As não renovações nos contratos de estrelas e astros da dramaturgia fez a Globo entrar em um processo complicado.
As não renovações nos contratos de estrelas e astros da dramaturgia fez a Globo entrar em um processo complicado: assim como uma dona de casa que não vai ao mercado, fica com a geladeira vazia e precisa correr para colocar comida na mesa.
Em busca de novos rostos e também por adotar uma política de reestruturação que prioriza economizar com a folha de pagamento fixa, a Globo está cada vez mais sem opção de talentos à disposição.
O processo vem acontecendo há pelo menos dois anos, mas somente agora isso se reflete no que está no ar. Todo dia é só entrar nas redes sociais para ver milhares de críticas ao que é apresentado ao telespectador.
Diga-se de passagem, o noveleiro é um consumidor exigente, que não aceita queda de qualidade nem produto com defeito.
As novas apostas de protagonistas não estão emplacando como deveriam. São intérpretes em ascensão, que muitas vezes pagam um preço alto por erros cometidos em outras etapas do desenvolvimento e da produção dos folhetins.
Há dez anos, ninguém imaginaria que isso ia acontecer. A Globo tinha um elenco enorme, cheio de medalhões para recrutar para a batalha que é oferecer tramas que agradem e emocionem quem está em casa.
Na parte de criação, antigamente, tinha fila de autores tarimbados à espera de colocar projetos já aprovados no ar.
A estratégia adotada pela empresa, que sempre priorizou qualidade, apresenta problemas justamente nesse quesito: a criação. A fábrica de fazer novelas, produto exportado e reconhecido no mundo inteiro, passa por uma crise.
São os autores que sempre tiveram que carregar o peso maior dessa estrutura toda nas costas. E a emissora abriu mão de vários novelistas experts.
Nenhuma das três novelas que estão no ar chega perto das metas estabelecidas e que eram atingidas até o começo da pandemia da Covid-19.
Aliás, mesmo com as reprises no horário nobre entre março de 2020 e novembro 2021, a audiência da líder na TV aberta não tinha quedas tão representativas como as ocorridas no final do ano passado e deste ano.
Pantanal (2022) é uma novela fora dessa curva. Mas praticamente foi a única trama que pode-se dizer que foi um sucesso este ano.
Há quem goste e quem não curta a trama adaptada por Bruno Luperi, mas a grande repercussão e o fato de atingir a meta mínima de 30 pontos no PNT (Painel Nacional de Televisão), indicador que aponta os números de audiência das 15 maiores regiões metropolitanas do país, não deixam dúvida do saldo positivo.
Além da Ilusão (2022) tem seu méritos, um novela redondinha, mas nada surpreendente, principalmente em termos de repercussão, como o remake da história da mulher-onça.
Ao avaliar motivos pelos quais as novelas não estão agradando, é válido lembrar que em busca de aquecer a programação, mudando em cima da hora horários de exibição, as novelas são prejudicadas.
Teve ainda uma decisão que é questionável na faixa nobre, já que Travessia está em baixa. A trama que deveria estar no ar era Todas as Flores, só que a direção de dramaturgia resolveu executar uma proposta inédita.
Passá-la para o Globoplay e lançá-la quase simultaneamente com o folhetim escrito por Gloria Perez. A fuga da audiência, que já era uma realidade, ganhou um ingrediente a mais.
Todos esses pontos listados precisam ser reavaliados pelos executivos da emissora. Os lucros podem mostrar que é um bom negócio a nova política adotada, mas deixar as estrelas livres para brilhar na concorrência ou colocar seus folhetins para disputarem entre si não apresentam um bom resultado para quem está sentado no sofá e só quer se apaixonar por uma boa novela, bem escrita e com show de atuações.