Gerente de barricadas: entenda o ‘cargo’ e em quais favelas as barreiras são mais comuns

Brasil

‘Negócio foi ficando cada vez mais detalhado, rebuscado, diversificado’, explica delegado. Bandidos usam jacarés, trilhos, pneus, ônibus e até caixa d’água para tentar bloquear o acesso da polícia a comunidades.

A Polícia Civil investiga os chamados gerentes de barricadas, que instalam bloqueios nas comunidades do Rio para dificultar o acesso da polícia.
De acordo com as investigações, na Vila Aliança, onde o traficante Peixe foi preso, os criminosos encontraram formas de “aperfeiçoar” as estruturas, para impedir a entrada da polícia.
Para o delegado Marcus Amim, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a nova função é uma consequência da “diversificação de atividades do tráfico de drogas” em várias regiões.

“O negócio foi ficando cada vez mais detalhado, rebuscado, diversificado, e você precisa de alguém destacado para tomar conta daquela atividade. Existe no Salgueiro, existe na Penha”, disse o delegado.

Os responsáveis por gerenciar as barricadas, de acordo com a Polícia Civil, muitas vezes delegam a montagem dos bloqueios aos soldados do tráfico.

Outros ficam encarregados de estudar o terreno — quanto mais plano, melhor — e organizar os obstáculos. Na Vila Aliança, por exemplo, há muitas barricadas porque as ruas e avenidas são largas e de mais fácil acesso.
Na Maré, onde o acesso é mais difícil, a quantidade de barricadas é menor, de acordo com policiais ouvidos pelo g1.

Na Vila Aliança, onde o terreno é plano, criminosos usam diferentes tipos de materiais para dificultar a passagem dos agentes e veículos das forças de segurança:
Jacarés – pedaços de ferro com lanças pontiagudas
Pedaços de trilhos
Pneus incendiados para tornar metais incandescentes
“Eles aperfeiçoaram as barricadas. Barricadas com jacarés e trilhos, e com pneus que eles ateiam fogo na aproximação da polícia para os trilhos não serem retirados na passagem dos blindados. Tem também barricadas móveis com ônibus e caminhões sequestrados e colocados nas comunidades pra obstruir as equipes policiais”, explicou o delegado chefe do Departamento Geral de Polícia Especializada, Felipe Curi, em coletiva de imprensa após a prisão de Peixe.

Os gerentes de barricadas também são citados em casos de sequestros de ônibus em várias regiões do Rio. Muitos veículos são utilizados como obstáculos.
Em fevereiro, o RJ2 mostrou em uma série de reportagens que, além de atrapalhar o trabalho das forças de segurança, as barreiras impedem que obras de melhoria para os bairros sejam executadas pelas autoridades.

Na Cidade de Deus, na Zona Oeste, uma rua foi fechada com entulhos e uma caixa d’água.
Na Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte, bandidos abriram valas no asfalto. Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, uma rua foi fechada com espécie de jardineira que tem até plantas.

Em Brás de Pina, na Zona Norte, cones foram colocados por cima de ferros fincados no asfalto. Os bandidos também usam trilhos de ferrovias.

E no Complexo de Israel, na Zona Norte, uma rua inteira foi fechada com um muro.
A série de reportagens do RJ2 mostrou ainda que, em comunidades de São Gonçalo, na Furquim Mendes (Zona Norte) e em Rocha Miranda, há barricadas feitas com barris com concreto enterrados, uma vala com vergalhões à mostra e até um muro com buracos projetados para que criminosos coloquem fuzis.
Um levantamento do Disque Denúncia feito a pedido do RJ2 mostrou que, em 2022, foram feitas 10.464 denúncias sobre barricadas em todo o estado do Rio — a maioria no Rio (veja os percentuais abaixo).

O número de denúncias foi no mesmo patamar de 2019, após uma queda durante os anos da pandemia de Covid-19. A maioria das denúncias (97%) é de barricadas instaladas por traficantes, enquanto 3% seriam de milicianos.

Fonte: G1