e ainda mais notas.
Primeiro pensei que ele poderia estar acima da média dos outros quando perguntei o que ele queria da banda e sobre sua forma de tocar. Ele disse, ‘Quero ser reconhecível’. Ele não estava se referindo a uma cartola, ele estava falando sobre desenvolver um estilo pessoal onde pudesse ser reconhecido. Pense em Santana. Pense em Robin Trower. Pense em Peter Green. Todos têm sua sensação e som Predominantemente determinados por suas mãos esquerdas.
A Guitarra é uma voz para o guitarrista – não é quantas palavras você usa, mas como você entrega as palavras certas com dinamismo e clareza. Grandes oradores sabem quando fazer uma pausa. Grandes músicos reverenciam o espaço entre suas notas. Grandes guitarristas aprendem a manipular uma nota sustentada como representação pessoal.
Slash não disse que queria uma casa, um fluxo infinito de garotas, um Aston Martin. Ele queria desenvolver sua técnica para que tivesse um caráter identificável. Esse é um músico inteligente e especial.”
Sobre a lembrança que ele tem de Slash do período da gravação de “Appetite For Destruction”, ele contou:
“O momento mais memorável foi quando ele quebrou uma SG no para-brisa da van alugada que o Guns usou para chegar ao estúdio — uma indicação clara e óbvia de que ele estava tendo problemas de som. Como você pode encontrar na inter]net, há muitos avisos de como eu encontrei e dei a ele sua guitarra AFD, que, até hoje, ele afirma ser a única guitarra que ele manteria se tivesse apenas uma.
Ele e Mike Clink fizeram um ótimo trabalho juntos. Tendo feito muitas gravações com Michael Schenker , eu sabia que Mike seria paciente, obteria um ótimo timbre e trabalharia na construção de declarações memoráveis e melódicas com Slash. A história prova que minha confiança neles trabalhando juntos estava correta.
Ele era inebriado. Animado. Mas verdadeiramente focado no que estava gravando.”
Durante sua gestão, Alan teve muitos problemas de relacionamento quando trabalhou com os gunners, seja pela rebeldia dos integrantes e a dificuldade que eles tinham de aceitar ordens, ou pelo embate constante com Axl Rose, o mais problemático.
“O Guns consumia muuuuuuuuuuuita da minha energia. Não tenho dúvidas de que o Great White teria um perfil maior se não fosse esse o caso. Levei o Guns das ruas para vender ingressos em Wembley. Não houve gratidão alguma de Axl. Contra quem, de vez em quando, eu tinha que trabalhar. Iz, Slash e Duff às vezes ligavam e diziam ‘você ouviu o que ele quer fazer agora, Niv? Você tem que cortar o mal pela raiz.’
Um exemplo claro é que Axl se recusou a fazer a turnê com o Aerosmith . Ele me disse para cancelar. Eu tinha assinado um contrato com cinco indivíduos conhecidos coletivamente como GN’R. Minha responsabilidade era com o todo, com a entidade, não apenas com o vocalista. Eu recusei. Ele ficou puto. Me baniu da turnê por três semanas, quando todos sabiam que estava indo muito bem e era o ponto alto da carreira da banda.
Tive que mandar policiais ao apartamento dele para arrastar ele e Erin até o Coliseum para se apresentar diante dos Stones. Novamente, ele não ficou feliz, mas acabou sendo um triunfo. Não tenho dúvidas de que ele tem sido um impedimento para outros projetos – a UMG [Universal Music Group] fará qualquer coisa para conseguir algo, qualquer coisa, de Axl, mesmo que isso signifique que eu seja ignorado.
Eles tiraram a energia principal da minha vida e me deram muito pouco em troca – eles ainda me devem pelo processo judicial de Adler e por pagar o empresário dele. Usuários não são amigos. Não são família.”
Questionado se ele ainda mantém contato com Slash, o que ele pensa sobre a reunião e suas expectativas para o novo álbum, ele comentou:
“Slash e eu costumávamos manter contato — ele até veio e tocou em um show beneficente em nossa pequena cidade nas montanhas do Arizona — mas, desde a reunião, nos afastamos. Axl é uma lata de bile ressentida e ingrata, e é melhor esperar que a tampa fique fechada, eu acho. Eu costumava enviar livros para ele ler em turnê — Balzac, Russ Baker, Tolstoi, Colin Wilson, seja lá o que for…
Não tenho interesse em ver a banda novamente – o momento deles foi em 2 de fevereiro de 1988 [a data em que Guns N’ Roses: Live at the Ritz foi filmado]. A turnê do Aerosmith também foi muito boa – tremenda resposta da banda para tremenda resposta do público. Não tenho esperança, ou interesse, em um novo álbum do Guns N’ Roses… as birras da juventude parecem absurdas em um homem de 60 anos. É uma pena que eles tenham sido criativamente impotentes desde 1991.”