Cidade de SP tem um registro de celular roubado ou furtado a cada 3 minutos

Brasil

Foram mais de 200 mil ocorrências na capital paulista em 2022, segundo levantamento exclusivo do Monitor da Violência do g1 a partir de dados do governo do estado. Reportagem do Fantástico deste domingo (26) vai mostrar flagras de assaltos à luz do dia na cidade e outros dados do levantamento.

A cidade de São Paulo registrou mais de 200 mil ocorrências de roubos e furtos de celulares em 2022, o que representa um caso a cada três minutos, em média.
É o que aponta um levantamento exclusivo do Monitor da Violência do g1, em parceria com o Fantástico, feito com base nos dados de boletins de ocorrência disponíveis no site de Transparência da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado.
Os dados apontam que:
Foram feitas 202 mil ocorrências de roubo e furto de celular na capital em 2022.
Esse número representa uma alta de 12% em relação ao ano de 2021, quando foram feitas 179 mil ocorrências.
Uma parte considerável dos casos acontece na região Central da cidade. Os distritos policiais dos Campos Elíseos e Sé lideram o ranking do maior número de registros, com 11,4 mil e 10,2 mil, respectivamente.
A via da capital menos segura para os donos de celulares foi a Avenida Paulista, que teve 5,3 mil registros de roubo ou furto no ano.
A Paulista, inclusive, tem quase o dobro de casos que a segunda colocada, a Avenida do Estado (2,9 mil).
3 a cada 10 casos acontecem no período da noite.

Embora altos, os números não refletem necessariamente o cenário real com precisão, já que muitas vítimas não registram boletim de ocorrência.
Além disso, os dados se referem a ocorrências de roubos e furtos, e não à quantidade de celulares roubados. Como é possível que mais de um celular tenha sido roubado ou furtado por ocorrência, o número de aparelhos é mais alto que o número de registros.
O g1 publica nesta noite, durante o Fantástico, a lista completa dos endereços com mais ocorrências de roubos e furtos de celulares, bem como o mapa completo da cidade de São Paulo por região. A reportagem também vai mostrar flagras exclusivos dos assaltos a luz do dia no Centro da cidade.
Na segunda, o g1 vai publicar as marcas de celulares mais roubadas.
O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do g1 com o Núcleo de Estudos da violência da USP (NEV-USP) e o FBSP.
Queda durante a pandemia
Os dados apontam que o número de ocorrências caiu em 2020 e em 2021, anos marcados pela pandemia e por medidas de isolamento social. Mas o crime voltou a crescer no ano passado, com a volta das pessoas às ruas.

Outro fato também pode estar por trás do aumento de mais de 12% nas ocorrências em 2022: a crise econômica, como diz Marcelo Batista Nery, coordenador de Transferência de Tecnologia do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP.
“O aumento está ligado à crise econômica, que diminuiu o acesso à renda e ao trabalho. [Também causou] o aumento da desigualdade social”, diz Nery.
Período do dia
Os dados ainda apontam o período do dia em que os crimes aconteceram. Em grande parte dos registros (40,5 mil, ou 20%), esta informação consta como “hora incerta”. Mas, entre os casos em que o horário é notificado de fato, uma grande parte acontece no período da noite (31,6%).

Veja os dados abaixo:

Período em que crimes acontecem
Veja a distribuição das ocorrências de furtos e roubos de celulares em 2022, na capital paulista, por período do dia

População vulnerável e dinâmicas criminais
Segundo Nery, um fator importante a ser considerado diante de tantos casos de roubos e furtos de celulares na cidade é o combate a quem faz a receptação dos aparelhos roubados.
“O objeto tem um valor em si, mas não podemos esquecer que, hoje, existe tecnologia de desbloqueio de celular que torna as pessoas vulneráveis a empréstimos e transferências de valores”, diz Marcelo Nery, do NEV-USP.
Segundo o pesquisador, é possível dizer que as forças de segurança estão falhando em proteger a população, mas que é importante considerar também as dinâmicas criminais da cidade e outros fatores sociais.

“As forças de segurança têm um papel fundamental. É possível identificar os lugares em que, em certos momentos, há maior recorrência de um certo tipo de crime. Uma vez que se tem esse conhecimento, é possível fazer uma ação de segurança pública mais eficiente”, diz.
“Entretanto, a gente não pode esquecer que cada crime tem uma natureza diferente, um modus operandi diferente, que requer uma política de segurança específica para ser eficaz. Infelizmente, diante da dinâmica não só de segurança pública, mas do sistema de Justiça, de educação e vários outros fatores, seria simplista dizer que apenas as forças de segurança estão falhando. Mas elas são um elemento fundamental dentro dessa equação.”
O que diz a Polícia Militar
A Polícia Militar de São Paulo afirmou que conseguiu reduzir em 25% o número de roubos e furtos de celular nos primeiros dois meses deste ano quando comparado ao mesmo período de 2022. De 30.629, em janeiro e fevereiro do ano passado, para 22.939, no primeiro bimestre de 2023.
Em entrevista ao Fantástico, o comandante-geral da PM de SP, coronel Cássio Freitas, disse que a corporação tem aumentado o número de operações de combate aos roubos e furtos de celular e prisões, além de intensificar o trabalho de inteligência.

Ele afirmou que a PM prendeu, ao todo, mais de setecentas pessoas neste 2023 e mais de 10 mil ao longo de 2022, mas não especificou por quais crimes.
O coronel afirmou que a concentração de roubos e furtos de celular no Centro tem relação proporcional ao grande número de pessoas que circulam na região: “Só aqui no centro de São Paulo você tem uma entrada e saída dia o equivalente a um Uruguai por dia, que você tem quase quatro milhões de pessoas circulando por aqui”, disse.
Questionado sobre os flagrantes feitos pela reportagem de roubos frequentes pelos mesmos ladrões nos mesmos locais, o comandante-geral da PM de SP apontou a reincidência criminal como um dos motivos. “Nós temos diversos casos de de indivíduos que foram presos mais de cinco, seis, dez… O nosso recorde é de treze vezes. Isso é muita coisa. Então, a reincidência criminal ela contribui muito para esse estado de coisas.”
Cássio Freitas mencionou ainda o Programa de Vizinhança Solidária (PVS) como uma alternativa gratuita e efetiva para a colaboração da população com a polícia nos casos de roubos e furtos. O programa consiste em formar grupos de vizinhos que se comunicam com a polícia por meio de um aplicativo de conversa, informando sobre situações suspeitas e contribuindo com informações qualificadas para as autoridades policiais. Cerca de 47 mil pessoas participam desses grupos em todo o estado de São Paulo.

Metodologia do levantamento
Os dados apresentados nesta reportagem foram coletados na página de Transparência da Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo. Para chegar aos números finais, foram analisadas 12 planilhas de cada tipo de crime (roubo e furto) nos anos de 2019, 2020, 2021 e 2022, totalizando 96 planilhas, com mais de um milhão de linhas.
Os dados, então, foram analisados com a linguagem de programação Python. Seguindo instruções da SSP, foram retiradas as duplicadas com base nas colunas DELEGACIA_CIRCUNSCRICAO, NUM_BO e o ano do registro de ocorrência, retirado da coluna DATAELABORACAO.
Em caso de crimes em que havia registro de roubo e furto no mesmo BO, foi selecionado somente o roubo, crime de maior gravidade, também seguindo instruções da SSP.
Em seguida, foram selecionados os dados da cidade de São Paulo ou das outras cidades do estado.
Cerca de 80% da base de 2022 da cidade de São Paulo continha a informação de latitude e longitude, o que permitiu a elaboração de mapas mostrando os registros dentro da cidade.
Foram notadas pequenas falhas na base, como quantidade de celulares com número quebrado (este dado não foi usado) e delegacias de outras cidades localizadas dentro de SP. Esses erros foram informados à SSP e não impactaram na análise, já que eram residuais.

Há ainda a possibilidade de os dados divergirem minimamente dos números internos da SSP, já que as informações da secretaria passam por uma auditoria, que pode requalificar o registro de um furto ou roubo como outro crime, após investigação.

Fonte: G1