Trabalho de Diniz no Fluminense e na Seleção pode dar certo? Quais os riscos?

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Técnico foi anunciado pela CBF na última terça-feira como técnico interino por um ano

Anunciado oficialmente pela CBF na noite da última terça-feira como técnico interino do Brasil por um ano, Fernando Diniz vai acumular o comando do Fluminense e da Seleção, sendo liberado apenas nas Datas Fifa. Algo que não é inédito, mas incomum

As últimas vezes que aconteceu foi no segundo semestre de 1998, quando Vanderlei Luxemburgo dirigiu a equipe nacional paralelamente ao Corinthians, que foi campeão brasileiro naquele ano, e nos últimos meses de 2000, quando Emerson Leão se dividiu entre a Seleção e o Sport, que chegou até as quartas de final da Copa João Havelange (o Campeonato Brasileiro daquele ano).

Mas como os tempos são outros, o ge perguntou a opinião de comentaristas do Grupo Globo: conciliar os cargos na era moderna pode dar certo? Quais são os riscos? Os prós e contras do trabalho dividido, tanto para o Fluminense quanto para a Seleção? Veja as respostas abaixo:

Carlos Eduardo Mansur

  • Eu acho mais uma etapa de um processo, vamos dizer, heterodoxo demais. Como o futebol permite tudo, esse processo pode dar até ótimo resultado, mas acho que o caminho que está se escolhendo é muito perigoso. Por várias razões. Primeiro: eu acho que é quase inviável conciliar dois trabalhos no futebol atual. Hoje a quantidade de dados e de informações que dispõe uma comissão técnica, para tomar cada etapa do seu processo de decisão, é muito grande. Um treinador hoje trabalha muitas horas por dia para cuidar de um time. Como conciliar isso com ver jogos, analisar dados, de jogadores espalhados pelo mundo, para tomada de decisões? Algum dos dois trabalhos ficará desassistido.
  • Eu acho complicadíssimo conciliar dois trabalhos com excelência. Seja o Diniz ou qualquer outro profissional. O Diniz é um ótimo nome até para ser técnico da Seleção se for definitivo, não vejo nada que o descredencie, mas eu não acredito na capacidade de conciliar. Esse é um ponto. Aí vamos passar para outro tipo de discussão: a CBF tinha dito que não iria atrapalhar um clube no meio da temporada. Não há como dizer que o Fluminense não será atrapalhado. Primeiro porque nos dias de Seleção os outros rivais dele estarão treinando com os seus treinadores, e o Fluminense não. Outro ponto: há jogos do Campeonato Brasileiro nos dias seguintes às Datas Fifa esse ano. O Fluminense não terá o seu treinador na preparação para esses jogos.
  • E aí a gente vai para um possível conflito ético: imagina que o Diniz entenda em uma convocação dessas que por exemplo não merece a convocação o André. E aí eventualmente convoca um jogador, fazendo de boa fé, um jogador do adversário do Fluminense após a Data Fifa. Que mensagem isso passa ao campeonato sob o ponto de vista do conflito de interesse? Não é uma mensagem positiva. Então é muito claro que não é adequado esse tipo de conciliação. Veja, não há nenhuma perspectiva que o Diniz faça algo propositalmente para ajudar um ou outro, apenas que é inerente ao processo. Ele vai ter que tomar decisões e vai estar condicionado a tomar mostrando para as pessoas que não está sendo parcial para um dos lados. Isso já atrapalha, já contamina o processo de alguma maneira.
  • E tem uma outra questão importante: qual a compatibilidade de visões de futebol entre o Diniz e o Ancelotti? O Diniz tem um jeito muito específico de pensar o jogo, então nada indica que isso vai representar um avanço na seleção brasileira iniciando o seu ciclo para a Copa do Mundo. De todo modo, o ciclo vai ficar suspenso esperando a chegada do Ancelotti. Porque em termos de construção tática muito pouco vai ser aproveitado porque são duas visões de jogo muito distintas. Não creio que exista uma compatibilidade de jogo entre ambos, nada indica isso.
  • Foi uma decisão muito estranha. Não faz o futebol brasileiro dar passos em formar a Seleção para a Copa, não tira o nosso atraso, embora sejam dois nomes muito competentes, tanto o Ancelotti quanto o Diniz. Só que essa transição eu não vejo como transição, vejo como dois trabalhos que não vão dialogar.

Conrado Santana

  • Gosto muito do trabalho do Fernando Diniz, mas não consigo ver nada de positivo ele conciliar o cargo de interino da Seleção com o Fluminense. Ruim pro Fluminense e também para a seleção brasileira. Algum dos dois trabalhos ele não vai conseguir realizar da melhor maneira. Possivelmente os dois!
  • O Fluminense, inclusive, vive um momento ruim e precisa do seu técnico 100% focado para voltar ao melhor futebol, principalmente na loucura do calendário brasileiro. Os técnicos vivem dizendo que “não se tem tempo para nada”. E ainda vai cuidar da seleção brasileira no meio disso tudo?
  • Ele vai abdicar de algum tempo no Fluminense para acompanhar jogadores brasileiros pelo mundo pensando em uma convocação justa? Ou vai focar no Fluminense e depois convocar em cima da hora sem trabalhar muito nisso? E o tempo de treinamento com o Fluminense que ele vai perder a serviço da Seleção?
  • Sem falar na convocação que terá um conflito de interesse direto. Convocar e valorizar atletas do Fluminense? Não convocar e não valorizar os jogadores de um rival? E se convoca de outro clube e desfalca um time que pode acabar favorecendo o Fluminense? Como isso vai ser tratado pelas torcidas? Recentemente o Palmeiras reclamou muito de perder jogadores para Data Fifa em rodada do Brasileirão. Olha o problema só para fazer uma convocação.
  • E ainda tem a questão dele ser apenas interino para a (possível) chegada de Carlo Ancelotti. Não seria interessante um interino indicado pelo italiano com estilo e ideias parecidas para uma continuidade de trabalho melhor? Só consigo ver a CBF completamente perdida e tomando as piores decisões sobre o comando da Seleção mais importante do mundo.

Cabral Neto

  • A CBF conseguiu transformar boas ideias em más decisões. Diniz seria um bom nome para a Seleção, Ancelotti seria uma grande contratação, mas a forma como a entidade lidou com essas duas negociações apontam para uma direção de futebol sem orientação, sem rumo, tomando decisões em ritmo de urgência para diminuir o constrangimento do atraso.
  • Um outro ponto relevante: se Ancelotti vai assumir a Seleção no próximo ano, seria mais inteligente ter um treinador que trabalhasse com as ideias do técnico italiano, com conceitos parecidos e que algum legado fosse criado para diminuir os danos do período perdido. Além de não obrigar a equipe a fazer uma guinada no jeito de jogar futebol, sabendo que essa profunda mudança será desfeita em um ano.

Pedro Moreno

  • Embora goste da escolha de Fernando Diniz para o comando da Seleção, tenho muita dificuldade para encontrar aspectos positivos nessa conciliação de trabalho entre Fluminense e Seleção. E, sem dúvidas, o Tricolor é a parte lesada da história.
  • Para a Seleção, encontra-se um ótimo nome para esquentar a cadeira de Ancelotti (se é que realmente virá). Os estilos e convicções em torno da forma de jogar são bem distintos, mas Diniz tem qualidade suficiente para agregar nessa transição
  • Mas e o Fluminense? Embora a diretoria insista que não haverá interferência, o clube, por exemplo, não contará com seu treinador por cerca de 10 dias, nos períodos de cada Data Fifa. Sem contar os períodos em que precisará assistir a outras ligas e observar dados de outros jogadores, visando as convocações da Seleção. Mais que surpreendente, é inexplicável o Flu aceitar dividir o seu treinador.

Fonte: Ge