João Bosco Penido Burnier era um padre jesuíta que sonhava em ser missionário no Mato Grosso, principalmente junto aos povos indígenas. Andava sempre identificado com trajes religiosos e, naquele dia 11 de outubro de 1976, decidiu acompanhar o Bispo de São Félix na cidade de Ribeirão Bonito para celebrar com o povo a festa de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil.
Durante a festa, Dom Pedro Casaldáliga recebeu informações que duas mulheres estavam sendo torturadas por dois policiais na delegacia da cidade. Imediatamente Pedro e João Bosco foram até o local. Ao ver a situação das mulheres, Dom Pedro tentou conversar com os policiais implorando que estes deixassem de torturar as mulheres, mas eles somente respondiam com ameaças e ainda afirmavam que o lugar de padres era na sacristia.
O padre João Bosco, revoltado com a situação das vítimas que não se resolvia, então lhes disse que iria denunciá-los. Neste momento, um soldado chamado Ezi Ramalho Feitosa lhe deu uma bofetada no rosto e em seguida lhe disparou uma bala com seu revolver diretamente na nuca do padre. O Bispo ainda teve tempo de lhe dar a unção dos enfermos e ouvir as últimas palavras do Pe. João Bosco: «Jesus, Jesus…ofereço a minha vida pelos índios e por este povo sertanejo». E recordando-se de Nossa Senhora Aparecida ainda disse: «Dom Pedro, terminamos a nossa tarefa!».
Logo após a tragédia, o povo, em sinal de revolta pela morte do padre, uniu-se e destruiu a delegacia arrancando as portas e as grades da prisão para que ninguém mais fosse preso injustamente, torturado ou morto. No local, foi colocado uma cruz, que os policiais arrancaram imediatamente. Mas tempos depois, no mesmo lugar, foi construída uma igreja que é popularmente conhecida como santuário dos mártires, que todos os anos passou a ser sede de uma grande manifestação de fé, a romaria dos mártires.
Somente trinta e três anos depois do acontecido, em 2009, o Governo Federal reconheceu que o assassinato do Padre Burnier foi provocado pelo Regime Militar. O policial que atirou no padre jesuíta nunca sofreu nenhum processo porque a Ditadura considerava o fato apenas como um acidente.
Padre Bruno SJ