São Gonçalo encerra atividades do último hospital psiquiátrico da cidade

Rio de Janeiro

Residências terapêuticas recebem os pacientes com supervisão de cuidadores

A Prefeitura de São Gonçalo, através da Secretaria de Saúde e Defesa Civil, encerrou, nesta sexta-feira, as atividades da Clínica Nossa Senhora das Vitórias, no Zé Garoto. Os últimos nove pacientes internados foram transferidos para uma residência terapêutica (RT). A medida é mais um marco para São Gonçalo e para a gestão do prefeito Capitão Nelson, pois significa o fim do manicômio na cidade e o cumprimento da Lei Federal 10.216/2001, nomeada “Lei Paulo Delgado”. A lei trata da proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo de assistência.

A desinstitucionalização dos hospitais psiquiátricos faz parte do Movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Este marco legal estabelece a responsabilidade do Estado no desenvolvimento da política de saúde mental, através do fechamento de hospitais psiquiátricos, abertura de novos serviços comunitários e participação social no acompanhamento de sua implementação.

As RTs abrigam moradores provenientes das clínicas de longas internações, que foram desativadas. Estas residências possuem entre seis e, no máximo, dez pessoas, contam com a supervisão de cuidadores durante 24 horas, coordenador e acompanhante terapêutico para que os moradores possam ter uma vida em sociedade. Só foram para essas casas aqueles que não tiveram como voltar para o convívio familiar.

“Todo este processo de desmobilização das internações em hospitais psiquiátricos busca a retomada da cidadania de usuários e familiares, historicamente discriminados e excluídos da sociedade. É um avanço para a cidade e, principalmente, para os novos residentes, que podem ter uma vida extramuros, com serviços abertos e com dignidade, escolhendo o que comer, onde ir e o que vestir, por exemplo”, explicou o secretário de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo, Gleison Rocha.

São Gonçalo conta com 19 RTs, que abrigam 159 moradores. Elas ficam espalhadas pelos bairros do município: Boa Vista, Gradim, Centro, Amendoeira, Pita, Engenho Pequeno, Trindade, Brasilândia, Zé Garoto, Antonina, Boa Vista, Nova Cidade, Marambaia e Vista Alegre. São casas como de qualquer família: com todos os cômodos e ambientes necessários para o bem-estar de todos.

Nas residências, os moradores recebem um benefício do governo federal e contam com os acompanhantes terapêuticos para os ajudarem nas suas escolhas, já que eles podem ir à rua fazer compras, ir ao médico e ao banco, por exemplo. A manutenção da RT, incluindo a alimentação, é realizada pela Prefeitura de São Gonçalo. Todos os residentes também são cadastrados no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), onde são acompanhados por psicólogos e psiquiatras.

“Todos os pacientes foram preparados para uma saída com autonomia para gerir as suas vidas fora de um hospital. É uma outra realidade que eles passaram a viver. Eles estão com as suas documentações em dia, com benefícios, alguns recebem a visita das suas famílias e convivem com os outros moradores e equipe multidisciplinar. É muito mais dignidade para esses pacientes com alguma doença mental, mas com capacidade de escolhas”, explicou a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Maraísa Coutinho.

Assistência

A partir deste marco da desinstitucionalização, os pacientes psiquiátricos que moram com as suas famílias – quando em crise – terão acesso ao atendimento emergencial no Hospital Luiz Palmier (HLP), no Zé Garoto – unidade referência. E para os atendimentos ambulatoriais de acompanhamento, eles têm os Caps, PAM Coelho e Clínica Municipal Gonçalense do Barro Vermelho.

A emergência psiquiátrica no HLP conta com 19 leitos para internações temporárias até que o paciente esteja estabilizado. Não há mais internação permanente. Nas unidades de atendimento ambulatorial do PAM Coelho e Clínica do Barro Vermelho, as equipes são compostas por psicólogos, psiquiatras adulto e infantil, assistente social e terapeuta ocupacional.

Há também os centros de atenção psicossocial (Caps), que são divididos em três tipos – dois que atendem a população com sofrimento psiquiátrico grave e persistente de um modo geral, outros dois para crianças e adolescentes (Capsi) e outros dois para aqueles que apresentam sofrimento psíquico em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas e desejam diminuir os danos do uso em sua vida diária (Caps Ad). Neles, os usuários contam com equipe multidisciplinar especializada em saúde mental.

Os atendimentos de primeira vez não necessitam de agendamento prévio e acontecem das 8h às 17h. O Caps III do Centro e o Caps AD III de Alcântara funcionam 24h para acolhimento dos usuários. Para as crianças e adolescentes, São Gonçalo tem a Unidade de Acolhimento Infanto-Juvenil (UAI), que funciona no Coelho.

A UAI, diferente das RTs, é um local de passagem para crianças e adolescentes usuários de crack, álcool e outras drogas, que se encontram em situação de vulnerabilidade social e/ou com problemas familiares em decorrência do uso da droga. O encaminhamento é feito pelos Capsis para os casos que possuem perfil. A unidade não é porta aberta.

Endereços dos equipamentos:

Caps Paulo Marcos Costa

Rua Ladislau de Andrade, 44, Mutondo

Telefone: 3856-1390 e 3856-2472

Caps Francisco dos Santos Siqueira 24h

Rua General Antônio Rodrigues, 250, Centro

Telefone: 2607-5960

Capsad

Rua Coronel Serrado, 1.543, Zé Garoto

Telefone: 3705-1554

Capsad Dr. Daniel Gomes da Silva 24h

Rua Augusto Franco, 52, Vila Três

Telefone: 3606-9224

Capsi Zé Garoto

Rua Coronel Serrado, 1.567, Zé Garoto

Telefone: 2605-1909

Capsi Dr. Joaquim dos Reis Pereira

Rua Jovelino de Oliveira Viana, 274, Alcântara

Telefone: 2725-7724

Clínica Gonçalense do Barro Vermelho

Ambulatório Ampliado Nise da Silveira

Rua Heitor Levi, 34, Barro Vermelho

Telefone: 3858-2675

PAM Coelho

Ambulatório Ampliado em Saúde Mental

Rua Cândido Reis, 89, Coelho

Fonte: Prefeitura de São Gonçalo