Lula cita ditadura e diz que democracia venceu ao entregar prêmio a Chico

Política

O presidente Lula (PT) citou a luta contra a censura na ditadura militar ao entregar o Prêmio Camões ao compositor e escritor Chico Buarque e disse que a cerimônia, com quatro anos de atraso, “corrige um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira”.

O petista entregou o Prêmio Camões, maior honraria literária da língua portuguesa, a Chico Buarque em Portugal. O título havia sido concedido em 2019, mas foi vetado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se recusou a assinar o documento que chancelava a premiação.

Sem citar Bolsonaro, Lula disse que “o ataque à cultura em todas as suas formas” foi parte de um projeto que a “extrema direita” tentou implementar no Brasil. Ele reafirmou, no entanto, que “a democracia venceu”.

Lula e Chico são amigos desde os anos 1980. O músico apoiou todas as seis campanhas a presidente do petista, incluindo gravação de jingle e presença em comício no ano passado.

O presidente também ressaltou que “o obscurantismo e a negação das artes” foram marcas do totalitarismo e das ditaduras “que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal”. “Esse prêmio é uma resposta do talento contra o censura, do engenho contra a força bruta”, disse Lula.

Criado em 1988, o Prêmio Camões de Literatura visa homenagear a autora ou autor de língua portuguesa que tenha “contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural” do idioma.

“É uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos. Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019, e não foi. Todos nós sabemos por quê. O ataque à cultura, em todas as suas formas, foi uma dimensão importante do projeto que a extrema direita tentou implementar no Brasil. Se hoje estamos aqui é porque, finalmente, a democracia venceu no Brasil.”

Em seu discurso, Chico Buarque disse que valeu a pena a espera de quatro anos e “agradeceu Bolsonaro” pela “rara fineza” de “não sujar o diploma” de seu Prêmio Camões.

Ele também fez piada com a gravata que vestia, “emocionado por sua mulher ter ido comprá-la logo cedo”, numa ironia às críticas da oposição a Janja por ter ido a uma loja de luxo durante a viagem.

“Quatro anos de um governo funesto, duraram uma eternidade. Foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás.”Chico Buarque, escritor e compositor, ao receber o Prêmio Camões.

Chico Buarque e Lula são amigos pessoais. Quando o escritor foi laureado, em 2019, Lula enviou uma carta de felicitações —também dizem que a esposa do músico, a advogada Carol Proner, foi uma das responsáveis por apresentar a primeira-dama Janja da Silva ao petista.

O compositor também é um dos mais célebres e fiéis apoiadores do petista. Ao lado de Gilberto Gil e Djavan, Chico gravou o single da primeira campanha presidencial de Lula (“Sem Medo de Ser Feliz”) e deu seu rosto e voz durante todas as outras campanhas.

No ano passado, subiu ao trio elétrico de Lula em Belo Horizonte, onde se apresentava, logo após o primeiro turno. Vou repetir algo que disse em torno de 50 anos: amanhã vai ser outro dia.”Chico, em comício de Lula, em outubro.

Fonte: UOL