O ex-diretor do Núcleo de Humor da TV Globo Marcius Melhem nega que tenha assediado a atriz Carol Portes. Ele também afirma que os dois tiveram apenas um beijo “consensual” por cinco minutos.
Sobre as mensagens que enviou para a atriz, diz que tiveram um “flerte”. Ainda afirma que a ajudou dentro da TV Globo, inclusive com a renovação de contrato, e que, no período em que ela o acusa de ter prejudicado seu trabalho devido a negativas a suas investidas, ele arrumou participações para ela em programas da emissora.
O UOL encaminhou as perguntas por email para a assessoria de imprensa do humorista. As respostas estão como ele mesmo respondeu.
UOL – A atriz Carol Pontes diz que Marcius Melhem tinha costume de “sarrar” o pênis dele em atrizes e atores nos corredores da emissora. Melhem gostaria de responder?
Marcius Melhem – Isso é absolutamente mentiroso. Atrizes do “Zorra Total” desmentiram isso na delegacia. E as demais atrizes do “Tá no Ar” não têm esse relato. Nem sequer Georgiana [Góes] e Veronica [Debom], que também me acusam, narram qualquer coisa nesse sentido.
Alguma coisa muito profunda acontece, que não sou capaz de compreender, para que Carol use boa parte da argumentação também inventada de Dani Calabresa. A tentativa de estabelecer um padrão que não se sustenta: imprensar numa parede, “sarrar” nos corredores. Não faz sentido ninguém ter visto isso e não condiz com a relação que eu e Carol tivemos depois, fora a enorme quantidade de contradições.
Mensagens entre a atriz e Melhem mostram ele sugerindo pagar a ela com “noites de sexo” após ela anunciar que iria sair de uma peça para se dedicar ao “Tá no Ar”. Melhem, que em depoimento à polícia disse que ela era subordinada a ele, não considera que a linguagem e o comportamento eram inapropriados e já poderiam causar constrangimento?
Em 2014, essa mensagem entre nós estava totalmente dentro do nosso contexto de brincadeiras da época. Ela inclusive responde: “Cobrarei”.
Também é importante dizer que ela não era minha subordinada. Eu não era chefe dela. Era redator final, com ascendência sobre a redação. Embora no programa eu tivesse uma importância maior, não há dúvida. Me tornei responsável pelo humor em outubro de 2018.
Vi no depoimento que Melhem deu à polícia que ele disse que teve um “relacionamento de uma noite” com Carol. O que seria um relacionamento de uma noite?
Nós nos beijamos por menos de cinco minutos numa noite.
Mensagens entre a atriz e Melhem em 27 de novembro de 2014 mostram Melhem pedindo para ir tomar banho na casa da atriz antes de uma festa no apart-hotel de Adnet. Carol Portes denunciou que nesse dia Melhem saiu do banho só de toalha e a agarrou à força. Melhem nega que tenha sido à força?
Essa foi justamente a noite em que ficamos, consensualmente, por cinco minutos, no máximo. Nós só nos beijamos e de forma alguma foi à força. E eu não saí só de toalha do banheiro. Mais uma vez ela assume uma narrativa parecida com a de Dani Calabresa. Este fato nunca existiu.
Antes de Melhem chegar, mensagens de Carol para a atriz Renata Gaspar mostram que ela insistiu para que Renata fosse ao seu apartamento porque não queria ficar sozinha com Melhem. Melhem tem conhecimento disso?
Não tenho. Só tenho conhecimento de que nos paquerávamos com todo o cuidado e receio, pois ambos éramos casados à época.
Dois dias depois do episódio de 27 de novembro de 2014, Melhem envia uma mensagem para Carol perguntando: “Quer visita? #japassouoconstrangimento?”. Por qual razão ele escreveu essa mensagem?
Justamente pelo fato de sermos ambos casados, Carol me disse que tinha ficado envergonhada de me beijar. Era constrangimento nesse sentido, de vergonha por sermos casados. Só isso.
Você alega que o #japassouoconstrangimento era porque vocês eram casados. Carol afirma que estava separada. Você gostaria de comentar?
Com certeza é porque não éramos dois solteiros. Minha lembrança é que havia uma crise entre ela e o marido, mas o casamento continuava. De todo modo, eu era [casado]. E minha mensagem fala sobre ela ter ficado envergonhada por não sermos dois solteiros e com medo de que alguém na festa notasse que tínhamos nos beijado.
Em 14 de abril de 2015, também existem novas mensagens de Melhem se oferecendo para ir ao apart dela com barco japonês e Carol recusa. Ele chega a escrever: “Tenho ótimas intenções !!!”. Ela diz: “Eu sei”. Por fim, Melhem acrescenta: “Mas você resiste”. Carol avisa que a bateria vai acabar e Melhem ainda ressalta: “Pena”. Ao final, a atriz diz: “Pára vai” e ele responde: “Ok parei”. Melhem não considerava que o comportamento pudesse ser considerado assédio?
Em 2015, num contexto de flerte, em que ela dizia que queria, mas não tinha coragem, eu não considerava (e ainda não considero) que alguém que dizia querer estava se sentindo assediada. Porém, quando ela usa a palavra “para” e eu respondo “parei”, eu parei mesmo.
E dali pra frente desenvolvemos uma amizade cada vez maior. Ficamos próximos a ponto de eu ser o primeiro a saber na equipe que ela estava grávida. A ponto de ela me chamar pra jantar, pra conhecer a filha recém-nascida; a ponto de me dizer “te amo” várias vezes.
Fui ao casamento dela, rimos juntos e dividimos suas dores e alegrias por vários anos. Até hoje tudo virar uma outra narrativa.
Em seguida, começam a existir mensagens de Carol reclamando sobre a falta das gravações. Ao olhar todas as temporadas de “Tá no Ar”, é possível perceber a ausência de protagonismo dela, com redução de papéis, com boa parte das cenas em 2018 e 2019 serem sem falas. O então diretor de Núcleo, Maurício Farias, também notou isso e disse ao UOL que, em 2014, Melhem se queixava da disponibilidade da atriz, depois passaram a dizer que ela tinha difícil convivência. Farias nega qualquer problema com Carol. Por qual razão ela perdeu espaço no programa?
Essa narrativa de um boicote meu por pura maldade não faz o menor sentido. Eu explico isso nos vídeos do meu canal e explico à Justiça com quilos de fatos e provas de que eu só tentei estimular que ela tivesse trabalho e sucesso na carreira. É uma visão maldosa que, além de não ficar de pé, tenta tirar dos diretores a responsabilidade pelo tamanho de uma atriz no elenco. Como se a escalação dela fosse da minha inteira responsabilidade. Uma maldade desmontada ponto por ponto. Chego a provar que pedi emprego pra ela em outros programas por medo de que ela ficasse sem contrato. Coloquei ela num projeto para 2020 para que ela renovasse por três anos. O que foi feito. Eu saio da Globo em 2020. Ela sai no fim de 2022 por essa minha atitude, que posso provar. Uma maldade sem tamanho esse personagem que tentam criar.
O diretor de Núcleo Maurício Farias relatou que ouviu reclamações de Melhem sobre Carol e questionou sobre a ausência dela no programa. Como isso ocorreu?
Isso é uma absoluta mentira. Maurício quer escapar da sua responsabilidade sobre a escalação. Foram seis temporadas em que a direção revisava todas as escalações. Ele nunca notou o tamanho de Carol Portes no programa? Ele não dirigia nem via o próprio programa por seis anos? Gostaria que Maurício apresentasse uma única mensagem das nossas centenas de comunicações em que ele manifesta a opinião de que o tamanho de Carol estava errado no programa.
A exposição e a contagem de cenas permitem ver a redução da participação de Carol Portes ao longo do “Tá no Ar”. Por qual razão ela perdeu espaço para outras atrizes?
Por um processo natural de qualquer programa, novela ou série: atrizes que vão se destacando mais, vão ganhando mais espaço. Isso não significa que Carol não tinha talento. É uma boa atriz e comediante. Mesmo assim considero que Carol tinha um bom espaço e fez um bom trabalho, adequado ao tamanho que redação e direção viam como justo. Tentar mais uma vez a narrativa de retaliação por anos e anos é ignorar os fatos para buscar um nexo causal.
Fonte: UOL