Campos Neto diz que BC ‘não gosta de juros altos’, nega atuação política e afirma ser contra alterar meta da inflação

Política

Presidente do Banco Central afirmou que é possível conciliar bem-estar social com juros baixos, mas citou necessidade de controlar a inflação. Ele participou do programa Roda Viva nesta segunda-feira (13).

Em entrevista nesta segunda-feira (13), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que a instituição “não gosta de juros altos”, negou atuação política à frente do BC afirmou ser contra alterar meta da inflação.
“O Banco Central não gosta de juros altos. Óbvio que a gente quer fazer o melhor possível para ter o juro baixo. Para ter um crescimento sustentável […] toda a agenda do Banco Central é social […] Então, a gente acredita que é possível fazer fiscal junto com o bem-estar social. Mas a gente acredita que é muito difícil ter bem-estar social com inflação descontrolada”, disse o economista durante participação no programa “Roda Viva”, da TV Cultura.
No início deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano – patamar em vigor desde o início de agosto de 2022.
Esse índice foi alvo de reiterados e duros comentários por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas últimas semanas.
Lula também criticou a atuação de Campos Neto, que foi posto no cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), após recomendação do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

Embate Lula e Campos Neto

▶️ Taxa de juros: Lula demonstrou em entrevistas recentes insatisfação em relação à execução da política monetária atual, de responsabilidade do BC.
“É uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”, disse Lula no dia 6 de fevereiro em um discurso durante um evento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
No dia seguinte, voltou ao assunto em entrevista a veículos de mídia alternativa.
“Não é possível que a gente queira que este país volta a crescer com taxa de 13,75%. Nós não temos inflação de demanda. É só isso. É isso que eu acho que esse cidadão [Campos Neto], indicado pelo Senado, tenha possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar deste país. Ele tem muita responsabilidade”, afirmou.
O Diretório Nacional do PT aprovou uma resolução para propor que Campos Neto explique no Congresso Nacional a política de juros da instituição.
Sobre essa proposta de prestar esclarecimentos, ele disse que sua “função é explicar” e que irá ao Congresso “quantas vezes for necessário”.
▶️ Atuação política: além das críticas às taxas de juros, existe ainda uma percepção entre integrantes do governo Lula de que o BC de Campos Neto age politicamente e não apenas de forma técnica.

Uma fotografia do jornal “Folha de S.Paulo” mostrou que ele fazia parte, pelo menos até 11 de janeiro deste ano, de um grupo de WhatsApp intitulado “Ministros Bolsonaro”.
No programa, Campos Neto foi questionado sobre essa relação com integrantes do governo de Bolsonaro e sobre as críticas recebidas por petistas. Ele admitiu a “proximidade”, mas negou as acusações de atuações políticas.
“Ao longo de quatro anos, você acaba desenvolvendo relações, proximidade com algumas pessoas […] acho que a gente precisa diferenciar proximidade com algumas pessoas de independência de atuação. (…) Se o BC tivesse leniente, fizesse agir politicamente, não teria subido juros [no ano eleitoral].”
Nas eleições de 2022, Campos Neto votou usando uma camiseta amarela da seleção brasileira de futebol.
Ao ser indagado sobre a peça de roupa no programa, ele disse que agora é o momento de “esquecer essas coisas pequenas”:
“Agora é hora da gente se unir e fazer um projeto pelo país, esquecer dessas coisas pequenas”.
▶️ Independência do BC: Recentemente, Lula também classificou a autonomia do Banco Central como uma “bobagem”.
“O problema não é de banco independente, não é de banco ligado ao governo. Problema é que esse país tem uma cultura de viver com os juros altos”, afirmou. “Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia em que a Fiesp [federação da indústria paulista] falava era quando aumentava os juros. Era o único dia […]. Agora, eles não falam”, disse o presidente da República.

Uma lei sancionada por Bolsonaro em 2021 estabeleceu a autonomia do BC. Por essa lei, o presidente e diretores têm mandatos fixos de quatro anos, não coincidentes com o do presidente da República. O de Campos Neto termina no fim de 2024.
Campos Neto afirmou o que BC enfrenta seu “primeiro teste de autonomia” e que, ao longo do tempo, a medida vai gerar benefício.
“Existem vários estudos que mostram que autonomia gera menor volatilidade da inflação e menor nível da inflação.”
Metas de inflação
Nesta semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai se reunir pela primeira vez durante o governo Lula. Cabe ao conselho, por exemplo, a definição da meta de inflação – tema que também tem sido alvo de críticas pelo presidente Lula.
Diante desse cenário, existiam rumores de que o CMN pudesse revisar as metas já estabelecidas. Campos Neto apontou ser contra alterar os índices.
“É importante dizer que nós não estudamos mudança de metas. Não entendemos que a meta é um instrumento de política monetária”, disse nesta segunda (13).
“Acho que se a gente fizer uma mudança agora, sem ter ambiente de tranquilidade e ambiente onde a gente está atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter efeito contrário ao desejado”, completou o presidente do BC.

Em 2023, a meta central de inflação é de 3,25% e será oficialmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
Para 2024 e 2025, a meta foi fixada em 3% e será cumprida se ficar entre 1,5% e 4,5%.
Isso porque existe uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Como o CMN é composto por dois integrantes do governo federal, além do BC (veja abaixo), Campos Neto disse que a definição da meta é feita pelo Executivo:
“Quem define meta é o governo. O Banco Central segue meta que é definida. Ele tem um voto de 3”.
ministro da Fazenda, Fernando Haddad (que também presidente o conselho);
ministra do Planejamento, Simone Tebet;
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O regimento interno do CMN prevê que as decisões são tomadas por maioria simples de votos.

Fonte: G1